O cheiro forte de café recém-passado se espalhava pela cozinha naquela manhã de segunda-feira. Violeta já estava de pé havia mais de uma hora, como de costume. Gostava de organizar as coisas cedo, antes de sair para o trabalho. Era como se o silêncio da casa, ainda meio adormecida, lhe desse forças para encarar o dia.
— Mavie, anda, minha filha, o café vai esfriar! — gritou, enquanto arrumava a mesa simples, mas sempre com o cuidado de colocar uma toalha limpa e duas canecas ao lado da própria xícara.
A mais nova surgiu da porta poucos minutos depois, já de uniforme social. Os cabelos ainda úmidos do banho estavam presos em um coque improvisado. O rosto jovem mostrava cansaço, mas seus olhos brilhavam como quem carrega dentro de si um segredo: a esperança.
— Bom dia, mãe. — Ela se aproximou, depositando um beijo apressado na bochecha de Violeta antes de se sentar.
— Bom dia, meu anjo. Dormiu bem?
— Quase nada. Estava revisando uns relatórios ontem à noite, mas valeu a pena. Acho que hoje vou impressionar meu chefe.
Violeta sorriu com ternura. Aquela menina de apenas dezesseis anos parecia carregar o peso do futuro com mais seriedade do que deveria.
Antes que pudesse responder, ouviram passos arrastados vindos do corredor. Zoe apareceu, ainda de pijama, os cabelos bagunçados e o cigarro preso entre os dedos.
— De novo isso, Zoe? — suspirou a mãe, sem paciência, já adivinhando a fumaça que se espalharia pela cozinha.
Zoe não respondeu de imediato. Acendeu o cigarro com calma, tragou fundo e soltou a fumaça como quem liberta pensamentos presos. Sentou-se à mesa sem pedir licença, puxando a caneca de Mavie para si.
— Preciso de café mais do que vocês duas juntas — disse, a voz rouca pela manhã.
Mavie arqueou as sobrancelhas, mas permaneceu em silêncio. Já aprendera que discutir com a irmã era como gritar contra o vento: não adiantava nada.
Violeta, porém, não deixou passar.
— Você tem vinte e quatro anos, Zoe. Quando vai começar a levar a vida a sério?
A mais velha deu uma risada curta, quase debochada.
— Vida a sério? Mãe, olha ao redor. A vida já é séria demais. Eu só não quero me tornar escrava dela, como vocês.
O silêncio caiu sobre a mesa. Violeta respirou fundo, tentando engolir a raiva. Mavie apertou os lábios, sentindo aquela mistura de amor e vergonha que a irmã sempre lhe causava.
Lá fora, os ônibus já buzinavam apressados. O relógio da parede marcava seis horas em ponto. Mavie levantou-se depressa, ajeitando a bolsa no ombro.
— Preciso ir. — Olhou para a mãe, depois para Zoe. — A gente se vê à noite.
E saiu, com passos firmes, carregando em si a esperança de que um dia aquelas manhãs deixariam de ser marcadas pelo cheiro de café e pela fumaça amarga do cigarro da irmã.
"A vida é feita de escolhas, e nem sempre sabemos qual a melhor!"
Tudo que plantamos aqui colhemos aqui também. Uma hora o jogo vira e precisaremos daqueles que não valorizamos.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 69
Comments