Nasci em uma manhã comum, com o céu pintado de tons suaves de azul e dourado, como se o mundo estivesse tentando me cumprimentar. Para mim, era apenas a primeira sensação do calor do sol na pele, o cheiro de flores e de terra molhada. Não havia nada extraordinário naquele instante — mas, aos poucos, fui percebendo que, para mim, o mundo tinha nuances que outros não pareciam notar.
Minha infância foi feita de pequenos detalhes que ninguém explicava: livros que pareciam abrir sozinhos nas páginas que eu precisava, luz que parecia mais intensa quando eu estava feliz ou assustada, e plantas que cresciam mais rápido ao meu redor sem motivo aparente. Meus pais diziam que eu tinha imaginação fértil, que era sonhadora, curiosa, mas eu sentia algo diferente. Algo dentro de mim que não sabia nomear.
Crescer foi uma mistura de inocência e perguntas silenciosas. Aprendi a andar, correr, cair e levantar como qualquer criança. Mas havia momentos em que eu sentia calor sem explicação, uma energia que parecia querer sair de mim, mas eu não conseguia controlar. Uma vez, quando tinha seis anos, coloquei a mão sobre a janela e senti a luz do sol pulsar de forma intensa, quase como se ela respondesse ao meu toque. Minha mãe me olhou assustada, e eu sorri, sem entender o motivo do susto dela.
Os dias se sucediam com a normalidade de uma vida humana: escola, amigos, festas de aniversário, pequenas frustrações e alegrias simples. Mas por mais que eu tentasse ser comum, havia momentos em que as coisas ao meu redor pareciam reagir à minha presença — o vento mudava de direção, sombras se afastavam, o calor do sol parecia me envolver como se estivesse vivo. Eu nunca contei a ninguém, nem mesmo a meus pais, que eram humanos comuns e me amavam com toda a simplicidade que podiam oferecer.
Aos oito anos, percebi que meus sonhos eram diferentes dos dos outros. Não eram apenas sonhos comuns, mas experiências vívidas: paisagens de luz, fogo que não queimava, vozes distantes chamando meu nome. Eu acordava com o coração acelerado, os olhos brilhando com uma sensação que eu ainda não conseguia explicar. Mas, no fundo, havia uma felicidade estranha — uma certeza de que eu era especial, mesmo que não soubesse exatamente o porquê.
Durante a adolescência, tudo ficou mais intenso. Minha curiosidade cresceu, junto com a sensação de que havia algo dentro de mim que não podia controlar. Se ficava muito tempo sob o sol, sentia calor demais, como se ele reagisse à minha presença. Eu me perguntava se todos sentiam isso, mas os olhares dos outros me diziam que não. A cada aniversário, a cada passagem de ano, percebia que eu era diferente.
Quando completei quinze anos, notei que minhas emoções começavam a influenciar o ambiente de forma mais evidente. Se eu estava triste, a luz ao redor parecia se apagar, e as plantas murchavam levemente, mesmo que eu não entendesse o motivo. Quando estava alegre, a luz parecia se intensificar, e pequenas faíscas douradas surgiam na ponta dos meus dedos sem eu tocar em nada. Cada gesto, cada sentimento, tinha um efeito que eu não compreendia.
Mesmo assim, a vida humana continuava. Eu estudava, tinha amigos, festas e pequenas aventuras comuns. Era tudo o que eu conhecia. Mas, entre sorrisos e conversas, havia sempre aquele sentimento de que eu carregava algo mais — um poder adormecido que não sabia usar e nem deveria existir ali.
Os dezoito anos chegaram silenciosamente. Nenhum alarde, nenhuma grande revelação. Apenas o dia que marcou minha passagem para a vida adulta. Eu ainda não sabia quem era realmente. Ainda não sabia que carregava o poder do Sol dentro de mim. Mas naquele aniversário, percebi algo diferente: uma sensação de energia que se acumulava, pulsando dentro do peito, intensa e quente, como se estivesse esperando o momento certo para se manifestar.
Naquele instante, eu não entendia nada. Só sentia que estava prestes a mudar. O mundo que eu conhecia como humano estava prestes a se expandir, a se revelar em cores e forças que ninguém poderia imaginar. E, sem saber, eu estava pronta para o despertar daquilo que me tornaria mais do que apenas humana.
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Atualizado até capítulo 65
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