Presa na Mentira Que Vesti

Mavis Marshall

Cada passo ao lado de Jensen pesava em mim como se fossem mil. Meu vestido era lindo, o salão deslumbrante, os sorrisos ao redor pareciam saídos de um conto de fadas... mas tudo em mim gritava.

Porque eu não era a noiva. Eu não era Mayra. E aquela noite não deveria ser minha.

A música tocava suavemente ao fundo, os convidados ainda riam, brindavam, dançavam, mas eu só conseguia pensar em uma coisa: ele queria a noite de núpcias. Claro que queria. Qual homem, após um casamento oficial e uma recepção impecável, não desejaria estar a sós com sua esposa?

Mas havia dois problemas.

Primeiro: eu não sou Mayra. Segundo: eu sou virgem.

Sim, virgem. E não porque faltaram oportunidades. Foi uma escolha. Uma promessa que fiz a mim mesma depois do pesadelo que vivi. Eu entregaria meu corpo apenas para o homem que conquistasse minha alma por inteiro. E mesmo que Jensen fizesse meu coração pulsar de um jeito que ninguém jamais fez… ele não era meu.

Ele era o marido da minha irmã.

Mesmo que ela tenha fugido. Mesmo que eu tenha sido forçada a ficar em seu lugar como uma peça de xadrez sacrificável. Mesmo que minha mãe tenha me chantageado com a sua doença.

Nada disso mudava o fato de que ele se casou com Mayra. E agora, achando que sou ela, ele queria consumar esse casamento. Comigo.

Minha mente corria, desesperada, tentando encontrar um plano, uma desculpa, qualquer coisa que pudesse me tirar daquela situação.

Como evitar que ele me tocasse?

Como explicar sem revelar tudo?

Como fugir sem arruinar a frágil paz que ainda sustentava minha mãe?

Jensen pegou minha mão com delicadeza, os dedos quentes fechando sobre os meus com ternura. Senti um arrepio na espinha. Olhei ao redor, procurando alguma saída, algum atraso improvisado, mas ele foi mais rápido.

Com passos discretos, começou a me conduzir em direção à porta lateral do salão. A famosa fuga dos noivos. Tão romântica. Tão esperada.

E tão desesperadora.

Meu coração gelou. Minha pele pareceu se fechar sobre os ossos. Meu estômago virou um poço sem fundo.

— Nós já vamos para o quarto? — perguntei, com a voz visivelmente tensa — Ainda está cedo… podemos beber mais, conversar… aproveitar um pouco mais da festa, não acha?

Ele me olhou com um sorriso gentil, os olhos azuis brilhando sob as luzes quentes do salão.

— Já passa das nove da noite, amor. — disse ele, como se a resposta fosse óbvia — Chegou o momento de ficarmos sozinhos.

Sozinhos.

A palavra bateu como um trovão dentro da minha mente. Meus olhos arderam, mas pisquei rápido, engolindo o nó na garganta.

Sozinhos. Um homem e uma mulher “casados”. Em uma suíte de hotel luxuosa. Com flores, vinho, lençóis brancos, velas perfumadas… e expectativas.

Ele vai querer me tocar. Vai querer me despir. Vai querer beijos, entrega, amor… e tudo isso com a mulher que ele acredita amar. Que ele acredita ser eu.

E eu… não posso. Não posso me entregar a ele. Não posso manchar ainda mais essa mentira com a minha inocência. Com o meu corpo.

Mas como escapar agora?

Como dizer não… sem contar toda a verdade?

A porta da suíte se abriu com um leve estalo e, por um momento, esqueci do caos dentro de mim. A suíte era imensa, silenciosa, acolhedora. A sala principal parecia saída de um catálogo de revista de luxo. Móveis modernos, lustres discretos, uma lareira elétrica acesa só para criar clima. Mas foi a porta ornamentada ao fundo, com detalhes em dourado e puxadores de cristal, que atraiu minha atenção.

Jensen segurou minha mão e me conduziu até ela com calma. O toque dele era firme, quente. Quando abriu a porta do quarto, minha respiração travou.

Era... perfeito.

A meia-luz criava uma atmosfera intimista, quase mágica. Havia pétalas de rosas vermelhas espalhadas pelo chão, sobre a cama, nas mesinhas de canto. Um difusor perfumava o ambiente com lavanda e baunilha. Uma música suave tocava ao fundo. E, pela enorme varanda envidraçada, a lua cheia iluminava tudo com sua luz prateada.

Era exatamente como eu imaginei que seria minha primeira vez.

Exceto por um detalhe.

Não era minha noite de núpcias.

Eu não deveria estar ali. Não com ele. Não naquela cama. Não naquele vestido. Aquilo não era meu. Era dela. Da Mayra.

Tentei manter o foco. Respirar. Pensar em uma forma de sair dali sem parecer completamente insana. Mas Jensen se aproximou por trás e envolveu minha cintura com os braços. Sua boca tocou meu pescoço e eu me encolhi.

A ponta de seus dedos percorreu devagar a fileira de botões nas minhas costas. Um. Dois. E quando ele alcançou o terceiro, me afastei de súbito.

— Amor… — ele falou com a voz rouca, sensual — Me deixa te mostrar que esse nervosismo é passageiro.

Meu corpo quis acreditar nele. Quis aceitar. Quis se entregar. Mas minha mente gritava. E eu dei um passo para trás.

— Eu… eu preciso de uns minutos. Sozinha. Vou até o banheiro. Você viu minha bolsa?

Ele apontou para a mesinha ao lado da cama.

Corri até lá, peguei a bolsa que alguém levou junto com a mala da Mayra, e entrei no banheiro com o coração disparado.

Fechei a porta, apoiei as costas contra ela, respirei fundo e disquei o número que eu não queria, mas precisava.

— “Mãe, por que demorou pra atender? Estou quase morrendo aqui.”

A voz dela veio do outro lado da linha com a calma de quem não se importa.

— “Estou relaxando no meu novo e merecido lar... o que você quer?”

— “O que eu quero?” — perguntei, incrédula — “A senhora esqueceu algo importante nessa grande mentira. A maldita noite de núpcias, mãe. Eu não posso ir pra cama com o meu cunhado. Não posso entregar minha virgindade para um homem que não me pertence.”

Mayara bufou com tédio.

— “Deixe de ser puritana, Mavis. Ele é só um homem. Bonito, atraente. Tenho certeza que a Mayra não vai se importar com isso. Apenas faça o que precisa fazer.”

— “Mãe, a senhora enlouqueceu? Eu não posso fazer isso. Meu sacrifício parou no casamento. Eu não posso ir além.”

— “Não seja ingrata. Eu até entendo seu nervosismo hoje, mas transar com ele será algo que você não vai conseguir evitar por muito tempo. Dê seu jeito. E vê se não estraga tudo pra nós.”

Ela desligou.

Fiquei olhando para o espelho. A maquiagem intacta. O batom ainda nos lábios. O rosto... vazio. E o pânico pulsando nas veias.

Saí do banheiro, mais branca do que o véu que cobria meu rosto horas antes. Jensen se virou na mesma hora, preocupado.

— Você está passando mal? Quer que eu a leve ao hospital?

— Passando mal? Hospital? — repeti, mais para mim do que pra ele. Foi quando a ideia surgiu. Cruel. Humilhante. Mas necessária — Não precisa… o que tenho é algo normal no mundo feminino. Eu sinto muito por estragar a nossa noite de núpcias.

Ele franziu a testa, prestes a perguntar mais. Mas então pareceu entender.

— Nossa… está tudo bem. Você não tem culpa. Como disse, é algo normal para vocês, mulheres. Provavelmente o estresse e a emoção de hoje causou isso. Eu esperei você até agora, posso esperar mais quatro dias.

Ele beijou minha testa com doçura. E, quando a música de Ed Sheeran tocou mais alto, Jensen me puxou para dançar.

"Thinking Out Loud."

Fechei os olhos, lutando contra as lágrimas. Eu queria me entregar. Por ele. Por mim. Mas não ouvi meu corpo… e muito menos meu coração.

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Comments

Rose Oliveira

Rose Oliveira

já vi td ela vai sair como ruim ele vai ficar com raiva dela

2025-08-14

3

Deise

Deise

Mas será que a Mayra não fez tudo isso pensando em fugir e para que a irmã se sentisse confortável vendo tudo que ela quis realizado? Tipo o vestido era do jeito que Mavis sonhou, a maquiagem leve, o salão e até a lua de mel parece ter sido feito especificamente para ela e não para a irmã

2025-08-15

2

Gloria Katia Baffa

Gloria Katia Baffa

Será que irmã dela se apaixonou por outro homem e fezb8sto. Ela deve falar Verdade para ele

2025-08-17

1

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