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​A piadinha do Arthur me atingiu em cheio. Não por maldade, mas pela audácia e arrogância dele. Daniel soltou uma risadinha nervosa, enquanto Gabriela me olhou com um ar de desculpas. A sala de reunião do CEO se fechou, e o silêncio que ficou era quase tão constrangedor quanto a presença dele.

​— Não ligue para ele, Helena — Gabriela disse, se inclinando na minha direção. — O Arthur é… complicado. Ele é o filho do nosso chefe, e ele não quer estar aqui. Na verdade, ninguém entende por que ele está aqui.

​Eu revirei os olhos de novo. — É sempre assim? Ele trata todo mundo assim?

​Daniel suspirou. — Ele é um completo babaca, para ser sincero. Mas só quando ele está por aqui. O pai dele, o Sr. Matias, é um dos maiores publicitários do país. A agência é a vida dele, e parece que ele quer o mesmo para o filho.

​— Ele tenta de tudo. Já colocou o Arthur para ser estagiário no financeiro, na área de RH, e agora, no marketing — Gabriela acrescentou, com um tom de quem sabia de tudo. — O problema é que o Arthur odeia trabalhar. Ele prefere passar o tempo na academia ou correndo de moto por aí com os amigos. Ele sempre arranja uma desculpa para não fazer nada.

​Minha cabeça girava. O Arthur que eles descreviam parecia ter saído de um filme de romance, o típico cara bonito e rebelde que se acha dono do mundo. E, pelo visto, ele realmente era. A tatuagem no pescoço fazia mais sentido agora, um ato de rebeldia contra a autoridade do pai. Mas eu não estava em um filme. Eu tinha meus próprios problemas e sonhos, e a última coisa que eu precisava era me envolver com alguém assim.

​Passamos o resto da tarde fazendo um trabalho que Daniel nos explicou. Era um projeto de pesquisa de mercado para uma campanha de uma marca de cosméticos. Ele era muito paciente e parecia gostar de trabalhar em equipe. A Gabriela, por outro lado, era mais dispersa, mas me contava histórias divertidas da agência, dos colegas de trabalho, e me fazia rir. Com eles, a tensão causada pelo Arthur se dissipou, e eu me senti mais à vontade.

​Quando o expediente acabou, me despedi deles e saí da GDM, sentindo a brisa leve do fim de tarde no Rio. Meus pensamentos voltaram para o Arthur. Eu tentei ignorá-lo, mas a imagem daquele sorriso de canto de boca e dos olhos pretos me assombrava. Por um momento, me senti pequena, um peixe fora d'água em um lugar grande demais.

​Eu não podia permitir que o comportamento de um cara como ele me intimidasse. Eu estava ali para trabalhar e, se ele estava ali apenas para cumprir tabela, era problema dele. Meus pais fizeram muitos sacrifícios para que eu estivesse ali, e eu não ia jogar tudo a perder por causa de um playboy arrogante.

​Enquanto caminhava para o ponto de ônibus, o barulho de uma moto me fez olhar para a rua. Era uma moto de alta cilindrada, preta, brilhando sob a luz dos postes. E sobre ela, com o capacete pendurado no cotovelo, estava Arthur. Ele não me viu, mas a imagem dele, com o cabelo bagunçado pelo vento, me fez estremecer. Ele não era apenas uma figura em um escritório. Ele era real e parte daquele mundo que agora também era meu.

​Ele acelerou e se misturou ao trânsito, desaparecendo tão rápido quanto apareceu. Meu pressentimento do início do dia se confirmou. Ele era o tipo de problema que eu sempre evitei, e agora, por ironia do destino, estávamos no mesmo lugar, a menos que ele arranjasse um jeito de ser demitido. O que, pelo jeito que as coisas estavam indo, não parecia algo difícil.

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