O domingo amanheceu com uma enxurrada de notícias. As revistas de sociedade, os portais online e até mesmo colunistas políticos dedicaram manchetes à aparição inesperada de Helena Duarte ao lado de um misterioso acompanhante.
"Milionária ressurge com novo amor em baile beneficente", dizia uma delas.
"Quem é o advogado que conquistou o coração de Helena Duarte?", questionava outra.
As fotos circulavam em todas as redes sociais: Helena de vestido azul, Gabriel em seu smoking impecável, os dois dançando no centro do salão como se o mundo fosse apenas deles.
Helena, ainda deitada em sua cama, deslizou o dedo pela tela do celular e suspirou. Parte dela sentia alívio. A estratégia funcionara. Mas outra parte — a mais silenciosa — sentia o peso de ter sua vida reduzida a especulações.
No mesmo instante, Gabriel tomava café em seu apartamento simples. Lia as matérias com um olhar atento, mas sereno. Não parecia abalado pelo furor em torno de sua identidade. Pelo contrário: até mesmo sorriu diante de uma foto em que aparecia segurando a mão de Helena durante a dança.
Pegou o celular e enviou uma mensagem curta:
"Não se preocupe. Você saiu magnífica. O resto é ruído."
Helena leu a mensagem minutos depois e, sem perceber, sorriu.
Na segunda-feira, no escritório do Instituto Duarte, os comentários já circulavam entre funcionários e parceiros. Helena entrou na sala de reuniões com a postura impecável de sempre, mas sentia os olhares curiosos, os cochichos abafados.
Durante uma apresentação de projetos, Patrícia — amiga de longa data e colaboradora do Instituto — não resistiu:
— Preciso dizer, Helena, você estava deslumbrante no baile. E seu… acompanhante? De onde surgiu aquele homem?
A sala inteira aguardava a resposta, como estudantes esperando a professora revelar um segredo.
Helena manteve o tom neutro:
— Gabriel é um advogado, amigo da família. Ele aceitou me acompanhar para me apoiar na ocasião.
Patrícia arqueou uma sobrancelha, descrente, mas não insistiu. Ainda assim, Helena sabia que os comentários não cessariam tão cedo.
No fim da tarde, recebeu uma ligação inesperada.
— Helena. — a voz de Marcelo, seu ex-marido, ecoou pelo telefone.
Ela fechou os olhos por um instante, respirando fundo.
— O que você quer, Marcelo?
— Só liguei para dizer que você foi rápida. — o tom dele estava carregado de ironia. — Mal nos divorciamos e já desfila de braços dados com outro.
— Não devo satisfações a você. — ela respondeu, firme. — O que faço da minha vida não lhe diz respeito.
— Ah, claro… — ele riu, seco. — Mas não pense que esses joguinhos vão apagar o que aconteceu. Você pode enganar a imprensa, mas eu sei quem você é.
Antes que pudesse reagir, ele desligou.
Helena ficou com o telefone na mão, o coração acelerado. A arrogância de Marcelo ainda a feria, mesmo depois de tudo. Mas, ao mesmo tempo, a raiva servia de combustível. Ela não permitiria que ele definisse sua narrativa.
Naquela noite, encontrou-se com Gabriel em um restaurante discreto nos Jardins. Precisavam alinhar a forma de lidar com a imprensa, mas, no fundo, Helena só queria respirar ao lado dele, longe dos holofotes.
Ele chegou pontual, como sempre, e quando a viu, inclinou a cabeça em um cumprimento simples.
— Parece cansada. — observou.
— Estou. — admitiu. — O baile foi só o começo.
Sentaram-se em uma mesa reservada, e durante alguns minutos falaram sobre detalhes práticos: entrevistas que ela recusaria, comunicados oficiais que sua assessoria prepararia. Mas, aos poucos, a conversa desviou.
— Como você faz isso? — perguntou ela, olhando-o com curiosidade. — Como consegue estar no centro de tantos olhares e, ainda assim, parecer intocado?
Gabriel pensou por um instante antes de responder:
— Talvez porque eu saiba que esses olhares não me pertencem. Eles pertencem ao espetáculo. Eu apenas caminho por ele.
Helena ficou em silêncio. Nunca havia pensado daquela forma. Para ela, cada olhar era um peso, um julgamento. Mas, para Gabriel, eram apenas… reflexos.
— Você fala como se fosse fácil. — ela murmurou.
— Não é. — respondeu ele, firme. — Mas é possível.
Nesse momento, Helena percebeu algo: Gabriel não era apenas um contratado, não era apenas um ator desempenhando um papel. Ele carregava experiências, feridas, histórias que ela ainda desconhecia.
E, pela primeira vez, desejou conhecer mais.
Quando saíram do restaurante, a noite estava fria. Gabriel se ofereceu para levá-la até o carro. No caminho, alguns fotógrafos surgiram repentinamente, câmeras em punho.
— Senhora Duarte! Helena! Quem é o novo namorado?
Os flashes iluminaram a rua como relâmpagos. Helena parou, hesitante. Mas Gabriel não vacilou. Aproximou-se, colocou o braço em torno dela e a conduziu com firmeza até o carro.
— Sem comentários, senhores. — disse ele, sem alterar o tom de voz.
No interior do carro, com as portas fechadas, Helena respirou fundo. O coração ainda disparava, mas, estranhamente, sentia-se segura.
— Você não hesitou. — disse ela, quase surpresa.
— Não havia motivo para hesitar. — respondeu ele, simples. — Minha função é proteger você, lembra?
Ela o encarou por alguns segundos. Havia algo em sua calma que desarmava até mesmo os medos mais antigos.
— Gabriel… — começou ela, mas a frase morreu em seus lábios.
Ele não perguntou o que ela diria. Apenas manteve o olhar firme, como quem entende o silêncio melhor do que qualquer palavra.
Naquela noite, deitada em sua cama, Helena não conseguiu dormir. As imagens do baile, as palavras de Marcelo, os flashes dos fotógrafos, tudo se misturava em sua mente.
Mas, acima de tudo, permanecia uma certeza: Gabriel estava deixando de ser apenas um contrato.
Ele se tornava algo maior.
Algo perigoso.
Algo inevitável.
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Atualizado até capítulo 34
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