l

.
.
.
“𝑻𝒖𝒅𝒐 𝒒𝒖𝒆 𝒆́ 𝒔𝒐́𝒍𝒊𝒅𝒐, 𝒅𝒆𝒔𝒎𝒂𝒏𝒄𝒉𝒂 𝒏𝒐 𝒂𝒓…”
.
.
.
Acordei em um lugar desconhecido, diferente. Dor de cabeça. Estômago embrulhado. Um cheiro que não era o meu.
Ninguém
Ninguém
Merda!
Um corpo ao lado que nem se quer reconheço — já sabia, fiz de novo. Respiro fundo, olhando ao redor a procura das peças de roupa que me faltam. Levanto, o desgosto na ponta da língua. Me visto de qualquer jeito, pego o celular, confiro a carteira no bolso da calça, cato o maço de cigarro da mesa e sem me olhar no espelho — um pouco pelo desprezo da imagem que refletiria — saio pela porta.
O sol brilhava forte, demais. Incômodo. Cerro os olhos tapando com uma das mãos ao sair do prédio em direção à rua. Xingo resmungando baixo comigo mesmo enquanto caminho, pegando o celular do bolso conferindo onde diabos eu tinha parado dessa vez.
Ninguém
Ninguém
Não tô tão longe pelo menos
Rota: 36 minutos a pé. Iniciar. Saco o maço, tiro um cigarro levando aos lábios, acendo tragando lento, começo a caminhar segundo instruções enquanto solto a fumaça. A cabeça latejando me punia por tudo que não conseguia lembrar da noite anterior. Aceitei de bom grado, merecido. Karma.
A camisa mal fechada, a calça amarrotada, a gravata pendendo sem sentido no pescoço… foda-se. Não era a primeira vez, talvez fosse assim que as coisas eram mesmo, o eterno castigo, o lado que nunca “vai chegar lá”.
Ninguém
Ninguém
Tsk! Merda de vida
Se eu me odeio? Quase sempre. As pessoas me olham, de fora, me julgam por meu status, meu intelecto, como me visto, a facilidade de interagir e sorrir, por ter conseguido “estabilidade”… — eu nunca nem soube o que era isso. A carcaça por fora, pode até parecer dura. Aqui dentro, sempre foi uma bagunça.
Termino o cigarro, falta muito ainda. Inquieto, mal pela ressaca, o corpo começando a suar… aperto o passo, só querendo desaparecer. Tento lembrar conforme caminho…
Ninguém
Ninguém
Quem caralhos era aquele cara? Nome… nome, nome, nome! Nem um nome?! Porra de cabeça fudida!
Irritado. Frustrado. Mas não surpreendido, eu me conheço bem. Quando entro naquele estado, sabia que ia sair do controle — eu sempre faço merda. Sai do trabalho e fui direto pro bar no caminho de casa, sem chance de ficar sozinho com meus pensamentos. Não hoje. Não depois que el-…
Ninguém
Ninguém
Não. De novo não. Falei que ia esquecer.
Saco o maço, acendo outro cigarro, sem perceber que já chegava no portão de casa.
Ninguém
Ninguém
Argh! Merda de dia!
Azar. Decido terminar antes de subir. Escoro na grade embaixo da árvore que tem ali, o olhar sobe tentando encontrar distração, qualquer coisa pra não pensar de novo — nele. Solto a fumaça devagar. Flashbacks mal configurados vindo de vez que outra na cabeça. Um copo. O cigarro nos dedos em cima do balcão. Música alta. Burburinho ao redor. O banheiro. Alguém se aproximando. Alguma merda saiu da boca dele. A mão na minha cintura.
Ninguém
Ninguém
Ahhh! Tsk… lixo! Fraco, idiota…
Parecia fazer sentido, ao primeiro sinal de que me notara eu fui pra cima dele. Provavelmente uma cena horrível, de péssimo gosto. Preferia não ter lembrado… a ânsia quase palpável de mim mesmo. Sorrio irônico, vencido
Ninguém
Ninguém
No fim, é isso que eu sou…
Apago o cigarro. Chave, portão, elevador, porta de casa. Finalmente. Cruzo por ela tirando os sapatos, a gravata largada no chão, termino de abrir a camisa e vou até a cozinha. Abro a geladeira. Água. Muita. Quase a garrafa inteira. Volto a me arrastar preguiçosamente pela casa até o banheiro. No reflexo, um vulto vergonhoso. Tento ignorar sem dar importância, tiro o resto de roupa e abro o chuveiro me colocando abaixo da queda d’água. A mão permanece recostada na parede, a cabeça pendente pra baixo…
Suspiro longo
.
.
.
Concentrando apenas na água que corre pelo corpo, o barulho, o frescor… juntei as mãos levando ao rosto, esfregando enquanto os pensamentos insistiam em voltar… eu fraco cedendo mais uma vez a eles… seu rosto, seu sorriso, seu cheiro, seus carinhos, os planos que fizemos, os sussurros que só seu ouvido conhecia da minha boca…
Ninguém
Ninguém
Merda!
Lembrar ti dói, porra dói muito. O corpo, a cabeça, o coração, a alma. Ainda. Me agarrando a qualquer outro corpo, tentando apagar qualquer vestígio de sentimento que ainda exista. Desesperado em esquecer. Mas as memórias… as lembranças… ah.. essas continuam aqui. A água segue correndo pelo meu cabelo, enquanto eu sigo imóvel, perdido em você de novo. Tapa. O rosto sentindo arder
Ninguém
Ninguém
Chega. Já foi…
Estado: deplorável. Desde a última mensagem, o último toque, a última chance. Idiota. Eu já devia saber que não devia ser digno de ninguém. Não sei manter, sou bom em afastar, em construir muros e me fechar. O resto? Não sei como funciona. Erro de fábrica, como dizem.
Desligo o chuveiro, seco com a toalha e enrolo na cintura, saindo em direção ao quarto. Na passada, pego o celular e me jogo na cama de costas. Os braços abertos, os olhos no teto. Olho pra tela… esperando. Qualquer coisa, nem que fosse pra me mandar pro inferno. Nada. Isso era o pior.
Incômodo? Que incômodo? Quando incomodou? Quando eu disse que fez isso? Raiva me consome. O silêncio devastando minha mente, o medo me segurando no mesmo lugar. Eu sabia que tava perdido quando te beijei já a primeira vez. O jeito como meu corpo respondia ao seu toque. Como eu me senti confortável em me abrir e me expor. Tudo que eu disse pra te trazer pra mais perto. Então, eu estraguei tudo. Surtos. Incertezas. Desconfiança. Nada mais era real e tudo podia ter sido apenas um sopro no ar.
É, defeito de fábrica que dizem.
Continuo sozinho deitado ali. Silêncio. O peso da própria existência, das próprias escolhas… da falta. O cabelo molhado sob a cama, a respiração continua interrompida só por suspiros vez que outra… fecho os olhos sentindo a brisa fria que entrava pela fresta entreaberta da janela, balançando a cortina… levo os olhos até o céu do lado de fora, o sol continuava forte, brilhante e quente, sorrio triste lembrando de uma conversa que não deveria.
.
.
.
Mais populares

Comments

ɞ ·₊˚ Hε¢τσя Gυɨгคlє ˚₊· ʚ

ɞ ·₊˚ Hε¢τσя Gυɨгคlє ˚₊· ʚ

Até aqui o Lin não deixa o cigarro 🙂‍↔️

2025-08-17

3

ɞ ·₊˚ Hε¢τσя Gυɨгคlє ˚₊· ʚ

ɞ ·₊˚ Hε¢τσя Gυɨгคlє ˚₊· ʚ

Sinto que não é apenas uma obra fictícia. É um desabafo.

2025-08-17

1

ɞ ·₊˚ Hε¢τσя Gυɨгคlє ˚₊· ʚ

ɞ ·₊˚ Hε¢τσя Gυɨгคlє ˚₊· ʚ

Para de falar palavrão, porra

2025-08-17

2

Ver todos
Capítulos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!