Uma semana se passou em treinos exaustivos. Harry finalmente conseguiu marcar a reunião com o príncipe, mas antes de enfrentar essa batalha, precisei encarar outra: reencontrar minha mãe.
Aproximei-me de seu quarto e bati suavemente.
— Posso entrar?
— Claro, querida... — respondeu com aquela voz doce, capaz de dissipar qualquer tristeza.
Entrei e a encontrei sentada junto à janela, um livro aberto em suas mãos, envolta pela luz suave que tornava sua imagem digna de um quadro eterno. O nó em minha garganta quase me impediu de respirar.
— Aceita um pouco de chá? — perguntou, sorrindo.
As lágrimas arderam, mas não permiti que caíssem. Só o fato de vê-la viva novamente era um presente que eu não podia desperdiçar.
— Não precisa... Preciso sair em breve.
Conversamos um pouco, mas cada palavra sua era uma flecha no meu coração. No futuro, eu a perderia cedo demais. Agora, porém, eu tive a chance de prolongar seus dias.
Despedi-me, prometendo voltar antes do jantar. Ao sair, meu peito pesava, mas meu propósito me erguia
A viagem ao palácio durou trinta minutos. O silêncio na carruagem era sufocante.
Eu não conseguia afastar o arrependimento de não ter visitado mais vezes minha mãe. Como poderia liderar uma guerra se ainda me escondia atrás da covardia?
Chegando ao palácio, a imponência quase me esmagou. Guardas verificaram nossa entrada, flores emolduravam o caminho, e cavaleiros patrulhavam com rigidez.
Fomos conduzidos até a sala de reuniões e, após alguns minutos, anunciaram a entrada do príncipe herdeiro Leonardo Armani.
Apesar de seus doze anos, sua presença carregava um peso impressionante. Olhos verdes cativantes, cabelos negros como a noite, e uma postura que já refletia o futuro de um imperador.
— Jovem dama Axen, cavaleiro Harry Forms. Recebi o convite e confesso estar curioso com tanta urgência. — Sentou-se diante de nós, a voz firme e elegante, mais madura do que sua idade. — Fiquem à vontade.
Respirei fundo. Estava na hora.
— O que direi soará como loucura, Vossa Majestade... mas preciso que me escute até o fim.
Ele acenou, impaciente.
— Seja breve. O Festival se aproxima e minha agenda está cheia.
— Eu vim do futuro. — A frase caiu como pedra. O príncipe me encarou como se eu fosse insana.
— Daqui a nove anos, Turlon trairá nossa aliança e declarará guerra contra Rafta.
Harry se manteve firme ao meu lado, mas o príncipe estreitou os olhos.
— Uma criança mimada alegando prever o futuro? — ironizou. — É impossível voltar no tempo.
Segurei o olhar dele, sem desviar.
— Não acredite em rumores. Não brincaria com o futuro do Império. — Meu tom era suplicante, mas carregado de determinação.
Ele permaneceu em silêncio por alguns instantes, avaliando-me como se fosse pesar minha alma.
— Se ainda temos nove anos para essa guerra... por que me contar agora?
— Porque preciso de sua voz quando for comandante. Não me ouvirão por ser jovem e mulher. Mas eu sei como o inimigo atacará. Só assim poderei evitar que meu pai e meu irmão morram.
Ele suspirou, recostando-se na cadeira.
— Disse que tinha provas. Quais?
Meus olhos brilharam.
— Duas revelações no Festival Celeste. A primeira: uma profecia será anunciada. “"O trono oscila nas mãos de quem o veste, a neve guardará o segredo do destino.”
O silêncio pairou.
— E a segunda?
Meu coração disparou.
— O Imperador anunciará um segundo filho. Um bastardo chamado Klaus.
Os olhos do príncipe se arregalaram, a descrença cedeu lugar ao choque.
— Meu pai trará um bastardo ao trono...?
Assenti.
— No futuro, o anúncio dividiu o Império. Mas agora, posso usar essa revelação como prova. Confirme esses eventos, e então confie em mim.
Por fim, ele se levantou, ainda atônito. Apertou minha mão como um adulto faria com outro adulto — e não como um príncipe com uma criança.
— Entendo... Obrigado por confiar em mim.
E naquele instante, percebi: a guerra ainda estava distante, mas minhas peças já estavam sendo mexidas no tabuleiro.
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Atualizado até capítulo 35
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