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Minha nova vida se resumia a um apartamento minúsculo no bairro de Botafogo. Era um apartamento de quarto e sala, sem o conforto da minha casa, mas era meu, e o aluguel era o que eu podia pagar. Abri a porta e o ar gelado do ar-condicionado me deu as boas-vindas. Joguei minha bolsa no sofá, tirei os sapatos e me joguei na poltrona. O silêncio do lugar era um alívio depois do caos do meu primeiro dia de trabalho.

​Minha cabeça ainda girava, não pelos desafios que o estágio me traria, mas pelo rosto de um certo alguém. O Arthur. Aquele sorriso de canto de boca e o olhar provocador me incomodavam de um jeito que eu não conseguia entender. Por um lado, eu sabia que ele era o tipo de cara que eu sempre evitei: arrogante, convencido e acostumado a ter tudo o que quer. Por outro, algo me dizia que havia mais do que o que ele mostrava. Mas eu não ia me deixar enganar, não de novo. Eu já havia sofrido por amor, e a cicatriz de uma traição me fez prometer que não me envolveria com caras como ele.

​Tomei um banho rápido, jantei o que sobrou do almoço e fui para a cama, tentando me convencer de que meu foco era o trabalho e nada mais. Não era fácil. O dia seguinte chegou, e com ele a necessidade de voltar à GDM. Tentei escolher a melhor roupa que tinha para a ocasião. Optei por uma calça jeans escura, que vestia bem, e uma blusa branca de manga curta. Prendi os cabelos em um coque alto e fiz uma maquiagem leve, o suficiente para parecer apresentável.

​No caminho para o trabalho, observei as pessoas e percebi que a forma de se vestir na capital era diferente. Mulheres com terninhos elegantes, saltos altos, e bolsas de grife desfilavam nas calçadas. A minha roupa, que eu achava bonita e arrumada, era simples demais. Quando cheguei à agência, a sensação de deslocamento se intensificou.

​Gabriela, que já estava na mesa, usava um vestido estampado e um sapato de plataforma que a deixava mais alta. Ela tinha um ar moderno e urbano.

​— Bom dia, Helena! — ela disse, animada. — O seu segundo dia já está começando.

​— Bom dia, Gabi. O seu vestido é lindo — eu disse, com um sorriso sem graça.

​— Ah, obrigada. Eu adoro umas cores. Sente-se, a gente tem muita coisa para fazer hoje. — Ela fez uma pausa, me olhando de cima a baixo com um ar de quem queria me dizer algo. — O pessoal aqui é bem... formal, né? Eu até tento dar uma descontraída com as roupas, mas o chefe não gosta muito.

​A fala de Gabriela me fez perceber que eu não estava apenas com uma roupa casual. Eu estava com uma roupa de fim de semana em um escritório de publicidade de elite. Aquele era o mundo dela, e eu estava tentando me encaixar.

​— Sim, eu percebi. Ontem eu me senti um peixe fora d'água — eu respondi, com um suspiro.

​— O seu estilo é fofo, mas para a GDM, você precisa dar uma renovada no guarda-roupa — ela disse, com a voz baixa para que apenas eu ouvisse. — Não se preocupa, todo mundo passa por isso no começo.

​Senti um misto de vergonha e alívio. Ela estava certa, e era bom ter alguém para me guiar.

​— Eu estava pensando nisso. Acho que preciso ir às compras, mas não sei onde ir.

​— Eu posso te ajudar. Conheço umas lojas bem legais. Que tal irmos amanhão à noite? — Gabriela sugeriu, e seu sorriso me deu um ar de esperança.

​Aquele era o primeiro passo para o meu novo eu, para a nova Helena que estava surgindo. Uma Helena mais confiante, mais pronta para enfrentar os desafios de ser uma garota do interior em uma cidade grande.

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