capítulo 04

Na manhã seguinte, Julia estava sentada à mesa com uma caneca de café quente nas mãos. O laptop aberto exibia dezenas de vagas de emprego, mas nenhuma parecia se encaixar no que ela realmente buscava. Até que um anúncio chamou sua atenção.

Era de uma empresa grande de construção civil: Miler Constructions. O nome soava imponente, respeitado, daqueles que abriam portas. Mas a vaga não era para arquiteta, e sim para secretária pessoal do CEO, Rodrigo Miler.

Julia hesitou. Não era o que tinha sonhado, mas a carta de recomendação que carregava de seu antigo instrutor universitário poderia ajudá-la. E, de certa forma, começar dentro de uma grande empresa — mesmo em outra posição — talvez fosse a chance que precisava. A porta de entrada.

O salário parecia bom, o suficiente para ajudar nas despesas do apartamento e aliviar a carga que Henri carregava sozinho.

Sem pensar duas vezes, enviou o currículo.

Horas depois, no início da tarde, a resposta chegou. Um e-mail formal, confirmando uma entrevista para o dia seguinte. Julia arregalou os olhos, o coração disparado.

Mesmo sozinha no apartamento, ela não conteve o sorriso. Pegou o celular e ligou imediatamente para Henri.

— Você não vai acreditar! — disse, quase sem fôlego. — Me chamaram pra uma entrevista. É na Miler Constructions, pra ser secretária do CEO.

Do outro lado da linha, Henri comemorou com entusiasmo.

— Ju, isso é incrível! Tenho certeza que vai dar tudo certo. É só o primeiro passo, e eu sei que você vai encontrar seu espaço nessa empresa.

O apoio dele aqueceu o coração dela. Desligou a ligação com uma sensação renovada de esperança. Boston ainda era um território novo e desafiador, mas, pela primeira vez, Julia sentia que estava começando a traçar o seu caminho ali.

Às cinco da manhã, Julia já estava de pé. O despertador ainda mal tinha tocado e ela já sentia o coração disparado de ansiedade. Precisava estar na empresa às seis e meia, e graças ao carro que o pai ajudara a trazer na mudança, a locomoção seria tranquila — cerca de quarenta minutos de viagem até o prédio da Miler Constructions.

Frente ao espelho, ajeitou a última peça do visual. Calça social bege, camisa preta bem passada, scarpin discreto, e o cabelo preso em um rabo de cavalo elegante que caía em ondas leves sobre as costas. Estava simples, mas confiante. Exatamente como queria transmitir.

Olhou o relógio: Henri ainda não tinha voltado do plantão noturno, mas ela sabia que, de onde estivesse, ele estava torcendo por ela. Pegou a bolsa, respirou fundo e saiu.

O prédio da Miler a impressionou logo de cara. Vidro e aço refletindo a primeira luz da manhã, recepção movimentada mesmo naquele horário, tudo transmitindo grandeza. Julia foi direcionada para a sala de espera do setor de RH. Havia muitas candidatas ali, mas logo percebeu um contraste curioso: algumas pareciam prontas para uma festa, com vestidos curtos e maquiagem carregada, como se não tivessem entendido que a vaga era para acompanhar diretamente um CEO de renome.

Uma a uma, as candidatas foram chamadas. Julia aguardou com calma, revisando mentalmente o que diria. Foi chamada quase ao final.

— Senhorita Caires? — uma voz firme a chamou.

Ela ergueu os olhos e viu uma senhora de postura séria, óculos de armação retangular e olhar avaliador. O crachá em seu peito dizia Miranda. Julia se levantou imediatamente e a acompanhou até a sala de entrevistas.

Assim que entrou, percebeu que não estava sozinha com a avaliadora. Sentado próximo à mesa havia outro homem, alto, loiro, olhos âmbar que chamavam atenção pela intensidade. Vestia um terno cinza impecável e tinha uma postura profissional, quase intimidadora.

— Bom dia, senhorita Julia Caires — disse ele, levantando-se para cumprimentá-la. — Sou Nikolas Garcia, assistente pessoal do CEO, Rodrigo Miler. Estarei acompanhando essa entrevista para ajudar a avaliar os perfis que se encaixam melhor no que o senhor Miler procura.

Julia apertou sua mão, mantendo o sorriso firme. Por dentro, sentia o estômago se revirar — não seria uma entrevista comum.

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