Capítulo 3 – Luto
As coisas pareciam ir bem para Emmy. O caderno dos sonhos tinha sido uma ótima ideia. Cada noite, escrever nele era como se libertar, colocar para fora tudo que a atormentava. No começo, registrava apenas os detalhes dos sonhos, mas logo começou a escrever tudo o que sentia importante. Aquilo era reconfortante, quase terapêutico.
O estranho não aparecia mais em seus sonhos, e a princípio, foi um alívio. Mas, com o passar das semanas, aquele vazio começou a incomodá-la. Será que estava sentindo falta dele? Só podia estar louca.
Certa manhã, Emmy acordou assustada. Sonhara novamente com o estranho, mas de forma diferente, intensa, quase sedutora. Ao abrir os olhos, percebeu algo aterrorizante: estava paralisada. Incapaz de se mover ou gritar, sentiu um toque gelado subir por sua perna, atravessar a barriga e parar no pescoço. Um pânico absoluto tomou conta dela. Finalmente, conseguiu se libertar do sonho e correu para o quarto da mãe, que a recebeu com um abraço caloroso, permitindo que Emmy se deitasse ao seu lado.
No dia seguinte, estava exausta. Cada passo parecia custar esforço. No colégio, o cansaço se mantinha, deixando-a aérea e distraída. No intervalo, foi para os fundos da escola, onde havia uma floresta densa. Sentou-se, contemplando a imensidão verde, até sentir que estava sendo observada. A sensação era tão forte que fez suas pernas tremerem. Conseguiu ir até a diretoria e, inventando uma desculpa qualquer, conseguiu ir para casa.
Oi, filha. Não está passando bem? – perguntou a mãe, preocupada.
Estou com dor de cabeça, mãe. Vou tomar um banho e descansar.
Pegue esta aspirina. Quando o almoço ficar pronto, te chamo.
Obrigada, mãe. Não estou com fome agora.
Emmy tomou um longo banho quente, deitou-se nua, coberta apenas por um cobertor, e acabou adormecendo ao som de “Sweet Child o’ Mine”, sua música favorita. O sonho que veio foi diferente: não havia medo, apenas fascínio, envolvimento e calma. Ao despertar, vestiu um pijama, almoçou com a mãe e descansou pelo restante do dia. Sentia-se mais leve, porém ainda distante do mundo à sua volta.
Quando o fim de semana chegou, Emmy dormiu tranquila, acreditando que finalmente poderia descansar. Mas o destino tinha outros planos. O estranho apareceu novamente, mas desta vez transfigurado: feições demoníacas, sorriso cruel. No sonho, ele a atacou, e Emmy correu, destruindo tudo em seu caminho. Chorou e implorou para acordar, sentindo medo real, até finalmente despertar assustada, controlando a respiração e olhando o relógio: eram 20h.
Buscando conforto, dirigiu-se ao caderno. Sua avó entrou no quarto, e a visão trouxe um calor inesperado:
O que você escreve tanto nesse caderno, minha filha?
Oi, vó. É um diário. Aqui escrevo tudo que acho importante.
Entendo. Já tive um diário também, era muito reconfortante contar minhas coisas, mesmo para páginas em branco.
Eu também me sinto assim, vó. E como está hoje? Ouvi dizer que não anda muito bem.
Estou bem, minha criança. Pode ficar tranquila.
Emmy abraçou a avó com força. A sensação de amor e proteção fez seu coração aquietar, mesmo que por alguns instantes.
Os dias se passaram, e Emmy se reconectava com o mundo aos poucos, até que uma notícia devastadora chegou: sua avó havia sofrido um AVC. Apesar de estar estável, a incerteza e o medo a consumiram. No dia seguinte, a pior realidade se concretizou: sua querida avó havia partido. O funeral passou como um borrão; Emmy vivia em piloto automático, sentindo dor profunda, respirando com dificuldade, e apenas dormindo com ajuda de remédios.
Numa noite de desespero, sentada no chão do quarto escuro, vestindo apenas uma camisola fina, sentiu novamente a presença do estranho. Ele apareceu, sentou-se ao seu lado e a acolheu no colo. Emmy deitou o rosto no peito dele e deixou as lágrimas rolarem. Ele começou a cantarolar uma canção de ninar, envolvendo-a em conforto. Pela primeira vez em semanas, a dor pareceu diminuir. Ele passou o polegar em sua bochecha, capturou uma lágrima, levou aos lábios e sorriu gentilmente:
Shiii, minha criança. Essa dor vai passar. Durma agora. Amanhã estará melhor, prometo.
Com um beijo terno e um abraço apertado, ele desapareceu. Emmy despertou em sua cama, e de fato, sentiu-se mais leve. Pegou seu caderno, começou a escrever e, ao terminar a última página, sorriu. Era a primeira vez que sorria desde a morte da avó, mesmo que triste. Fez uma oração silenciosa, sentindo o perfume de sua avó invadir o quarto, e uma lágrima desceu por seu rosto.
A partir daquele dia, Emmy sabia: sua vida mudaria. Precisaria ser forte, por sua mãe, por sua avó, mas, acima de tudo, por ela mesma. Entrou no banho, deixou a água quente lavar o cansaço e sorriu. Pensou no estranho que havia aparecido, sentiu o calor do abraço dele ainda em sua memória e decidiu: se ele voltasse, mostraria sua força. Daquele momento em diante, seria Emmy, a destemida.
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Atualizado até capítulo 32
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