O relógio marcava 8h56 quando Aurora ouviu a batida na porta.
Ela já estava acordada. Já tinha tomado dois cafés, trocado a blusa três vezes e olhado para Adam dormindo pelo menos dez.
Ela abriu devagar. E lá estava ele.
Derick.
De novo todo de preto, com a expressão contida, mas os olhos… diferentes.
Aurora
— Você veio cedo — ela comentou, com uma voz mais fria do que queria.
Derick
— Não consegui dormir — ele respondeu, sincero. — Pensei nele a noite inteira.
Aurora segurou o batente com firmeza. Por um segundo, pensou em mandá-lo embora.
Mas a verdade é que seu coração já tinha cedido antes mesmo de ela abrir a porta.
Ela deu espaço.
Aurora
— Ele tá acordado.
Derick entrou, tenso. O ar parecia mais pesado dentro da casa, como se cada memória mal resolvida estivesse ali também, observando.
No corredor, Adam apareceu descalço, com uma camiseta grande e os olhos curiosos.
Os dois se encararam.
Por um segundo, o tempo parou.
Derick respirou fundo.
Derick
— Oi, Adam.
O menino olhou para Aurora. Ela apenas assentiu, com delicadeza.
Adam
— Oi — respondeu o garoto, sério.
Derick se abaixou devagar, ficando à altura dele.
Derick
— Ontem eu vim, mas… a gente não se viu. Hoje eu vim só pra te ver. Pra te conhecer. Se você quiser.
Luca franziu a testa, pensativo.
Adam
— Você vai embora de novo?
A pergunta caiu como uma pedra no peito de Derick. Ele piscou devagar.
Derick
— Não. Só se você mandar.
Luca hesitou. Depois caminhou até ele.
Adam
— Então… pode sentar. Eu desenhei você.
Derick engoliu o nó na garganta. Sentou no tapete, com Adam ao lado, e recebeu a folha de papel dobrada.
Era um desenho simples: um homem alto, com roupa preta e uma expressão séria…
E um balãozinho escrito: “Eu voltei.”
Derick olhou para ele, a voz presa.
Derick
— Obrigado.
Adam sorriu pequeno, meio tímido.
Adam
— Se você voltar amanhã… posso desenhar nós dois juntos.
Aurora, escorada na parede, sentiu o mundo desabar dentro de si.
Mas por fora, ficou firme. Sempre firme.
Derick ergueu os olhos para ela.
Não disse nada.
Mas o olhar dele dizia tudo.
Ele não ia embora.
E, talvez…
Ela também não quisesse mais que ele fosse.
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