Capítulo 4 – As Regras da Mansão

Na manhã seguinte, o céu continuava encoberto, tingindo os corredores da mansão de um cinza melancólico. A névoa dançava do lado de fora das janelas como se quisesse entrar. Kate se levantou com a cabeça ainda cheia das palavras de Dante na noite anterior. Ele a perturbava. Não apenas pela aparência e pela presença quase magnética… mas porque, mesmo em silêncio, ele a fazia se sentir vulnerável.

Vestiu-se com discrição, prendeu o cabelo num coque bagunçado e caminhou até o grande salão. A mesa de jantar, longa e imponente, já estava posta — xícaras de porcelana, pão fresco, frutas, mas nenhum sinal de Dante.

Em vez disso, quem apareceu foi uma mulher alta, pálida como o mármore, com os cabelos grisalhos presos num coque rígido. Usava um vestido preto sem detalhes e olhos frios como gelo.

— Bom dia, senhorita Vasconcellos — disse, com a voz firme e sem emoção. — Sou Madame Eloise. Governanta da casa. O senhor Moreau está ausente esta manhã. Mas deixou instruções.

Ela estendeu uma folha dobrada em três partes, com escrita à mão, tinta escura e letras elegantes, mas carregadas. Kate pegou o papel com hesitação, desdobrando-o devagar. Havia uma única linha no topo:

"Regras para sobreviver na Mansão Moreau."

Seu estômago se revirou.

— Isso é sério? — murmurou.

— Muito. — A voz da mulher não tremia. — Memorize-as. Siga-as. Ignore-as… e estará por sua conta.

Kate leu em silêncio.

---

📜 As Regras da Mansão Moreau

Não entre nos quartos trancados.

Após as 22h, permaneça em seu quarto. Tranque a porta por dentro.

Nunca faça perguntas sobre o passado de Dante Moreau.

Não confie em vozes que ouvir à noite. Elas mentem.

Se encontrar algo fora do lugar, ignore.

Não se apaixone por ele.

---

Kate segurou o papel com mais força.

"Não se apaixone por ele."

Ela quis rir. Era absurda. Infantil. Uma regra sem sentido.

Mas havia algo ali… que fazia seu coração acelerar.

— Isso tudo faz parte do teatro dele? — provocou.

Madame Eloise a encarou.

— Isso é uma advertência. Acredite, ele já perdeu outras.

Kate engoliu em seco. Queria perguntar mais. Mas, por instinto, sentiu que não era hora. Deixou a governanta sumir pelos corredores enquanto ela comia em silêncio, observando o lustre balançar levemente acima da mesa. Parecia não haver vento. Então por que ele se movia?

Mais tarde, decidida a explorar a mansão por conta própria, Kate foi até o andar superior. Os corredores pareciam mais escuros, ainda que as janelas deixassem entrar a luz opaca do dia. No fim da ala leste, encontrou uma porta entreaberta — sem tranca, sem nome, sem ruído.

Ela hesitou.

Mas a curiosidade venceu o medo.

A sala era vazia, exceto por um espelho grande, antigo, coberto por um pano de veludo azul. O ar ali era mais frio, mais denso, como se algo tivesse acontecido ali há muito tempo — e deixado um rastro invisível.

Kate se aproximou.

Ergueu lentamente o pano.

No reflexo, viu-se pálida, os olhos arregalados. Mas havia algo a mais.

Atrás dela, parado no canto… um vulto.

Ela se virou num pulo. Nada. Só a sala vazia.

Deixou o pano cair, ofegante. Saiu da sala quase tropeçando, com o coração martelando no peito.

Foi quando o viu.

Dante, encostado na parede do corredor, braços cruzados, olhar escuro como a noite.

— Eu avisei sobre os quartos trancados.

— Aquela porta estava aberta — retrucou ela, tentando parecer firme.

Ele se aproximou devagar. Seus passos não faziam barulho sobre o piso antigo.

— Nem tudo que está aberto é um convite, Kate.

— E nem todo silêncio é resposta — ela rebateu, desafiando-o.

Dante parou a poucos passos dela. Havia algo em seus olhos que parecia lutar entre advertência e desejo.

— Aquela sala… pertence ao passado. Um passado que sangra.

— O que tem naquele espelho?

Ele inclinou o rosto, estudando-a.

— Espelhos são janelas. E às vezes… portais. Você não quer saber o que pode atravessá-los.

Ela sentiu a nuca arrepiar. Quis ir embora. Mas não se moveu.

— Por que eu sinto que estou sendo vigiada o tempo todo? — sussurrou.

Dante se inclinou. Sua voz era grave e baixa.

— Porque você está.

Os dois se fitaram por um momento que pareceu eterno.

Então, Dante se afastou.

— Tranque a porta esta noite, Kate. E lembre-se da última regra.

Ela permaneceu parada no corredor, o papel amassado ainda em sua mão. O som distante de um relógio marcava 14 horas, mas dentro dela, o tempo parecia suspenso.

A mansão Moreau não era apenas uma casa.

Era uma armadilha cuidadosamente construída.

E ela já havia pisado dentro.

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Comments

Tânia Silva

Tânia Silva

é muito mistério +

2025-08-09

0

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