O mundo humano é barulhento demais. Carros, vozes, passos apressados… Mas nada disso importa. Eu não sinto nada disso. Só sinto ela.
Segui Solenne com cuidado, mantendo distância, cada passo medido. Pequenas faíscas douradas escapavam dela sem que percebesse, minúsculas ondulações de luz que faziam o ar vibrar ao seu redor. Fascinante. Perigoso. Intrigante.
Ela percebeu.
Quando finalmente desacelerou e começou a olhar por cima do ombro, pude sentir o medo crescendo. Não compreendia de onde vinha, mas sabia que minha presença a incomodava. E isso era ainda mais interessante.
Ela se virou abruptamente, olhos arregalados, os livros contra o peito como escudo.
— Ei! Quem é você? Por que está me seguindo? — a voz tremia, mas tentava firmeza.
— Seguindo? — murmurei, aproximando-me lentamente, mantendo apenas a distância suficiente para deixá-la inquieta. — Não… apenas observo. É diferente. Interessante. E você… você sabe o que tem dentro de si, mesmo que tente ignorar.
Ela engoliu em seco, recuando um passo.
— Eu não sei do que você está falando! — disse, a voz tremendo. — Eu vou… vou chamar a polícia!
Sorri, sarcástico e frio.
— Ah, claro. Polícia. Muito eficaz contra algo que você nem percebe ainda. Não me incomoda nem um pouco.
Ela franziu o cenho, os olhos arregalados, tentando organizar os pensamentos.
— Você é louco! — disse, respirando fundo. — Está me assustando e não faz sentido nenhum!
— Louco? Talvez. Mas você também sabe o que está acontecendo. — Aproximei-me um pouco mais, o olhar fixo nela. — Algo dentro de você mexe com o mundo. Algo que você ainda não quer admitir.
— Eu… Eu não sei do que você está falando! Eu sou apenas eu! — disse, tentando parecer firme. Mas seus olhos denunciavam confusão e medo.
— “Apenas você”? — murmurei, cruzando os braços, sarcástico. — Interessante definição. Porque algo em você é vivo. Algo que você não controla. Algo que ninguém mais sentiria.
Ela respirou fundo, segurando os livros com força, os dedos tremendo.
— Eu não entendo… Você está falando coisas impossíveis!
— Impossíveis? — repeti, frio. — Para você, talvez. Mas para mim… — uma leve inclinação da cabeça, observando cada reação — isso é fascinante. Nunca senti algo assim antes. E agora que você apareceu, mexendo com isso novamente… a curiosidade me consome.
Ela recuou mais um passo, tropeçando em uma pedra. Uma pequena faísca escapou dela, e senti novamente aquele calor que atravessou minha essência no Inferno, anos atrás. Fascinante.
— Eu vou embora agora! — disse, decidida, tentando parecer corajosa. — Você é… maluco, está me ameaçando ou sei lá!
— Vá, então. — murmurei, indiferente. — Mas lembre-se de uma coisa: quando quiser entender melhor… diga meu nome em voz alta. Eu aparecerei, Azeriel. E talvez então você consiga enfrentar o que está escondendo dentro de si.
Ela parou abruptamente, olhos arregalados.
— Azeriel? Que… que tipo de loucura é essa?
— Loucura? — murmurei, divertido. — Talvez. Ou talvez seja a única chance que você terá de descobrir a verdade. Mas só quando estiver pronta para admitir o que sente.
Ela engoliu em seco, ainda segurando os livros contra o peito, confusa e assustada.
— Você… você é impossível. — disse, finalmente, com uma mistura de irritação e medo. — Eu não sei se devo te chamar de louco ou de… sei lá.
— Escolha como quiser. — Eu sorri de lado, observando-a recuar. — Mas lembre-se: Azeriel. Em voz alta. Eu estarei lá. Não me engana.
Ela virou a esquina rapidamente, tentando escapar da sensação estranha que minha presença provocava. Mas eu a observei, passos leves, cada gesto, cada respiração, cada brilho de energia que escapava sem que ela percebesse. Fascinante. Intrigante. Perigoso.
E, pela primeira vez em séculos, percebi algo que há muito não sentia: curiosidade verdadeira.
Porque algo dentro dela não era humano. Não era previsível. E eu precisava entender.
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Atualizado até capítulo 65
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