O Último Herdeiro Yakuza
Tóquio, Japão — 2017
Às vezes, basta um deslize para que tudo mude. Uma distração. Uma decisão feita às pressas. Um simples erro capaz de costurar destinos que jamais deveriam se cruzar.
Quem poderia imaginar que duas pessoas, de mundos tão distantes, seriam ligadas por algo impossível de ser desfeito?
Não um encontro casual, não uma escolha. Mas sim um erro. Um erro que mudaria vidas.
Naquela noite, no coração de Tóquio, foi exatamente isso que aconteceu.
A GenLife era o tipo de lugar que inspirava confiança à primeira vista. Um prédio de vidro espelhado erguido no meio de Shinjuku, refletindo o céu da cidade e as luzes de neon como se fosse uma promessa de perfeição. Pessoas ricas, influentes, e desesperadas por um futuro que o próprio corpo não podia oferecer, cruzavam aquelas portas todos os dias.
Por dentro, cada detalhe gritava limpeza e controle. Pisos brancos impecáveis que pareciam nunca ter sido pisados, iluminação fria, sem sombra, sem espaço para segredos. O cheiro forte de antisséptico impregnava o ar, misturado com aquele silêncio pesado que só hospitais carregam.
Mas ali havia segredos. Muitos.
Sob a fachada moderna e os protocolos impecáveis, a GenLife não guardava apenas embriões e espermatozoides. Guardava o futuro de famílias inteiras. Políticos que não podiam engravidar suas esposas. Empresários que desejavam multiplicar sua linhagem. E homens que, por razões médicas ou genéticas, não podiam confiar no tempo nem no acaso.
Entre todos os nomes arquivados, um tinha mais peso que os outros: Ren Kazama, o herdeiro da Yakuza, uma das maiores organizações criminosas do país.
Ren não era o tipo de homem que acreditava em médicos. Em ninguém, na verdade.
Cresceu rodeado de gente perigosa, juramentos e sangue derramado, e aprendeu cedo que confiar em estranhos, incluindo os que usavam jaleco branco, era coisa de gente fraca.
Mas Ren não tinha escolha.
Havia uma verdade cruel em sua família. Uma maldição quase biológica: todos os homens Kazama perdiam a fertilidade cedo demais. Aos trinta anos, o corpo fechava as portas da linhagem. Era como se o próprio sangue negasse continuidade.
Ren tinha vinte e nove anos.
Seu pai, o Oyabun, chefe supremo da Yakuza, não era homem de aceitar desculpas.
— Se não vai engravidar alguém agora, então congele. — a voz foi firme, sem margem para discussão. — É sua obrigação. Não podemos enterrar duzentos anos de tradição por causa da sua teimosia.
Ren obedeceu. Não por vontade própria, mas porque um Kazama não desafia o sangue. Ele entregou seu material, contra sua natureza, contra seu orgulho. E assim, em tubos mergulhados em nitrogênio líquido, ficou guardada a única chance de perpetuar sua linhagem.
Mas ele sabia que aquilo era um alvo.
No submundo, sangue não era apenas biologia. Sangue era poder.
E qualquer inimigo que quisesse ferir os Kazama não precisava de balas. Bastava apagar aquela chance.
Até que o mais temível aconteceu
O ataque não veio com tiros, nem com sangue. Veio na forma de um funcionário mal pago, exausto e vulnerável.
Hayashi era técnico de laboratório. Vivia no piloto automático, rodando exames, checando relatórios, obedecendo protocolos repetitivos. Mas naquela semana, recebeu uma mensagem. Curta, direta: "Pegue as amostras de Ren Kazama. Você será recompensado."
No começo, ele achou que fosse piada. Mas a promessa de dinheiro fácil falou mais alto que o medo. A dívida dele com agiotas também não deixava opção.
Naquela noite, quando o movimento da clínica já tinha diminuído, Hayashi caminhou pelos corredores como se fosse só mais um turno normal. O crachá balançava no pescoço. As luzes brancas refletiam no piso polido. As câmeras de segurança o acompanhavam, mas ninguém suspeitava.
Com mãos trêmulas, digitou o código de acesso. A porta pesada do cofre se abriu com um chiado. Uma nuvem branca de nitrogênio escapou, varrendo o chão como fumaça.
Lá dentro, organizados com frieza, estavam os cilindros criogênicos. Cada um marcado com números e sobrenomes que valiam mais que ouro. Famílias inteiras guardadas em cápsulas de gelo.
Hayashi respirou fundo e procurou o nome.
Kazama.
Suas luvas tremeram ao retirar o cilindro. O peso parecia desproporcional ao tamanho. Não era só vidro. Não era só material biológico. Era a vida de um império inteiro.
Fechou a tampa metálica, escondeu a caixa sob o casaco e saiu como se nada tivesse acontecido. O crachá apitou nas portas. As câmeras registraram um funcionário comum deixando o prédio. Nada além disso.
Horas depois, já no escuro de uma ponte sobre o rio Sumida, ele cumpriu a ordem. Jogou os tubos na água. O som do vidro estilhaçando contra a correnteza ecoou como sentença final.
Para ele, aquilo era o fim. Tinha feito sua parte. Receberia o dinheiro. E a linhagem Kazama morreria ali.
Mas Hayashi não sabia de uma coisa.
A clínica trabalhava com protocolos rígidos. Para cada material coletado, havia duplicatas. Amostras de qualidade, preservadas em outro setor, longe do cofre principal. Eram tubos pequenos, não catalogados junto dos oficiais. Quase esquecidos.
E foi em um desses tubos, esquecido em uma bandeja de análises, que ainda restava o sangue de Ren Kazama.
Hayashi acreditava ter destruído tudo. Os inimigos comemoraram a vitória.
Mas o erro estava lá. Frio, invisível, intacto.
Esperando o momento de ser usado... no corpo errado.
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Atualizado até capítulo 25
Comments
Amanda
Uau 👏 👏👏👏👏👏👏👏
Autora você já chegou arrasando, que primeiro capítulo foi esse?
Simplesmente esplêndido, maravilhoso
2025-09-11
4
Ana Magalhães Silva
mulhet tu voltou! e com grande estilo.arradou.
2025-09-11
2
Selma
Eita que eu já adorei o primeiro capítulo, nossa autora nós surpreende sempre.
Vamos para mais uma história incrível.
2025-09-11
2