6 MEU REFÚGIO

ANASTÁCIA

Subi para o meu quarto em silêncio. Cada passo era como um golpe, pesado, arrastado, como se o chão pudesse se abrir a qualquer momento para me engolir inteira. Quando fechei a porta atrás de mim, a respiração que eu segurava explodiu em um choro sufocado, tão doloroso que parecia rasgar meu peito por dentro.

Meus olhos estavam vermelhos, inchados, mas o que mais doía era a sensação de não me reconhecer no espelho da alma. Quem sou eu, afinal? Uma filha ilegítima? Uma moeda de troca nos jogos de poder de Antony? Um fantoche nas mãos de um homem que nunca me deu sequer um abraço?

A ideia de ser entregue a um desconhecido queimava como ferro em brasa. Quem será esse homem? Será cruel como meu pai? Um estranho absoluto? Ou, pior, alguém cujo nome já ouvi sussurrado nos corredores de sangue e segredo? A incerteza era um veneno, e cada possibilidade me sufocava mais.

Fechei os olhos tentando buscar refúgio no único lugar em que ainda existo inteira: o balé. A lembrança do palco, da música preenchendo o silêncio, do meu corpo livre em cada movimento… ali eu não sou filha de Antony, não sou bastarda, não sou prisioneira. Sou apenas Anastácia. Mas até isso parece estar ameaçado. E se me tirarem também a dança?

Na escuridão do quarto, fiz a única promessa possível a mim mesma: se não posso escolher o meu destino, vou ao menos lutar para não perder quem eu sou.

A madrugada se arrastou em pedaços quebrados de sono. Nos sonhos, o riso venenoso de Helena, o olhar gelado do meu pai, e a sensação esmagadora de estar presa em uma gaiola invisível. Acordei antes do amanhecer, o corpo exausto, a mente em guerra.

Caminhei até a janela. O dia nascia cinzento, como sempre, mas mesmo assim parecia ter mais cor do que a minha vida. Foi nesse instante que ouvi um leve bater à porta.

Madalena: Minha menina?

Anastácia: Madá…

Corri para ela sem pensar. Me joguei em seus braços como fazia quando era criança. O cheiro dela, o calor do abraço… tudo aquilo me deu a sensação de um lar que nunca tive.

Madalena: Shhh… eu sei, meu anjo. Seu pai me contou. Sabia que você não conseguiria dormir. Vim te ver e olha só… esses olhos inchados e vermelhos.

Anastácia: Eu não sei com quem, não sei por quê… só sei que estou sendo entregue como se fosse nada.

Madalena: Ninguém nesta casa sabe, nem sua madrasta. Ele apenas disse no jantar que você vai se casar. Só isso. Anastácia, você é tudo o que uma mãe poderia sonhar neste mundo.

Anastácia: Nunca vou saber disso…

Madalena: Nunca conheci sua mãe, mas tenho certeza: ela lutou por você, deu a vida para que estivesse aqui. Nunca se esqueça disso.

Anastácia: Eu vou lutar pela minha felicidade. Mas tenho medo, Madá. Medo de ser destruída… de me apagarem até que eu não exista mais.

Madalena: É esse medo que vai te manter firme, menina. Transforme-o em força.

Anastácia: Então, agora, sinceramente… Quero e preciso voltar para o meu mundo, que eu sou livre. Vou para a faculdade. Vou me entregar inteira à minha apresentação final, como se fosse a última vez que eu pudesse respirar. Entao preciso ensaiar.

Madalena: Então venha. Antes vamos colocar algo nesse estômago antes.

E assim eu fiz… fui para o meu refúgio, onde o silêncio da sala de ensaio sempre me transforma. Vesti meu collant, prendi o cabelo e deixei que o corpo se lembrasse de cada gesto.

A cada salto, cada extensão de braços me devolvia por instantes a sensação de liberdade que me roubam todos os dias nesta casa.

Mas, ao mesmo tempo, um aperto dilacerante crescia em meu peito. A cada movimento, eu me perguntava: até quando? Quantas vezes mais poderei me perder na dança antes que me arranquem dela?

Senti uma dor tão grande que meus olhos marejaram. Não era só o medo do desconhecido… era o luto por algo que ainda não perdi, mas já sinto escapar das minhas mãos. Como se já soubesse que não viverei dançando como tanto amo.

E assim os dias foram passando até chegou o dia da apresentação...

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Comments

Carla Santos

Carla Santos

Sinceramente Alina tem quer gostar dela logo de cara ser amigas de alma mesmo ela sendo psicopata maluca doida mas amiga protetora acima de tudo

2025-09-05

1

Cida Mendes

Cida Mendes

Eu espero que a amiga do Dom goste dela e se tornem grandes amigas e,ela possa aprender a se defender e adquirir alto confiança

2025-09-04

1

Leitora compulsiva

Leitora compulsiva

ela encontrou no balé um refúgio pra fugir das trevas q é a vida dela

2025-09-04

1

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