A semana que se seguiu ao baile foi um turbilhão de compromissos, reuniões e manchetes. Helena tentava manter o foco em seus negócios e no Instituto Duarte, mas, inevitavelmente, o nome de Gabriel aparecia em todas as conversas, fosse em entrevistas, fosse em encontros sociais.
“Quem é ele?”
“De onde surgiu?”
“Será um relacionamento sério?”
As perguntas ecoavam em cada esquina de sua vida. Helena respondia sempre da mesma forma: com sorrisos controlados e frases neutras. Mas dentro dela, o incômodo crescia.
Não era apenas sobre a curiosidade alheia. Era sobre o quanto ela mesma queria respostas que não tinha.
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Na terça-feira, marcaram um encontro em sua cobertura para revisar a agenda de eventos futuros. Helena o recebeu com um vestido leve, diferente dos trajes sofisticados dos bailes. Gabriel notou, mas não comentou. Apenas deixou escapar um sorriso discreto.
— Vejo que hoje a guerra exige menos armaduras. — disse ele, ao observar o ambiente mais descontraído.
— Até gladiadores descansam em algum momento. — ela respondeu, servindo-lhe um café.
Sentaram-se à mesa, papéis espalhados diante deles. Helena tentava manter a concentração, mas o olhar de Gabriel desviava sua atenção com frequência. Ele tinha aquele jeito silencioso, quase contemplativo, que a fazia se perguntar o que passava por trás daqueles olhos atentos.
— Não esperava que fosse lidar tão bem com a imprensa. — disse ela, após alguns minutos. — Pensei que ficaria incomodado.
— Já lidei com plateias mais duras do que jornalistas. — respondeu ele, sem detalhar.
— Como assim?
Ele se recostou na cadeira, pensativo.
— Digamos que já precisei representar papéis em lugares onde errar custaria caro.
Helena quis perguntar mais, mas conteve-se. Havia um muro em torno dele, e ela temia que, se pressionasse, esse muro se erguesse ainda mais alto.
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No meio da tarde, Patrícia apareceu de surpresa, trazendo convites para um jantar beneficente na sexta-feira. Quando viu Gabriel, arqueou uma sobrancelha.
— Ainda por aqui? — perguntou, em tom leve, mas carregado de curiosidade.
— Gabriel está me auxiliando em algumas questões sociais. — Helena respondeu rapidamente, sem dar espaço para mal-entendidos.
Patrícia não insistiu, mas seu olhar denunciava desconfiança. Helena percebeu que, mais cedo ou mais tarde, teria de enfrentar perguntas mais diretas.
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Naquela noite, após a visita inesperada, Helena e Gabriel permaneceram sozinhos na sala, revisando detalhes do jantar. Mas, em algum momento, os papéis ficaram de lado, e o silêncio se instalou entre eles.
Helena ergueu os olhos e encontrou o olhar dele fixo nela. Não havia julgamento, nem curiosidade. Apenas uma presença firme, quase reconfortante.
— O que foi? — perguntou ela, com um sorriso hesitante.
— Nada. — respondeu ele. — Só estava pensando em como você segura tudo isso sem desmoronar.
Ela riu, sem humor.
— É mais fácil do que parece. Basta se acostumar a usar máscaras.
— Máscaras são pesadas. — disse ele, sério. — Um dia, você esquece de tirá-las, e quando percebe, já não sabe mais quem é por baixo delas.
As palavras ecoaram fundo. Helena desviou o olhar, como se temesse ser desvendada.
— E você? — ela retrucou. — Também usa máscaras?
Gabriel demorou a responder. Finalmente, murmurou:
— Todos nós usamos. Mas algumas são mais difíceis de arrancar do que outras.
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Na quinta-feira, Helena recebeu um convite inesperado para uma entrevista em um programa de grande audiência. A assessoria a aconselhou a comparecer, pois seria uma oportunidade de reforçar sua imagem. Mas havia o risco de perguntas sobre Gabriel.
Na dúvida, ligou para ele.
— Preciso de você comigo. — disse, mais rápido do que pretendia.
Do outro lado da linha, ele permaneceu em silêncio por alguns segundos.
— Então estarei lá.
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Na noite da entrevista, o estúdio estava iluminado em tons de azul e dourado. Helena sentou-se diante da apresentadora, mantendo o sorriso ensaiado. Gabriel permaneceu discreto nos bastidores, mas sua simples presença era suficiente para acalmá-la.
As perguntas começaram leves, sobre o trabalho do Instituto, os novos projetos sociais, o baile beneficente. Mas, inevitavelmente, o tema chegou a Gabriel.
— E quanto ao novo acompanhante que a senhora levou ao baile? — perguntou a apresentadora, com um sorriso travesso. — Podemos dizer que Helena Duarte está apaixonada novamente?
O coração de Helena disparou. Por um segundo, pensou em negar, em criar uma resposta fria e ensaiada. Mas então, olhou discretamente para os bastidores e encontrou Gabriel, que observava com tranquilidade.
Foi nesse instante que algo dentro dela mudou.
— O que posso dizer é que Gabriel é uma pessoa muito importante para mim neste momento. — respondeu, com firmeza. — E o resto… o resto o tempo dirá.
O estúdio caiu em murmúrios discretos, e a apresentadora pareceu satisfeita com a resposta. Mas, para Helena, a revelação foi mais profunda.
Ela mesma não sabia se estava mentindo ou dizendo a verdade.
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Na saída, já no carro, Gabriel a encarou com um olhar curioso.
— Foi uma resposta ousada. — comentou.
— Não podia mentir. — disse ela, quase em um sussurro. — Pelo menos, não completamente.
O silêncio que se seguiu foi carregado de significados. Gabriel não disse nada, mas sua expressão denunciava algo que Helena ainda não ousava admitir em voz alta.
Algo estava crescendo entre eles, silencioso, inevitável.
E, a cada dia, o contrato parecia menos real do que o sentimento que surgia sob a pele da mentira.
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Atualizado até capítulo 34
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