O vestido que deixaram sobre a cama era vermelho. Um tom profundo, quase vinho, com tecido leve que se moldava ao corpo como se tivesse sido feito sob medida. Mirella o encarou por longos minutos antes de tocá-lo. Sentiu-se deslocada, como uma criança segurando uma peça cara demais para vestir.
Ao lado do vestido, havia um par de saltos pretos, finos e elegantes, e uma pequena caixa de veludo. Dentro, um colar de pérolas e um bilhete simples, assinado com uma única letra: “E”.
Ela quase não reconhecia o próprio reflexo quando terminou de se arrumar. Os cabelos estavam soltos, com ondas suaves caindo sobre os ombros. A maquiagem era discreta, mas realçava seus traços. Aquela imagem no espelho parecia saída de um lugar distante da vida que conhecia.
Mas os olhos… os olhos continuavam carregados de dúvida.
Um carro preto a aguardava na porta. O motorista não disse uma palavra durante o trajeto. Mirella manteve as mãos sobre o colo, rígida, observando a cidade mudar diante de si. O centro, com suas luzes intensas e seus prédios altos, pulsava como um organismo vivo. E, no coração dele, estava o cassino Castellani.
O edifício se erguia como uma joia sombria no meio da noite. Suas fachadas de vidro refletiam as luzes da cidade, e a entrada principal era ladeada por fontes iluminadas que jogavam água para o alto em sincronia, como se cada detalhe tivesse sido coreografado para impressionar.
Havia uma fila de carros importados. Homens de terno e mulheres com vestidos deslumbrantes entravam como se aquele lugar fosse um mundo à parte — e era. Para Mirella, era um planeta inteiro de coisas que ela nunca imaginou fazer parte.
Ao descer do carro, foi imediatamente escoltada por um funcionário. Ele a conduziu pelos salões do cassino como se soubesse exatamente o ritmo que ela suportaria. Cada passo era uma enxurrada de estímulos: o tilintar das fichas, o som abafado da roleta girando, o barulho de cartas sendo embaralhadas, o tilintar de taças de cristal se chocando.
As paredes eram decoradas com tons escuros, dourado e preto dominando tudo. Lustres baixos, espelhos, tapeçarias elegantes, e uma iluminação estrategicamente projetada para deixar o ambiente entre o glamour e o mistério.
Mirella sentia o olhar das pessoas sobre ela — curiosidade? Desejo? Julgamento? Não sabia ao certo. Apenas seguiu.
Foi levada até um dos salões privados, onde um bar silencioso e reservado parecia estar esperando por ela. E lá estava ele: Enrico.
Sentado casualmente em um sofá de couro preto, com um copo de uísque na mão e o paletó jogado de lado, ele parecia perfeitamente à vontade. Era como se aquele lugar tivesse sido construído ao redor dele. E, talvez, tivesse mesmo.
Os olhos dele a percorreram dos pés à cabeça, sem disfarces. Mas não havia vulgaridade naquele olhar — havia análise. Como se Mirella fosse uma peça nova em seu jogo pessoal.
— Você está… surpreendente — ele disse, erguendo o copo, como se brindasse a sua presença. — Confesso que não esperava que vestisse o que mandei.
— Talvez eu só tenha me rendido à falta de escolha — ela respondeu, firme, embora o salto já estivesse castigando seus pés e o vestido parecesse apertar seu peito junto com a ansiedade.
Enrico sorriu, mas havia algo sério no fundo daquele gesto.
— Está pronta para ver como esse mundo funciona?
— Estou pronta para saber por que fui trazida para ele — rebateu.
Ele se levantou, caminhou até ela e ofereceu o braço.
— Então venha. Vou te mostrar como se joga.
Ela hesitou, mas acabou aceitando. O toque foi breve, mas carregado de tensão. O calor do corpo dele, o cheiro amadeirado do perfume, a firmeza com que conduzia… tudo aquilo era intenso demais para uma primeira noite.
Enrico a levou por corredores reservados, por portas que se abriam com biometria, até chegar a um andar superior do cassino. Um salão exclusivo, onde apenas convidados selecionados jogavam. Mirella viu homens em mesas de pôquer, mulheres em conversas discretas, e fichas de alto valor sendo movimentadas com naturalidade.
— Aqui é onde os verdadeiros acordos acontecem — ele murmurou, ao pé do ouvido dela. — Nada aqui é apenas um jogo.
Ela virou o rosto lentamente.
— E o que eu sou aqui, Enrico? Um prêmio? Uma aposta?
Ele sorriu, mas os olhos estavam mais escuros agora.
— Você é a peça mais valiosa do tabuleiro. Só não percebeu ainda.
Mirella recuou um passo.
— E quem está jogando comigo?
— Todo mundo.
Ele a deixou ali por alguns minutos, sozinha, observando o ambiente, como se quisesse que ela entendesse por conta própria. E ela entendeu. Ali, tudo era fachada. Tudo era poder. Cada sorriso tinha um preço, cada drink vinha com segundas intenções. O cassino era um palácio de vaidades e perigos silenciosos.
Na volta, Enrico a encontrou sentada no mesmo sofá onde estivera. Mas havia algo diferente em seus olhos.
— Já se decidiu? — ele perguntou.
— Ainda não sei que jogo está sendo jogado… mas sei que não pretendo perder.
Ele a encarou por alguns segundos. Havia algo de novo em seu olhar também — talvez surpresa… ou respeito.
— Boa resposta.
E, ele não sorriu com deboche. Apenas observou Mirella em silêncio, como se percebesse, ali, que ela não era só mais uma jogada.
Ela era uma adversária.
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Atualizado até capítulo 70
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