> O ar era diferente. Não só pela brisa gelada que soprava pelos portões de Eclipse College, mas por algo que Melissa não conseguia explicar. Como se a escola, enorme e silenciosa, estivesse viva... observando.
Era o primeiro dia. Melissa segurava a alça da mochila como se fosse um escudo. A arquitetura imponente da escola se erguia à sua frente, feita de pedras escuras e janelas altas, com uma torre central onde um sino antigo se escondia sob a neblina matinal. O colégio mais parecia um castelo escondido entre as montanhas.
Ela respirou fundo e deu o primeiro passo.
Dentro do saguão, estudantes andavam de um lado para o outro — vozes em línguas diferentes, risadas, olhares curiosos. Melissa sentia os olhos de alguns sobre ela. Talvez por sua aparência, talvez por sua energia, talvez por sua alma ainda vibrando como um rio que nunca conheceu o mar.
Foi quando ouviu:
— Você é nova, né?
A voz veio da garota de cabelos cacheados e olhar penetrante que a encarava com um sorriso amigável. Ela tinha uma energia leve, envolvente.
— Sou, sim... — respondeu Melissa, tímida.
— Prazer, Yasmim. Mas me chama de Yas. — Ela estendeu a mão. — Você parece perdida. Vem, vou te mostrar onde é o dormitório das meninas.
Melissa sorriu, um pouco aliviada.
— Eu sou a Melissa.
As duas começaram a andar lado a lado. A escola parecia um labirinto de escadas em espiral, corredores de pedra e salas escondidas. Mas com Yas ao lado, tudo parecia um pouco menos assustador.
O dormitório era enorme. Seis camas, cada uma com um estilo único — umas bagunçadas, outras cheias de livros ou colchas coloridas. Algumas camas já tinham malas e objetos pessoais sobre elas. A de Melissa estava vazia, esperando por ela.
No canto da sala, uma garota sentada sobre a própria cama fitava um espelho enquanto mexia no celular.
— Aquela ali é a Mickaelly, mas pode chamar de Mika. — disse Yas. — Escandalosa, meio doida, mas... vai por mim, ela tem um coração lá no fundo.
Mika olhou de relance e acenou com a cabeça, lançando um comentário:
— Mais uma pro circo, hein? Seja bem-vinda, sereia.
Melissa gelou. Como ela sabia?
— Brincadeirinha. Tá escrito na sua energia. Eu sinto essas coisas.
Antes que Melissa pudesse responder, outra garota entrou no quarto com uma mochila nas costas, sorridente e de olhos brilhantes.
— Essa é a Bia. É um doce. Mas cuidado, ela pensa mais do que fala — sussurrou Yas.
Bia se aproximou e abraçou Melissa como se já a conhecesse.
— Adorei sua vibe! Seja bem-vinda!
Pouco depois, surgiu um dos poucos garotos que transitava pelos dormitórios femininos com liberdade.
— E aí, princesas do caos? — disse o garoto de pele escura e sorriso contagiante.
— Samuel — suspirou Yas. — Ele aparece sempre que escuta vozes novas.
— Eu só vim dar boas-vindas. E também saber quem é a nova beleza do dormitório 3. — disse, olhando para Melissa com um sorriso brincalhão.
Melissa riu pela primeira vez desde que chegou.
— Eu sou a Melissa...
— Sereia, né? Já vi nos registros — piscou ele.
A noite caiu rápido, e as luzes do dormitório se apagaram. Mas Melissa não conseguia dormir. Algo naquela escola pulsava diferente. Havia vozes sussurrando nos corredores vazios, espelhos que pareciam mais profundos do que deveriam... E no meio de tudo, ela sentia que sua vida estava apenas ccomeçando.
O silêncio do dormitório era quebrado apenas pela respiração das outras meninas. Bia roncava baixinho, Mika resmungava algo incompreensível em meio ao sono, e Yas dormia profundamente como se nada no mundo pudesse perturbá-la.
Melissa, porém, não conseguia pregar os olhos.
A lua entrava pela janela alta, iluminando sua cama com um brilho pálido e quase mágico. As sombras dançavam pelas paredes, e o som do vento parecia sussurrar seu nome.
Melissa…
Ela se sentou lentamente. Pegou o colar que sempre usava — uma pedra azulada dada por sua avó — e apertou entre os dedos.
Foi então que ela viu.
Uma silhueta passou pelo corredor do lado de fora da porta. Leve, rápida. Como uma sombra viva.
Melissa se levantou.
— Tá maluca? — murmurou Mika, ainda deitada, com um olho semiaberto. — Não sai do quarto de noite… tem coisa nos corredores.
— Coisa?
— Espíritos, sombras… sei lá o que. Aqui tudo tem vida, menina. Dorme.
Mas Melissa já estava de pé. A curiosidade era maior que o medo. E algo dentro dela — talvez a voz do rio que ela ouvia desde pequena — sussurrava:
Vai.
O corredor estava frio. Mais frio do que deveria. A luz das velas tremia nas paredes como se estivesse com medo.
Ela andou lentamente, seguindo a direção da silhueta. Passou por quadros antigos, portas entreabertas, e ouviu sussurros distantes, em línguas que ela não conhecia.
Quando virou o corredor da ala leste, viu uma porta entreaberta com uma luz fraca saindo de dentro.
Melissa empurrou devagar.
A sala era circular, feita de pedras escuras. No centro, um símbolo no chão brilhava com uma luz púrpura fraca — como se estivesse vivo. Ao redor dele, livros flutuavam, sussurrando páginas ao vento. E no canto da sala… uma garota de cabelos negros com mechas vermelhas observava tudo com atenção.
Ela se virou ao ouvir a porta.
— Você não devia estar aqui.
Melissa congelou.
— Eu… me perdi — tentou dizer.
A garota se aproximou. Seu olhar era misterioso, mas não ameaçador.
— Você é a nova, não é? A sereia. Eu sou Madu.
— O que é esse lugar?
Madu olhou para o símbolo no chão, depois para Melissa.
— Um segredo que ninguém deveria descobrir tão cedo.
Mas talvez… talvez você seja diferente.
Antes que Melissa pudesse perguntar o que aquilo significava, Madu estendeu a mão e disse:
— Volta pro seu dormitório, por enquanto. Mas lembre-se… Eclipse College não é um colégio comum. Aqui, as máscaras caem, os dons despertam… e ninguém é quem parece ser.
Melissa hesitou… depois assentiu com a cabeça e voltou.
Ao deitar-se novamente, Melissa sentia o coração disparado.
Tinha algo escondido naquele colégio. Algo que chamava por ela.
E no fundo, ela sabia…
Esse era só o começo.
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Atualizado até capítulo 26
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