Olívia
O jantar termina como tantos outros: em silêncio, com mastigações contidas e olhares desviados. Brandon se levanta da mesa com a mesma indiferença de sempre, caminha até o escritório e fecha a porta atrás de si. O som da madeira se encaixando na moldura é como um alívio momentâneo — uma pausa no terror cotidiano.
Espero alguns segundos, como quem aguarda o fim de uma tempestade. Meus filhos se levantam de seus lugares e se aproximam. Phillip se senta ao meu lado, Kate do outro. Eles não dizem nada de imediato, mas seus corpos falam. O modo como se encostam em mim, como se quisessem me cercar, me proteger, me guardar.
— Mamãe, eu tive a ideia de você dormir com a gente para o papai não te machucar de novo — diz Phillip, com os olhos fixos nos meus. Não há medo em sua voz, apenas uma vulnerabilidade crua, de quem já viu demais para a idade que tem.
Meu coração se aperta. Sinto como se estivesse sendo rasgada por dentro. Kate segura minha mão com força e encosta a cabeça no meu ombro, como se o gesto dela pudesse me blindar do mundo.
O silêncio que se instala não é vazio. Há uma densidade aqui. É o eco de tudo que sempre ficou guardado, sem nome, sem espaço. É o som da dor que nunca foi dita, mas sempre sentida. Minha dor.
— Meus amores... — começo, com a voz embargada. — Eu sei que vocês percebem as coisas, e a mamãe lamenta profundamente por isso.
Phillip se ajeita, atento. Kate ergue os olhos, esperando pela minha confissão. Eles sabem, na verdade sempre souberam. E agora, querem ouvir da minha boca o que seus corações já entenderam.
— Eu tenho feito o possível para proteger vocês, mas percebo que isso não é suficiente. Essa casa... não é segura, nem para mim e muito menos para vocês.
Eles se entreolham, como quem confirma uma verdade que já conheciam.
— Nós vamos sair daqui — continuo, num tom firme, contido. — Ainda não sei todos os detalhes, mas estou pensando nisso há algum tempo. E agora tenho certeza: não podemos continuar vivendo assim.
Kate fala com os olhos lacrimosos:
— Se você ficar com a gente no quarto, ele não fará nada.
— Nós não queremos mais te ver machucada, mãe. Você tem que fugir daqui — diz Phillip, segurando minha mão com aflição.
— Eu não posso deixar vocês. Não posso viver longe de vocês — respondo, abraçando-os com força, sentindo uma dor dilacerante no coração. Como poderei viver longe deles?
— Nós vamos ficar bem. O papai nunca faria nada para nos machucar, e nossos avós cuidarão de nós. Mas você tem que sair daqui. Quando tivermos idade para escolher com quem ficar, escolheremos você.
— Eu prometo que cuidarei da Kate, mãe. Só não fique mais aqui desse jeito — diz Phillip, com uma maturidade que me assusta.
— Mamãe, eu prometo que vou me comportar até poder ficar com você — minha filha chora ao me abraçar.
Que situação é essa, Deus? Me ajude a sair desse inferno com meus filhos, sem colocá-los em risco.
— A mamãe vai pensar em um jeito de resolver isso o quanto antes. Não sei como conseguirei ficar longe de vocês, mas prometo que farei de tudo para que seja pelo menor tempo possível.
Continuo abraçada com eles e nem percebo a Sra. Dexter se aproximar.
— Contem com o meu apoio — ela fala, colocando a mão em meu ombro. — Ajudarei no que for preciso e cuidarei deles até que a senhora possa tê-los consigo.
— Obrigada — é tudo o que consigo dizer neste momento tão emocional para todos nós.
Levo as crianças para a cama. Elas se preparam para dormir, e como sempre adorei fazer, penteio os cabelos da minha princesa antes de fazer uma linda trança, do jeito que ela gosta. Após contar uma história para ela e vê-la adormecer, sigo com Phillip para o quarto dele. Sei que ele adora que eu faça cafuné até pegar no sono.
Quando percebo que está adormecido, levanto-me para cobri-lo e beijo seu rosto antes de sair do quarto. Então, ouço-o falar baixinho:
— Te amo, mamãe. Vou cuidar de você...
Saio do quarto, profundamente emocionada, e dou de cara com Brandon, que aparentemente já estava vindo me procurar. Ele se aproxima devagar, como uma fera rodeando sua presa.
É assim que me sinto perto dele — uma presa indefesa, pronta para o abate.
— Quando é que vou chegar perto de você e encontrar outra cara que não seja essa cara de bosta chorando, hein? — ele fala quase sussurrando, agarrando meu braço de forma brusca.
— O que você quer que eu faça, Brandon? — pergunto, ainda chorando, encarando-o. Até isso ele quer controlar. Nem chorar eu posso, pois isso o irrita. Mas como não chorar diante dessa situação?
— Você quer controlar até minhas emoções, minhas dores? — tento soltar meu braço, mas ele aperta ainda mais.
— Me deixa em paz hoje, Brandon. Ainda estou toda dolorida pelo que fez comigo pela manhã. Meu braço está doendo... Me solta.
— Você mereceu o que fiz, e vou fazer novamente se não melhorar essa cara que está fazendo agora — ele tenta me beijar, mas eu o rejeito, tentando me soltar.
— Brandon, por favor, me solta. Eu preciso tomar meu remédio para aliviar as dores. Como pode achar que mereço passar por isso? O que te faz pensar assim?
Tento me soltar, mas fracasso na tentativa, devido à vantagem corpórea dele. Brandon é alto, mede 1,85m e deve ter uns 90kg de músculos. Ele adora cuidar do corpo e passa um bom tempo na academia que montou em casa para se manter em forma.
— Você é minha esposa e me deve obediência. Cada vez que não faz o que eu quero, merece uns bons solavancos para aprender qual é o seu lugar — sua voz soa ameaçadora, grave e cortante. O aperto em meu braço se intensifica, seus dedos cravam na minha pele como se quisessem deixar marca.
— Não te dei o direito de me interrogar sobre onde vou ou com quem estive. E quando eu disser para ir a algum evento, não importa onde seja ou quem estará lá, você vai comigo sem reclamar. Você entendeu? Não é da sua conta com quem estou. E quando eu te procurar e quiser sexo, você estará disponível — e calada.
Sinto o mundo girar por um instante. Meu estômago revira, como se palavras fossem socos.
— Você está me traindo, Brandon — minha voz treme, mas eu não recuo. — E ainda quer que eu transe com você depois de estar com ela? Depois de passar horas com outra?
Ele me encara, sem qualquer sinal de culpa — apenas ira.
— E não é a primeira vez. Você a levou para os últimos eventos sociais que participou, e eu sequer sabia que haveria algum.
O silêncio que se instala agora é cortante. O medo pulsa em mim, mas também uma centelha de resistência — como se cada frase dita fosse uma rachadura na prisão que ele construiu.
Tento conter minhas lágrimas. Controlar minhas emoções. Evitar qualquer gesto que o irrite ainda mais. Mas a dor e a revolta que me consomem são tão intensas que... transbordo.
— Eu não aguento mais essa vida, Brandon — minha voz escapa trêmula, mas firme. — Se você quer continuar assim, eu não quero.
Se não gosta de mim, se não me suporta a ponto de me castigar por não aceitar ser espancada e humilhada na frente dos nossos filhos... Então vamos nos divorciar.
Ele me encara, os olhos arregalados, o rosto tenso — transtornado por ouvir o que jamais esperava.
Dou um passo à frente, como quem entrega não só palavras, mas um ultimato.
— Eu... eu não quero nada seu. Pode ficar com tudo. Só vamos acabar com isso.
Brandon permanece em silêncio por alguns segundos. Mas seus olhos dizem tudo. Ódio. Controle. Incredulidade. E, pela primeira vez, medo de me perder.
— Divórcio? Você está maluca? Nunca vou te dar o divórcio — seu tom é agressivo, sarcástico, como quem não admite ser contrariado. — Você só precisa entender que nós, homens, somos assim. Não nos contentamos com uma única mulher e queremos chegar em casa e ter nossas esposas esperando, felizes, com o luxo que damos a elas.
Ele me puxa com força pelo braço, arrastando-me em direção ao nosso quarto, como se eu fosse um objeto que lhe pertence.
Já posso imaginar o que me espera. Que Deus me ajude a sobreviver a mais esse inferno e possa sair com a alma viva disso também.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 103
Comments
Eliana Fazano
deixa eu trocar de lugar com ela pra mostrar pra este traste como é que a banda tôca kkkkk já estava capado
2025-10-24
1