Capítulo 2 — O Preço da Promessa

O carro percorria as ruas da cidade como se seguisse um caminho já traçado há muito tempo. Mirella, sentada no banco de trás, mantinha os olhos fixos na janela, mas não enxergava nada. A paisagem urbana passava diante dela como um borrão sem cor, como se o mundo ao redor tivesse perdido o brilho. Era como se estivesse sendo levada para um destino que não lhe pertencia, arrancada à força da sua própria história.

As mãos estavam frias. Os dedos trêmulos se apertavam um contra o outro. O estômago revirava em silêncio. Ela não tinha feito perguntas. Não tinha implorado para ficar. Porque, no fundo, sabia que não havia mais nada que pudesse ser dito.

Orlando a vendera.

Essa frase ecoava em sua mente com uma crueldade que doía mais do que qualquer tapa. Mais do que qualquer abandono. Ela tinha sido negociada como se fosse uma dívida... um objeto... um fardo. E, mesmo que não conhecesse ainda os detalhes, o fato era esse: não era mais dona de si.

A viagem durou mais do que o necessário. Ou talvez o tempo tivesse se esticado por causa do vazio dentro dela. Quando o carro finalmente saiu da estrada principal e entrou por uma alameda de árvores altas e escuras, Mirella sentiu o ar ficar mais denso. O lugar exalava silêncio e poder.

No fim da estrada, uma construção imponente surgiu diante dela. Não era uma mansão no estilo clássico. Era mais moderna, cercada por muros altos e portões de ferro. Havia algo frio naquele lugar. Uma ausência de cor. Uma ausência de alma.

O portão se abriu lentamente. O carro seguiu sem hesitar.

Do lado de dentro, a recepção não foi calorosa. Um homem de terno, com expressão neutra, aguardava na porta. Ele não se apresentou. Apenas abriu a porta do carro e indicou para que ela saísse. Mirella obedeceu em silêncio.

Foi conduzida para dentro, por corredores elegantes demais para sua realidade. Tapetes persas. Lustres de cristal. Obras de arte penduradas nas paredes. Tudo era bonito, sim… mas estéril. Frio. Sem vida.

— O senhor Castellani chegará em breve — disse o homem, por fim, parando diante de uma porta de madeira escura. — Enquanto isso, você vai aguardar aqui.

Ela entrou no quarto. Luxuoso. Sofisticado. Um contraste cruel com seu quarto de paredes rachadas e lençóis velhos. Havia uma cama king size com cabeceira estofada, cortinas pesadas, espelhos dourados, e até uma penteadeira repleta de cosméticos caros.

Mirella se sentiu ainda menor ali dentro. Como se tivesse invadido um cenário de novela.

Andou até a janela, puxou a cortina com cuidado e viu o que parecia ser o quintal de um cassino privativo — luzes ao longe, movimentação de carros importados, homens de terno indo e vindo com mulheres deslumbrantes nos braços.

Ela não pertencia àquele mundo. Nunca pertencera.

Sentou-se na beira da cama. O silêncio do quarto era cortante. Um arrepio percorreu sua espinha. Não era medo… ainda. Era o pavor do desconhecido.

Ela só queria saber por quê.

Por que seu pai a entregou assim? Por que aqueles homens a queriam? E quem era esse “senhor Castellani”?

Ela nem imaginava que, naquele exato momento, Enrico Castellani já observava tudo de longe. Do andar de cima, por trás de uma parede espelhada, ele analisava Mirella como quem avalia uma jogada ousada em uma mesa de apostas.

Enrico era o tipo de homem que não desperdiçava tempo com incertezas. Herdara o império do jogo das mãos de um pai frio e calculista. Cresceu entre cifras, chantagens e acordos silenciosos. Aprendeu cedo que sentimentos não combinavam com poder. Que confiança era uma moeda rara — e cara.

Mas havia algo na presença daquela garota — aquela jovem franzina, de olhar perdido, mas que não tremia de medo como os outros — que o intrigava.

— É ela? — perguntou, sem desviar os olhos.

— Sim, senhor. Mirella. A filha de Orlando Vasques.

Enrico soltou um sorriso torto, cético.

— Filha adotiva — corrigiu. — Não vamos esquecer esse detalhe.

Ele conhecia aquela história melhor do que a própria Mirella. Sabia o que estava por trás da adoção. Sabia quem ela realmente era. E por isso a queria ali.

Ela era a peça-chave. A jogada que poderia virar todo o tabuleiro.

Mas Mirella não sabia disso. Ainda.

Naquela noite, ela não dormiu. Ficou deitada sob lençóis caros, com o coração apertado e os olhos perdidos no teto. Esperando. Temendo. Tentando entender se aquilo era um pesadelo ou apenas o começo de um jogo muito maior do que poderia imaginar.

E, no fim, era exatamente isso.

O jogo da sua vida tinha começado.

E o preço… ainda estava sendo definido.

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Dulce Rodrigues

Dulce Rodrigues

MENTIRAS MAL CONTADAS! Quem realmente a verdade interessa,vive no escuro. Maldade alheia,/Awkward/

2025-09-08

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Capítulos
1 Prefácio
2 Capítulo 1 — O Início do Fim
3 Capítulo 2 — O Preço da Promessa
4 Capítulo 3 — A Primeira Jogada
5 Capítulo 4 — Bem-vinda ao Jogo
6 Capítulo 5 — Regras Invisíveis
7 Capítulo 6 — Testando as Grades
8 Capítulo 7 — O Jogador Também Sangra
9 Capítulo 8 — Aquilo Que Está Escondido
10 Capítulo 9 — Entre a Fúria e o Fio da Pele
11 Capítulo 10 — Entre o Instinto e a Sombra
12 Capítulo 11 — A Primeira Explosão
13 Capítulo 12 — As Sombras Também Têm Voz
14 Capítulo 13 — O Invasor com Nome Antigo
15 Capítulo 14 — O Preço da Verdade
16 Capítulo 15 — O Caminho Sozinho
17 Capítulo 16 — As Vozes Que Não Foram Ouvidas
18 Capítulo 17 — O Homem Que Nunca Morreu
19 Capítulo 18 — Guerra Silenciosa
20 Capítulo 19 — Entre Leões e Raposas
21 Capítulo 20 — Uma Isca no Tabuleiro
22 Capítulo 21 — A Escolha Que Não Era Dela
23 Capítulo 22 — A Sombra Que Caminha ao Lado
24 Capítulo 23 — Inimigo do Meu Inimigo
25 Capítulo 24 — Verdade em Rede Nacional
26 Capítulo 25 — A Caçada Começou
27 Capítulo 26 — A Jogada Mais Perigosa
28 Capítulo 27 — Corações em Guerra
29 Capítulo 28 — Quando os Castelos Desmoronam
30 Capítulo 29 — Voz Queima Mais Que Bala
31 Capítulo 30 — Sozinha Entre Multidões
32 Capítulo 31 — Entre a Verdade e o Perdão
33 Capítulo 32 — A Guerra Também É Sobre Memória
34 Capítulo 33 — O Começo do Depois
35 Capítulo 34 — Manual do Depois
36 Capítulo 35 — Vozes no Confronto
37 Capítulo 36 — Linhas de Fogo
38 Capítulo 37 — O nome das mortas
39 Capítulo 38 — Luz que não se apaga
40 Capítulo 39 — Delação ou Silêncio
41 Capítulo 40 — O Peso do Farol
42 Capítulo 41 — Onde o Mar Morre e a Cidade Começa
43 Capítulo 42 — O Contra-ataque
44 Capítulo 43 — O Dia em Que a Cidade Parou
45 Capítulo 44 — A Voz Que Não Pode Ser Silenciada
46 Capítulo 45 — A Linha Entre Verdade e Mentira
47 Capítulo 46 — As Peças Ocultas
48 Capítulo 47 — O Último
49 Capítulo 48 — O Tabuleiro em Chamas
50 Capítulo 49 — Feridas Que Não Cicatrizam
51 Capítulo 50 — O Último Jogador no Tabuleiro
52 Capítulo 51 — A Verdade Entre Nós
53 Capítulo 52 — O Último Tabuleiro
54 Capítulo 53 — Ecos do Passado
55 Capítulo 54 — A Verdade Dentro do Envelope
56 Capítulo 55 — O Peso da Confissão
57 Capítulo 56 — Voz Que Rompe o Silêncio
58 Capítulo 57 — O Tabuleiro Final
59 Capítulo 58 — O Julgamento dos Reis
60 Capítulo 59 — Vozes Fora do Tribunal
61 Capítulo 60 — O Peso da Verdade
62 Capítulo 61 — A Última Carta no Jogo
63 Capítulo 62 — A Criança no Tabuleiro
64 Capítulo 63 — O Sangue que Retorna
65 Capítulo 64 — A Ultima Jogada
66 Capítulo 65 — O Cerco Final
67 Capítulo 66 — O Tabuleiro Revelado
68 Capítulo 67 — Armadilhas no Silêncio
69 Capítulo 68 — O Último Lance
70 Epílogo — Depois do Jogo
Capítulos

Atualizado até capítulo 70

1
Prefácio
2
Capítulo 1 — O Início do Fim
3
Capítulo 2 — O Preço da Promessa
4
Capítulo 3 — A Primeira Jogada
5
Capítulo 4 — Bem-vinda ao Jogo
6
Capítulo 5 — Regras Invisíveis
7
Capítulo 6 — Testando as Grades
8
Capítulo 7 — O Jogador Também Sangra
9
Capítulo 8 — Aquilo Que Está Escondido
10
Capítulo 9 — Entre a Fúria e o Fio da Pele
11
Capítulo 10 — Entre o Instinto e a Sombra
12
Capítulo 11 — A Primeira Explosão
13
Capítulo 12 — As Sombras Também Têm Voz
14
Capítulo 13 — O Invasor com Nome Antigo
15
Capítulo 14 — O Preço da Verdade
16
Capítulo 15 — O Caminho Sozinho
17
Capítulo 16 — As Vozes Que Não Foram Ouvidas
18
Capítulo 17 — O Homem Que Nunca Morreu
19
Capítulo 18 — Guerra Silenciosa
20
Capítulo 19 — Entre Leões e Raposas
21
Capítulo 20 — Uma Isca no Tabuleiro
22
Capítulo 21 — A Escolha Que Não Era Dela
23
Capítulo 22 — A Sombra Que Caminha ao Lado
24
Capítulo 23 — Inimigo do Meu Inimigo
25
Capítulo 24 — Verdade em Rede Nacional
26
Capítulo 25 — A Caçada Começou
27
Capítulo 26 — A Jogada Mais Perigosa
28
Capítulo 27 — Corações em Guerra
29
Capítulo 28 — Quando os Castelos Desmoronam
30
Capítulo 29 — Voz Queima Mais Que Bala
31
Capítulo 30 — Sozinha Entre Multidões
32
Capítulo 31 — Entre a Verdade e o Perdão
33
Capítulo 32 — A Guerra Também É Sobre Memória
34
Capítulo 33 — O Começo do Depois
35
Capítulo 34 — Manual do Depois
36
Capítulo 35 — Vozes no Confronto
37
Capítulo 36 — Linhas de Fogo
38
Capítulo 37 — O nome das mortas
39
Capítulo 38 — Luz que não se apaga
40
Capítulo 39 — Delação ou Silêncio
41
Capítulo 40 — O Peso do Farol
42
Capítulo 41 — Onde o Mar Morre e a Cidade Começa
43
Capítulo 42 — O Contra-ataque
44
Capítulo 43 — O Dia em Que a Cidade Parou
45
Capítulo 44 — A Voz Que Não Pode Ser Silenciada
46
Capítulo 45 — A Linha Entre Verdade e Mentira
47
Capítulo 46 — As Peças Ocultas
48
Capítulo 47 — O Último
49
Capítulo 48 — O Tabuleiro em Chamas
50
Capítulo 49 — Feridas Que Não Cicatrizam
51
Capítulo 50 — O Último Jogador no Tabuleiro
52
Capítulo 51 — A Verdade Entre Nós
53
Capítulo 52 — O Último Tabuleiro
54
Capítulo 53 — Ecos do Passado
55
Capítulo 54 — A Verdade Dentro do Envelope
56
Capítulo 55 — O Peso da Confissão
57
Capítulo 56 — Voz Que Rompe o Silêncio
58
Capítulo 57 — O Tabuleiro Final
59
Capítulo 58 — O Julgamento dos Reis
60
Capítulo 59 — Vozes Fora do Tribunal
61
Capítulo 60 — O Peso da Verdade
62
Capítulo 61 — A Última Carta no Jogo
63
Capítulo 62 — A Criança no Tabuleiro
64
Capítulo 63 — O Sangue que Retorna
65
Capítulo 64 — A Ultima Jogada
66
Capítulo 65 — O Cerco Final
67
Capítulo 66 — O Tabuleiro Revelado
68
Capítulo 67 — Armadilhas no Silêncio
69
Capítulo 68 — O Último Lance
70
Epílogo — Depois do Jogo

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