O homem à sua frente não parecia real. Alto, moreno, elegante demais para aquele bairro miserável, usava um terno preto feito sob medida. Seu cabelo escuro estava perfeitamente penteado, e os olhos... Deus, os olhos. Eram cinzentos. Não de um cinza comum — eram como aço molhado: frios, calculistas, perigosos.
Edward Salvatore.
Júlia cruzou os braços, desconfiada. O outro homem ao lado dele — um brutamontes careca com cara de poucos amigos — não desviava o olhar dela por um segundo.
— Eu não vou repetir — disse Edward, com voz baixa, rouca, e tão autoritária que parecia cortar o ar. — Entre no carro. Temos algo para discutir.
— Se você tá me confundindo com alguma vadia desesperada, deixa eu te avisar logo... — ela começou, pronta para explodir.
Mas ele ergueu a mão, interrompendo-a com um simples gesto.
— Eu sei exatamente quem você é, Júlia Ferraz. Neta de Ernesto. Dezenove anos. Rebelde, orgulhosa, e cheia de dívidas impagáveis.
Ela sentiu o sangue gelar. Como ele sabia tanto?
— Quem é você? — ela rosnou. — Polícia? Agiota? Psicopata?
Um sorriso surgiu em seus lábios, lento e cruel.
— Sou o homem que pode salvar o único parente que você tem. Ou... assistir de camarote enquanto ele morre à míngua em um hospital de quinta.
A raiva subiu como fogo. Ela avançou um passo, o dedo em riste:
— Se você encostar um dedo no meu avô, eu te...
— Você o que? — Edward inclinou o rosto, levemente divertido. — Vai me bater? Com essa sua coragem de vidro?
Ela parou. Porque, pela primeira vez, sentiu medo. Real. Profundo. E não por ela. Mas pelo que esse homem podia fazer com o velho Ernesto.
— O que você quer de mim? — sussurrou, enfim.
Edward tirou um envelope do paletó e estendeu a ela. Dentro, havia um contrato.
Contrato de casamento.
— Você vai ser minha esposa, Júlia. Em troca, eu pago tudo. O hospital, os exames, o tratamento, a casa, tudo. Seu avô viverá com conforto até o fim.
Ela arregalou os olhos, chocada. A primeira reação foi rir. E foi exatamente o que ela fez.
— Você é louco. Totalmente maluco. Por que você ia querer se casar comigo? Tem mulher linda, rica, loura, de salto alto e silicone morrendo por você!
— Justamente. — Ele a encarou. — Nenhuma delas serve. Eu preciso de alguém como você. Uma garota comum. Sem conexões. Sem família grande. Sem laços. Uma farsa crível.
— E se eu recusar?
Edward recostou-se no banco traseiro do carro, relaxado.
— Então seu avô morre em até seis meses. E você continua vivendo nesse buraco, sendo explorada, esperando um milagre que não virá.
Aquela frase bateu como um soco no estômago. Ela quis gritar. Quis bater nele. Mas a verdade era um monstro que ela já conhecia: estava sozinha. E sem saída.
— Isso é sequestro emocional. É chantagem. É nojento. — Ela cuspiu as palavras como veneno.
Ele sorriu. Um sorriso que não alcançava os olhos.
— Eu prefiro chamar de... oportunidade.
Silêncio.
O mundo de Júlia parecia desmoronar. A vida inteira ela lutou para ser livre. E agora, a única forma de salvar o único que ela amava... era se vendendo.
— Isso é um inferno. — sussurrou, derrotada.
Edward Salvatore a observou por alguns segundos e respondeu, com calma:
— Bem-vinda ao meu mundo, pequena.
Ernesto Ferraz
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Atualizado até capítulo 75
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Fatima Gonçalves
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2025-08-12
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