Eu acreditava que a conversa terminaria ali, abafada pela presença orgulhosa de meu pai, mas Damian parecia determinado a não me conceder esse alívio. Seus olhos, que até então haviam permanecido firmes nos meus, baixaram apenas para se fixar em minhas mãos. Antes que eu pudesse me afastar, sua voz soou de forma clara o suficiente para ser ouvida pelos que estavam próximos:
— Concederia-me esta dança, Lady Eveline?
Não era um pedido. A mão estendida diante de mim era firme, quase um desafio, e todos sabiam que recusar seria não apenas uma descortesia, mas um escândalo que meu pai jamais perdoaria. Por um instante, minhas mãos hesitaram, geladas, incapazes de decidir entre recuar ou aceitar. Então, vencida pelo peso das convenções, coloquei meus dedos sobre os dele.
A diferença foi imediata. Não era a mão macia de um aristocrata que vive de taças e debates ociosos. Sua pele era quente, calejada, marcada por experiências que não pertenciam ao mundo confortável dos salões. Era uma mão que conhecia armas, frio, dor. E, ainda assim, segurava a minha com firmeza calculada, nem violenta nem suave demais, mas de um jeito que me fez sentir que não havia saída.
O salão abriu espaço para nós como se soubesse a importância do instante. Os músicos iniciaram uma valsa, e ele me guiou até o centro da pista. Os olhares acompanharam cada passo, e pude sentir os murmúrios se espalhando como ondas. Eu, que tantas vezes havia dançado por obrigação em temporadas passadas, pela primeira vez sentia que cada gesto estava carregado de significado.
Quando a mão dele pousou em minha cintura, mesmo através das camadas de tecido, um arrepio percorreu meu corpo. A proximidade era medida, correta, mas intensa demais para não me afetar. Nossos corpos se moveram juntos, obedecendo à música, mas a dança não era apenas uma exibição de técnica: era um campo de batalha silencioso. Cada passo parecia um duelo, cada giro, uma provocação.
— Dizem que as damas desta temporada sonham em conquistar atenções — ele murmurou, a voz baixa, quase íntima, roçando em meu ouvido. — Mas você parece sonhar em fugir delas.
Engoli em seco, mantendo o sorriso educado que se esperava de mim. Minha resposta saiu baixa, firme, quase como uma confissão disfarçada:
— Nem todo sonho merece ser seguido, milorde.
Senti a pressão da mão dele em minha cintura aumentar por um breve instante, como se aquela simples frase tivesse provocado algo inesperado. Seus olhos, escuros e insondáveis, estreitaram-se, e eu não consegui decifrar se havia ali irritação, respeito ou apenas curiosidade.
O salão girava ao nosso redor, as luzes refletiam nos cristais, mas para mim tudo se resumia àquele olhar que me prendia e à certeza de que aquela não era apenas uma dança. Era o prenúncio de uma guerra — e eu não sabia se estava preparada para sobreviver a ela.
A valsa chegava ao fim, e eu sentia como se o tempo tivesse se alongado ao ponto de se tornar insuportável. Cada compasso da música, cada volta que ele me obrigava a dar sob seu comando, aumentava a sensação de estar presa numa rede invisível. Damian não falava mais; apenas observava. Seu silêncio era mais perturbador do que qualquer provocação.
Quando a última nota ecoou, e o salão explodiu em aplausos, ele não me soltou de imediato. Manteve a mão firme em minha cintura, sustentando-me como se ainda estivéssemos no meio da dança. Eu tentei recuar, dar um passo atrás, mas sua força discreta me reteve por um instante a mais — o suficiente para que o mundo ao redor desaparecesse outra vez.
— Você dança como quem luta, Lady Eveline — disse por fim, a voz baixa e rouca. — Como alguém que nunca se rende de imediato.
Meu coração disparou, não apenas pela frase em si, mas pela forma como ele a disse. Não era um elogio banal, como tantos que já ouvira. Era um aviso.
— Talvez seja porque não me agrada a ideia de me render — respondi, surpreendendo até a mim mesma pela firmeza do tom.
Por um breve segundo, vi um brilho surgir em seus olhos, como se minhas palavras tivessem atiçado uma chama oculta. Ele então inclinou-se, e o calor de sua respiração roçou minha orelha quando murmurou:
— Ainda assim, todos se rendem, Eveline. Uma hora ou outra.
Meu nome, pronunciado com tanta naturalidade, soou como um selo. Não havia mais títulos, formalidades ou distância. Apenas a promessa silenciosa de que ele não recuaria — e de que, cedo ou tarde, esperava ver-me ceder.
Quando finalmente me soltou, minhas pernas estavam trêmulas, e só o hábito de anos sustentando a postura em salões salvou-me de cair em desgraça diante de todos. Afastei-me, mantendo o sorriso delicado no rosto, mas dentro de mim a batalha já havia começado.
Naquele instante, soube com absoluta clareza: meu destino não seria o de uma dama sonhadora que encontra no casamento apenas segurança. O homem diante de mim não oferecia paz. Oferecia guerra.
E meu coração, contra toda a lógica, batia como se estivesse pronto para lutar por alguém que ele de um jeito que eu não compreendia escolheu amar.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 52
Comments
Dulce Gama
Ele é muito estrategista é como se. ele estivesse lendo na cara da pessoa tudo que ele pensa e acha eu hein 👍👍👍👍👍🌹🌹🌹🌹🌹🎁🎁🎁🎁🎁❤️❤️❤️❤️❤️
2025-08-31
1