Capítulo 2 – Solitário à beira da loucura
Já havia se passado um ano desde o dia em que Dimitri viu, pela primeira vez, a moça de cabelos negros que o assombrava em seus sonhos. Desde então, ele permanecia recluso em seu castelo nas montanhas de Bergen. Perto o suficiente para encontrá-la se desejasse, mas distante o bastante para se convencer a não ceder à tentação a cada pôr do sol.
É claro que distância alguma poderia impedi-lo. Bastaria um pensamento para se teletransportar até ela. Mas usava essa desculpa para conter o desejo. Todas as manhãs, quando se deitava ao lado de Lissa, era a jovem desconhecida que dominava sua mente. Quando fazia amor com sua esposa, era a imagem daquela outra mulher que o incendiava por dentro. Ela o consumia de uma forma que nem mesmo os séculos haviam preparado seu coração morto para suportar.
Estava enlouquecendo.
Sonhava com ela noite após noite. Nos últimos meses, começara a usar um antigo feitiço aprendido com uma das bruxas de Salém, ainda nos tempos em que a fogueira devorava mulheres por muito menos. Fora essa bruxa quem lhe ensinara a arte de caminhar pelos sonhos alheios. E Dimitri, em sua loucura, usava o feitiço para invadir o sono da garota. Nunca mostrava o rosto, receava que ela o reconhecesse, mas já não era suficiente. Seus passos no mundo onírico, em vez de atraí-la, estavam apenas a assustando.
— No mundo da lua novamente, meu amor? — Lissa quebrou o silêncio, com a voz carregada de impaciência.
Dimitri estava há horas parado diante da janela da biblioteca, fitando o vasto jardim do castelo. Mas não via flores nem árvores. Apenas o rosto da garota.
— Ah, Lissa… só estava pensando.
— E posso saber em quê? Ou em quem?
— Por favor, hoje não. — Ele fechou os olhos, cansado. — Não tenho forças para mais discussões.
— Então me diga de uma vez o que aconteceu há doze meses. O que foi que te deixou assim? Preso em um mundo onde não há espaço para mim.
Dimitri suspirou. Seu peito imóvel parecia pesar toneladas.
— Já conversamos sobre isso. Não aconteceu nada. Apenas ando refletindo sobre a eternidade e o que tenho feito dela. — Forçou um sorriso. — Estava pensando em voltar a pintar… ou a tocar. O que acha?
Mudar o foco era a única forma de evitar uma nova briga. Mas desde que vira a garota em Oslo, a paciência de Lissa diminuía a cada dia.
— Que seja. — Ela cruzou os braços. — Desde que volte a ser o meu Dimitri de antes.
Ele se aproximou e depositou um beijo rápido em seus lábios.
— Voltarei a ser eu mesmo, querida. Prometo.
— É bom mesmo. Irei até a casa dos Vanrouters. Haverá uma caça ao tesouro. Quer vir comigo?
— Não hoje. Preciso caçar. Já faz mais de uma semana desde a última vez que me alimentei. Talvez depois…
— Por que não disse antes? Eu cacei assim que acordei. Poderíamos ter ido juntos.
— Na próxima vez, iremos. Prometo.
Lissa lhe lançou uma piscadela antes de desaparecer no ar. Dimitri permaneceu imóvel por alguns instantes, mas logo seus pensamentos voltaram ao mesmo ponto: ela.
Como seria provar o doce sabor de seus lábios? O gosto ardente de seu sangue? Bastava recordar o perfume que exalava daquela jovem para que suas presas latejassem de desejo. A sede o dominava, insuportável. Precisava caçar imediatamente ou se perderia por completo.
Abriu a janela. O vento frio da noite revolveu seus cabelos longos. Pela primeira vez em dias, sentiu-se livre. Pensou em descer até a vila mais próxima e beber de algum humano ao acaso, mas a ideia o nauseou. Não queria presa fácil. Queria merecer sua caça.
E então se teletransportou.
Quando abriu os olhos, um arrepio percorreu sua espinha. Estava em Oslo.
A cidade dela.
Precisava sair dali imediatamente ou não resistiria. Estava prestes a dar meia-volta quando uma brisa suave trouxe o aroma inconfundível do sangue da jovem até ele.
Seus olhos escureceram. As presas cortaram sua própria pele.
Era tarde demais.
Dimitri não iria embora até sentir o gosto daquele sangue em seus lábios.
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Atualizado até capítulo 32
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