Na manhã seguinte, o céu continuava encoberto, tingindo os corredores da mansão de um cinza melancólico. A névoa dançava do lado de fora das janelas como se quisesse entrar. Kate se levantou com a cabeça ainda cheia das palavras de Dante na noite anterior. Ele a perturbava. Não apenas pela aparência e pela presença quase magnética… mas porque, mesmo em silêncio, ele a fazia se sentir vulnerável.
Vestiu-se com discrição, prendeu o cabelo num coque bagunçado e caminhou até o grande salão. A mesa de jantar, longa e imponente, já estava posta — xícaras de porcelana, pão fresco, frutas, mas nenhum sinal de Dante.
Em vez disso, quem apareceu foi uma mulher alta, pálida como o mármore, com os cabelos grisalhos presos num coque rígido. Usava um vestido preto sem detalhes e olhos frios como gelo.
— Bom dia, senhorita Vasconcellos — disse, com a voz firme e sem emoção. — Sou Madame Eloise. Governanta da casa. O senhor Moreau está ausente esta manhã. Mas deixou instruções.
Ela estendeu uma folha dobrada em três partes, com escrita à mão, tinta escura e letras elegantes, mas carregadas. Kate pegou o papel com hesitação, desdobrando-o devagar. Havia uma única linha no topo:
"Regras para sobreviver na Mansão Moreau."
Seu estômago se revirou.
— Isso é sério? — murmurou.
— Muito. — A voz da mulher não tremia. — Memorize-as. Siga-as. Ignore-as… e estará por sua conta.
Kate leu em silêncio.
---
📜 As Regras da Mansão Moreau
Não entre nos quartos trancados.
Após as 22h, permaneça em seu quarto. Tranque a porta por dentro.
Nunca faça perguntas sobre o passado de Dante Moreau.
Não confie em vozes que ouvir à noite. Elas mentem.
Se encontrar algo fora do lugar, ignore.
Não se apaixone por ele.
---
Kate segurou o papel com mais força.
"Não se apaixone por ele."
Ela quis rir. Era absurda. Infantil. Uma regra sem sentido.
Mas havia algo ali… que fazia seu coração acelerar.
— Isso tudo faz parte do teatro dele? — provocou.
Madame Eloise a encarou.
— Isso é uma advertência. Acredite, ele já perdeu outras.
Kate engoliu em seco. Queria perguntar mais. Mas, por instinto, sentiu que não era hora. Deixou a governanta sumir pelos corredores enquanto ela comia em silêncio, observando o lustre balançar levemente acima da mesa. Parecia não haver vento. Então por que ele se movia?
Mais tarde, decidida a explorar a mansão por conta própria, Kate foi até o andar superior. Os corredores pareciam mais escuros, ainda que as janelas deixassem entrar a luz opaca do dia. No fim da ala leste, encontrou uma porta entreaberta — sem tranca, sem nome, sem ruído.
Ela hesitou.
Mas a curiosidade venceu o medo.
A sala era vazia, exceto por um espelho grande, antigo, coberto por um pano de veludo azul. O ar ali era mais frio, mais denso, como se algo tivesse acontecido ali há muito tempo — e deixado um rastro invisível.
Kate se aproximou.
Ergueu lentamente o pano.
No reflexo, viu-se pálida, os olhos arregalados. Mas havia algo a mais.
Atrás dela, parado no canto… um vulto.
Ela se virou num pulo. Nada. Só a sala vazia.
Deixou o pano cair, ofegante. Saiu da sala quase tropeçando, com o coração martelando no peito.
Foi quando o viu.
Dante, encostado na parede do corredor, braços cruzados, olhar escuro como a noite.
— Eu avisei sobre os quartos trancados.
— Aquela porta estava aberta — retrucou ela, tentando parecer firme.
Ele se aproximou devagar. Seus passos não faziam barulho sobre o piso antigo.
— Nem tudo que está aberto é um convite, Kate.
— E nem todo silêncio é resposta — ela rebateu, desafiando-o.
Dante parou a poucos passos dela. Havia algo em seus olhos que parecia lutar entre advertência e desejo.
— Aquela sala… pertence ao passado. Um passado que sangra.
— O que tem naquele espelho?
Ele inclinou o rosto, estudando-a.
— Espelhos são janelas. E às vezes… portais. Você não quer saber o que pode atravessá-los.
Ela sentiu a nuca arrepiar. Quis ir embora. Mas não se moveu.
— Por que eu sinto que estou sendo vigiada o tempo todo? — sussurrou.
Dante se inclinou. Sua voz era grave e baixa.
— Porque você está.
Os dois se fitaram por um momento que pareceu eterno.
Então, Dante se afastou.
— Tranque a porta esta noite, Kate. E lembre-se da última regra.
Ela permaneceu parada no corredor, o papel amassado ainda em sua mão. O som distante de um relógio marcava 14 horas, mas dentro dela, o tempo parecia suspenso.
A mansão Moreau não era apenas uma casa.
Era uma armadilha cuidadosamente construída.
E ela já havia pisado dentro.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 30
Comments
Tânia Silva
é muito mistério +
2025-08-09
0