Mais de Um Marido
O som do meu despertador ecoou como se quisesse me lembrar que amanhã tudo mudaria. Não que minha vida estivesse ruim – longe disso –, mas o Insider Creators Awards era a oportunidade de ouro que qualquer criadora de conteúdo sonharia em ter. Eu, Samile, com meus cabelos ruivos cacheados, pele clara e sardas leves que pareciam dançar ao sol, estava prestes a embarcar numa viagem que podia definir minha carreira. Meu vlog tinha crescido muito nos últimos meses, e cada like, cada comentário, cada compartilhamento parecia empurrar meu nome mais para frente. Eu sorria para mim mesma diante do espelho, ajeitando uma mecha rebelde do meu cabelo, tentando imaginar como seria caminhar pelo tapete vermelho.
Antes de me perder totalmente nos pensamentos sobre prêmios e flashes de câmeras, meu celular vibrou, interrompendo minha contemplação. Era ela, minha melhor amiga, sempre impulsiva, sempre pronta para me arrastar para qualquer confusão. Atendi com um suspiro:
— E aí, ruiva, vai me largar sozinha na balada amanhã ou vai me acompanhar? — sua voz vinha carregada daquele riso fácil e vulgar que me fazia rir e suspirar ao mesmo tempo.
— Não vou, Lari — respondi, tentando soar firme. — Amanhã tenho que acordar cedo para pegar o voo, e você sabe muito bem como você é… sempre um copo, e quando pisca, já bebeu meia garrafa e esqueceu tudo no dia seguinte.
Ela gargalhou, lembrando de alguma noite louca que tivemos — provavelmente cheia de drinks derramados e risadas que ecoaram madrugada adentro.
— Verdade… aquela noite foi insana — ela admitiu, ainda rindo. — Mas tudo bem, eu entendi. Se está assim tão preparara pra amanhã, é melhor não perder o horário, quero te ver no aeroporto bem cedinho, hein?
— Pode deixar — eu disse, tentando esconder a ponta de desconfiança que apertava meu peito. Desliguei a chamada, mas aquele riso dela ainda ressoava na minha mente. Lari sempre teve a capacidade de me tirar do eixo, mesmo quando eu tentava manter tudo sob controle.
Mas ainda acabei largando o celular sorrindo, sentindo um calor de carinho que sempre me confortava. Digitar aquelas palavras me fez lembrar que, apesar da vida corrida e das noites de ansiedade, e pelo fato de não ter pais ou família, eu não estava sozinha.
Suspirei, virando-me para encarar a mala aberta no chão do quarto. Cada item já havia passado por minha análise mental várias vezes: roupas, cabides, produtos de higiene, carregadores, meu notebook, câmeras, lentes. Tudo precisava estar impecável, perfeito. Era o meu ritual de controle, meu jeito de reduzir a ansiedade. Coloquei a última blusa cuidadosamente, ajeitando cada dobra com precisão quase obsessiva, antes de fechar a mala com um estalo satisfeito.
O banho quente que tomei depois parecia relaxar meus músculos, mas não minha mente. A viagem, os preparativos, o medo de esquecer algo importante… tudo isso se misturava, deixando meu corpo alerta e minha cabeça girando. E então, uma decisão veio natural, quase instintiva. Um ritual privado, que sempre me ajudava a liberar a tensão que a vida insistia em colocar sobre mim. Fechei os olhos, deixando as mãos explorarem cada curva do meu corpo, sentindo a pele sensível, o calor que subia lentamente.
Foi um momento só meu, íntimo, de total entrega aos sentidos. Meu corpo respondeu como sempre respondia, cada toque uma onda de alívio e prazer, meu coração acelerando em sincronia com cada suspiro contido. Era a forma que eu encontrava para sentir-me inteira, para acalmar o estresse que se acumulava nos ombros e na mente. O calor que percorreu minha espinha me deixou leve, quase flutuante, permitindo-me finalmente soltar a rigidez do dia.
Quando saí do banho, envolta na toalha, ainda sentia a pele sensível, os braços um pouco dormentes de prazer e relaxamento. Vesti meu conjunto mais confortável: uma calcinha de algodão macio e um top simples, sem bojo, que deixava meu corpo respirar. Deitei na cama, sentindo o tecido roçando suavemente contra minhas nádegas, o colchão acolhendo cada curva do meu corpo, os lençóis macios deslizando sob minha pele. Cada respiração parecia uma onda que embalava meu corpo, cada movimento, mesmo mínimo, era um lembrete de que eu podia me entregar à própria intimidade sem culpa.
Olhei para o teto, deixando a mente vaguear pelos pensamentos da viagem, dos flashes, dos risos e das possíveis conquistas. Mas havia também o desejo de relaxar, de deixar a tensão ir embora, de me sentir segura no meu espaço, no meu corpo, comigo mesma. O calor nos meus seios e o contato do tecido no meu corpo me fazia sentir viva, poderosa e vulnerável ao mesmo tempo.
Fechei os olhos e me deixei afundar lentamente no sono, sabendo que, ao despertar, uma nova aventura me aguardava. Uma que me faria atravessar céus e nuvens, sentir a excitação de desconhecido e esperado, e enfrentar o mundo com meu cabelo ruivo ao vento e meu sorriso confiante. Mas naquela noite, naquele momento, eu só era eu. Samile. Sozinha, íntima e inteira, deixando-me embalar por uma sensualidade tranquila e segura, antes de mergulhar no descanso que precisava para encarar o amanhã.
...***...
A luz atravessava as frestas da cortina quando abri os olhos, e por um segundo achei que estava apenas num sonho preguiçoso de domingo. Mas o relógio piscava impiedoso na cabeceira da cama: eu estava atrasada.
O coração disparou, e senti o corpo inteiro pular da cama num reflexo automático. As sensações da noite anterior ainda ecoavam, o corpo leve, a pele suave contra o tecido, mas não havia tempo para me demorar em lembranças. Eu tinha um voo para pegar.
Levantei apressada, os pés descalços encontrando o chão frio. Corri para o banheiro e lavei o rosto, deixando a água gelada despertar meus sentidos. O espelho me devolveu a imagem descabelada, com olhos verdes esmeralda meio sonolentos, mas ainda brilhantes de expectativa. Respirei fundo, abrindo a nécessaire sobre a pia.
Primeiro, o protetor solar — espalhei com cuidado, sentindo o creme fresco deslizar pela pele. Depois, um blush rosado nas maçãs do rosto, dando aquele ar de saúde e frescor que eu sabia que as câmeras adoravam. Meus lábios carnudos receberam um batom rosa cereja, macio, cremoso, que destacava cada curva deles. Passei a língua levemente sobre o lábio inferior, sentindo o sabor adocicado da tinta, como se já fosse um beijo antes mesmo de acontecer.
O toque final foi a máscara de cílios. Com cada aplicação, meus cílios se alongavam, fazendo meus olhos verdes ganharem mais profundidade. Inclinei o rosto de leve diante do espelho, me observando com aquele prazer secreto de quem sabe que está pronta para encarar o mundo. E, no fundo, também para ser encarada.
Arrastei a alça da mala pelo apartamento até a porta. Girei a chave duas vezes, sentindo o clique metálico confirmar que tudo estava seguro. Uma última olhada para trás — o espaço vazio, cheiroso de lavanda e silêncio, aguardando meu retorno.
Peguei o celular, confirmei a notificação: o Uber estava a caminho.
Na rua, o ar da manhã estava carregado, pesado. As nuvens cinzentas cobriam o céu como um manto espesso, e por um instante me senti menor diante daquela imensidão nublada. O carro estacionou à minha frente e entrei rapidamente, ajeitando a mala no banco de trás.
A viagem até o aeroporto foi silenciosa. O motorista apenas acenou, e eu fiquei perdida em pensamentos: prêmios, discursos, encontros, oportunidades… meu coração batia no mesmo ritmo da paisagem que passava depressa pela janela.
Mas, enquanto puxava minha câmera pra tirar umanfoto pra postar nos store enquanto chegava à entrada do aeroporto, um detalhe me arrancou desse transe.
Um homem, com roupas gastas e olhar vazio, segurava uma placa de papelão. As letras tortas diziam:
“O fim dos tempos é o início da nova era.”
Pessoas passavam rápido, desviando os olhos, algumas até fazendo o sinal da cruz como se aquilo fosse um mau presságio. E, de fato, parecia. Um arrepio percorreu minha espinha quando percebi que o mendigo estava me encarando. Seu olhar não era de pedido, mas de aviso. Como se soubesse algo que eu não sabia.
Apertei a alça da mala com força, tentando afastar a sensação estranha. Balancei a cabeça, decidindo que aquilo não passava de loucura. Não podia deixar um olhar perdido arruinar o brilho do dia mais importante da minha carreira.
Respirei fundo, bati minha foto apesar da iluminação na estar a meu favor e entrei no saguão e me aliviei ao ver o painel eletrônico: ainda estava em tempo. O embarque era em breve, mas não havia perdido nada. Soltei o ar lentamente, deixando o coração acalmar.
Sentei-me em uma das poltronas do portão de embarque, ajeitando a saia jeans que usava e passando os dedos distraídos sobre o batom, verificando se continuava intacto. Meu corpo estava alerta, ainda tomado pela sensação de que algo pairava no ar.
Um toque suave no meu ombro me fez quase saltar da cadeira.
— Adivinha quem chegou, porra? — a voz conhecida me arrancou um riso nervoso.
Virei o rosto e lá estava ela: Lari. A mesma de ontem, a mesma de sempre, com aquele sorriso atrevido que parecia esconder todas as histórias que o mundo não deveria ouvir.
— Você quase me mata do coração, Lari — resmunguei, mas já rindo. — Achei que fosse me deixar na mão.
— E olha quem chegou no último minuto.
Ela riu alto, sentando-se ao meu lado e cruzando as pernas com descuido.
— Imagina se eu ia perder a chance de viajar com você? Nem fodendo. Além disso, menina, o café daqui é um escândalo. E não é nem pelo café, viu? É pelo garçom. Puta que pariu, que homem! — ela revirou os olhos dramaticamente, como se só de lembrar já fosse um orgasmo. — Ele tem uns braços que dá vontade de me pendurar neles, e uma boca… ai, a boca…
Cobri o rosto com a mão, rindo e balançando a cabeça.
— Lari, pelo amor de Deus. Você não muda nunca.
— E nem quero mudar, bebê — ela piscou, maliciosa. — Já peguei o contato dele, ó! — exibiu o celular, onde um número recém-salvo brilhava na tela. — Vou te falar… eu tô com uma vontade de pular na boca daquele homem que você não tá entendendo.
Revirei os olhos e soltei uma risada.
— Você está praticamente montando um harém com todos os contatos bonitos que coleciona no seu celular.
Ela deu um tapa leve no meu braço, fingindo indignação.
— Harém nada, é só minha lista de prioridade. Nunca se sabe quando vou precisar de… companhia.
Olhei para ela, ainda rindo, mas ao mesmo tempo admirando sua ousadia. Lari tinha uma forma de viver que me desconcertava e, no fundo, me fascinava. Onde eu era organizada, ela era caos. Onde eu buscava controle, ela mergulhava em desejos.
Enquanto ela falava sobre o garçom, eu me pegava observando seus lábios pintados de vermelho, seu jeito desinibido de cruzar as pernas e jogar os cabelos para trás. Era impossível não perceber o magnetismo que ela carregava.
O tempo passou rápido entre nossas conversas e risos abafados. Mas, lá no fundo, aquela sensação estranha ainda me acompanhava. A lembrança dos olhos do mendigo queimava em algum canto da minha mente, como uma fagulha prestes a se transformar em incêndio.
Ainda assim, deixei-me levar pela companhia de Lari, pelo som da sua risada e pelo perfume forte que ela sempre usava — doce, quase inebriante.
O embarque foi anunciado, e nos levantamos juntas. O coração voltou a acelerar, não apenas pela ansiedade da viagem, mas por algo que eu ainda não conseguia nomear. Algo que estava para acontecer.
E, enquanto puxava minha mala em direção à fila, senti os olhos de Lari em mim, avaliando, talvez orgulhosa, talvez cúmplice. E naquele instante percebi: o destino que me aguardava não era apenas o prêmio, as luzes ou o tapete vermelho. Era algo maior. Algo que começava ali, naquele aeroporto, sob o céu cinzento e os olhos de um desconhecido que anunciava o fim de uma era.
Mas, por ora, tudo o que fiz foi sorrir para Lari, ajeitar o batom rosa cereja nos lábios carnudos e seguir em frente.
O primeiro capítulo da minha nova vida estava apenas começando.
...***...
Se está gostando não deixe de curtir pra mim saber e me segue no coraçãozinho, bjs.
❤⃛ヾ(๑❛ ▿ ◠๑ )
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Atualizado até capítulo 49
Comments
Jessica Carmo
começando 02/09
2025-09-03
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