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O ar dentro do museu parecia ter ficado mais pesado, carregado com o peso de séculos de história e das estátuas que os observavam de seus pedestais. O comentário de Thiago pairou entre eles como uma fumaça tóxica, e o silêncio que se seguiu foi mais eloquente do que qualquer discussão.

Thiago, percebendo que havia pisado em um campo minado, mudou cautiousamente o foco. "Essa ala é...intensa", ele comentou, tentando suavizar a atmosfera. "Mas a história dos grandes heróis e princesas é o que mantém Luminária forte, você não acha?"

Malak não tirou os olhos da estátua de seu pai. Seu perfil estava rígido, impenetrável. "Heróis e vilões são apenas pontos de vista, Thiago,"ele disse, sua voz um pouco mais suave, mas ainda carregada de amargura. "O que para vocês foi um grande herói salvador, para outros foi um tirano que impôs sua vontade. Meu pai..." Ele fez uma pausa, escolhendo as palavras com um cuidado incomum. "...ele via um mundo caótico e queria impor uma ordem. Sua ordem."

"Mas acabar com tudo não é ordem, é... é destruição", argued Thiago, sua voz suave mas firme. "Os verdadeiros heróis, como o Rei Arturus ou a Princesa Lyra, trouxeram paz através da compaixão e da união, não da força bruta." Ele apontou para uma estátua de uma mulher com um falcão no ombro. "Ela negociou a paz com os grifos por anos, ganhando sua confiança. Isso é heroísmo."

Malak finalmente se virou, um brilho sarcástico em seus olhos âmbar. "E quantos morreram em ataques de grifos durante esses 'anos' de negociação?"ele perguntou. "Às vezes, uma demonstração de poder imediata e esmagadora poupa mais vidas no longo prazo do que uma compaixão hesitante. Meu pai acreditava nisso. Ele chamava de 'piedade cruel'."

"Piedade cruel?" Thiago repetiu, perplexo. "Isso soa como uma contradição."

"É a mais pura verdade," Malak retrucou. "Você é cruel para ser piedoso depois. Você corta o membro infectado para salvar o corpo. Meu pai via o mundo como um membro infectado."

Thiago estremeceu. "Isso é... horrível."

"É realista," corrigiu Malak. "A história que vocês contam aqui," ele gestou com desdém para o museu inteiro, "é uma fábula bem-embalada. Limpam o sangue e polêm as armaduras. Ninguém ergue uma estátua para o general que fez a escolha difícil e impopular que realmente venceu a guerra. Eles erguem para o poeta que escreveu sobre a paz depois."

Eles caminharam em silêncio por mais alguns minutos, passando por estátuas de reis e rainhas sorridentes, princesas com expressões serenas.

"E a sua história?" perguntou Thiago, corajosamente. "O que você faria? Se você tivesse o poder."

Malak parou diante de uma vitrine que exibia a coroa de uma rainha antiga, cravejada de diamantes. "Eu?"ele disse, e pela primeira vez, sua voz teve um tom de genuína contemplação, sem a camada usual de sarcasmo. "Eu não perderia tempo tentando ser um herói ou um vilão. Esses são rótulos para as massas se alimentarem. Eu faria o que fosse necessário. Ponto."

Thiago olhou para ele, e pela primeira vez, viu não apenas o príncipe das trevas, mas uma convicção profunda e inabalável que era, de sua própria maneira perturbadora, impressionante.

"Vamos voltar", disse Malak abruptamente, o feitiço quebrado. "Já vi o que precisava ver."

A caminhada de volta para o dormitório foi feita em um silêncio contemplativo. A tensão do início havia dado lugar a uma estranha cumplicidade, nascida de uma discussão pesada, mas honesta.

Ao entrarem no quarto, o contraste entre o mundo histórico e pesado do museu e o ambiente solarado e pessoal do quarto foi abrupto. Malak foi direto para a janela, olhando para os jardins iluminados pelo sol.

Thiago deixou-se cair em sua cama, suspirando. "Uau.Isso foi... pesado."

Malak não respondeu.

"Você realmente acredita em tudo isso? Na 'piedade cruel'?" Thiago perguntou, rolando de lado para olhar para as costas escuras de Malak.

Malak continuou olhando pela janela. "Acredito que o poder é a única linguagem que o universo realmente entende. Tudo o mais é... conversa fiada."Ele se virou, seu rosto sério. "Seu pai sabe disso. Meu pai sabia. A diferença é que o seu venceu."

"E se você tivesse vencido?" perguntou Thiago, sentando-se na cama. "O que você faria agora?"

Um sorriso lento e calculista surgiu nos lábios de Malak. "Oh, Thiago,"ele sussurrou, sua voz tão suave que era quase uma carícia. "Algumas perguntas são melhor left unanswered."

Ele pegou o Cajado de seu pai, que estava encostado na cama, e passou os dedos pela gema vermelha pulsante. "Agora, se você me der licença, tenho que estudar o meu... caderno de horários."

Ele pegou o caderno azul claro que estava em sua mesa, mas seus olhos não estavam nas páginas. Eles estavam fixos no Cajado, e além, em um futuro que só ele podia ver – um futuro onde a história seria reescrita, não com palavras, mas com poder.

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