Energia em Colisão (parte 1)

O sol mal tinha nascido, mas a movimentação pelos corredores de Eclipse College já era intensa. Mochilas nos ombros, vozes animadas, cochichos tensos — alguns calouros andavam como se estivessem em solo sagrado. E, de certo modo… estavam.

Melissa acordou cedo. Ainda processava a noite estranha e a conversa com Madu. Mas, por enquanto, decidiu guardar aquilo só pra si.

Na cama ao lado, Yasmin bocejava alto enquanto arrumava o cabelo cacheado com uma escova encantada que flutuava no ar.

— Preparada pro primeiro dia oficial? — Yasmin sorriu.

— Se isso aqui fosse uma escola normal, talvez — respondeu Melissa, com um sorrisinho tímido.

— "Normal" não existe nesse lugar, guria.

As duas riram.

Na cantina, o cheiro de café, frutas mágicas e pão quente misturava-se com conversas em línguas de outros mundos. A arquitetura do colégio lembrava um castelo antigo, mas com tecnologia mágica embutida nas paredes: painéis de cristal, quadros que mexiam os olhos, plantas que cochichavam segredos.

Melissa e Yasmin pegaram o café e se sentaram. Logo foram se juntando outros alunos.

— E aí, calouras — disse Samuel, abrindo um sorriso fofo e animado. Seus olhos brilhavam. Ele usava um moletom do colégio e tinha uma aura carismática ao redor.

— Vocês sentem isso no ar? — completou Bia, sentando-se de leve ao lado de Melissa. — É tipo… uma energia esquisita. Boa. Mas esquisita.

Mickaelly rolou os olhos:

— Ai, vocês sempre tão vendo “energia” em tudo. É só café com leite de dragão. Relaxem.

Samuel riu.

— Mika é a prova viva de que sarcasmo é um idioma universal.

Todos riram, menos Mika, que apenas tomou um gole de chá mágico.

No fundo do refeitório, uma garota de cabelos vermelhos como sangue observava em silêncio. Eshelley, de semblante arrogante, comentava com Nick, que ria alto e apontava discretamente para as novas alunas.

— Aquela lá é a sereia? — sussurrou Eshelley.

— Hm… sim. Melissa. Aruá. Parece boazinha demais. Isso nunca termina bem.

— Tô de olho — murmurou Eshelley, antes de dar um sorriso disfarçado.

Depois do café, todos foram levados para o grande Salão de Encantamentos, onde os professores fariam as apresentações.

No centro do salão, flutuava o brasão mágico do Eclipse College: uma lua dividida em luz e sombra, cercada por espelhos flutuantes que refletiam as verdades ocultas de cada ser.

Um silêncio respeitoso tomou conta do ambiente.

Do alto da escadaria surgiu a diretora: uma mulher de aparência antiga, olhos prateados, cabelos brancos e uma capa que se arrastava como névoa.

Diretora Lysandra.

— Bem-vindos ao Eclipse College — sua voz ecoou por toda a sala sem esforço. — Aqui, vocês aprenderão mais do que magias e encantamentos. Aprenderão a encarar a si mesmos… e os monstros que cada um carrega.

Um arrepio percorreu a espinha de Melissa.

— Neste colégio, cada ser místico tem um propósito.

Alguns o descobrem rápido.

Outros... nem tanto.

Os espelhos flutuantes começaram a girar lentamente, refletindo rostos confusos, assustados… e alguns com sorrisos secretos.

De repente, um deles refletiu Melissa.

Mas não era bem ela.

Era sua imagem submersa em um rio, com olhos brilhantes como águas encantadas.

E atrás dela… algo sombrio, como uma sombra observando.

Melissa desviou o olhar.

— A jornada começou — disse Lysandra. — Boa sorte a todos. Vocês vão precisar.

Mais tarde, no dormitório, Yasmin olhou pra Melissa com os olhos arregalados.

— Tu viu aquele espelho?? O que foi aquilo?!

— Eu não sei. Mas... senti alguma coisa. Tipo um aviso.

Samuel apareceu na porta, animado:

— Aula de "Controle de Energia" em 10 minutos! Vamos ver quem explode primeiro!

Mickaelly suspirou alto, já reclamando.

Bia riu.

E assim, o primeiro dia seguiu, com descobertas, risadas, tensões…

e a certeza de que algo muito maior do que todos estava prestes a despertar.

Os corredores do bloco leste levavam a uma sala circular que parecia respirar. Era o Laboratório de Energia, onde paredes pulsavam levemente como se estivessem vivas. O teto era transparente, revelando o céu escuro com pequenas estrelas dançando, mesmo sendo pleno dia.

— Isso aqui é tipo... Hogwarts versão hard? — sussurrou Yasmin, olhando tudo com fascínio.

— Bem mais caótico — respondeu Bia, que segurava um caderno de folhas negras.

Professor Arkyn, um homem alto, magro, com olhos cobertos por uma faixa prateada e roupas feitas de fumaça, surgiu como um vulto no centro da sala.

— Silêncio. Sejam bem-vindos à aula de Controle de Energia.

Sua voz não precisava ser alta. Tinha um peso antigo, como se viesse de outra dimensão.

— Aqui, vocês vão aprender a sentir, canalizar e manipular suas energias internas e externas. Mas antes de aprender… vão errar.

Ele fez um gesto, e círculos de luz surgiram ao redor de cada aluno.

— Concentrem-se. Cada círculo reage à sua essência. Não tentem fingir o que vocês não são.

Melissa olhou pro seu círculo, que se encheu de água. Ondas suaves, mas profundas, como um rio calmo que esconde correntezas fortes.

Yasmin sorriu ao ver seu círculo dançar com uma luz amarela vibrante, quase elétrica.

Samuel, divertido, criou um brilho dourado com rajadas aleatórias, enquanto Mickaelly suspirava alto, sem conseguir focar.

Nick olhou pro próprio círculo que oscilava entre rosa vibrante e sombras intensas.

— Que estranho... Isso aí parece eu mesmo.

Geovanna, mais afastada, observava tudo com desdém. Seu círculo parecia confuso, com faíscas desordenadas.

Eshelley, por sua vez, ria alto, zombando dos colegas que estavam se esforçando.

— Ai gente, que drama. Nem é tão difícil assim.

Duda, que estava completamente concentrada, virou-se com calma.

— Você ri de tudo, mas não consegue controlar nem a si mesma.

A sala silenciou.

— Ihhhh... — murmurou Gabriel, disfarçando o riso.

— CHEGA. — disse Arkyn, com um gesto firme.

O chão tremeu. Uma energia densa invadiu a sala.

— Agora, vocês vão tentar algo maior: sentir a energia uns dos outros. Mas cuidado… algumas conexões revelam mais do que gostariam.

Melissa respirou fundo. Sentia-se conectada à água ao seu redor, mas ao fechar os olhos, viu… uma sombra. Não dela. De outra pessoa na sala. Observando.

Ela abriu os olhos, assustada.

Do outro lado, Nick arregalou os olhos ao sentir a mesma coisa.

— Tem alguma coisa errada aqui — disse ele em voz baixa.

De repente, o círculo de Geovanna explodiu. Faíscas negras saíram como estilhaços. Ela gritou e caiu de joelhos. O ambiente virou caos.

— Afasta! — gritou Arkyn, protegendo os alunos com uma barreira mágica.

Mas Melissa não recuou. Ela correu até Geovanna e estendeu a mão, instintivamente.

— Calma. Respira. Você tá sobrecarregada.

Uma onda de água suave envolveu Geovanna, acalmando a energia distorcida.

Era a primeira vez que alguém estendia a mão pra ela. E isso… a desarmou por um segundo.

Silêncio.

Arkyn observou Melissa com atenção.

— Interessante. Controle emocional. Conexão instintiva. Muito bem, Melissa Aruá.

Alguns alunos aplaudiram de leve. Outros, como Eshelley e Mickaelly, apenas rolaram os olhos.

— Aula encerrada. Vocês não estão prontos pro próximo nível ainda — disse Arkyn. — Mas alguém aqui… já começou a quebrar as regras naturais da energia.

Ele lançou um olhar para Nick e Sarah, que pareciam ter sentido a mesma coisa que Melissa.

Algo obscuro. Que não pertencia àquela sala.

De volta ao dormitório, Melissa mal conseguia dormir.

— Tem alguma coisa estranha nesse lugar — disse ela, encarando o teto.

— "Estranha" é pouco — respondeu Yasmin, deitada ao lado. — Mas quer saber?

Tem algo aqui dentro que me faz querer ficar. Mesmo com tudo.

Melissa sorriu de lado.

— Talvez seja isso que eles querem: descobrir quem realmente aguenta o Eclipse.

Do lado de fora, a lua minguante brilhava.

E em algum lugar nos porões do colégio… alguém acendia um feitiço proibido.

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