Era fim de tarde quando o céu começou a escurecer mais cedo do que o normal. Nuvens pesadas tomavam conta da pequena cidade onde Aurora se escondia fazia quase dois anos. O vento balançava as cortinas da janela da cozinha, e o som da chaleira fervendo era o único barulho constante na casa.
Adam desenhava na mesa, como sempre. Cores fortes, traços firmes demais para um menino de sete anos. Aurora o observava em silêncio, com um nó no estômago. Ele desenhava um homem de terno escuro, cercado por sombras e olhos vermelhos. De novo.
Aurora
— Esse é o monstro? — eu pergunto, sem sorrir.
Adam assentiu com a cabeça, sem tirar os olhos do papel.
Aurora serviu o chá com as mãos levemente trêmulas. Era assim nos últimos dias. Uma sensação de que algo estava prestes a acontecer. Como se o passado estivesse espiando pelas frestas da casa.
Ela tentou se distrair lavando a louça, mas os pensamentos voltavam sempre ao mesmo nome: Derick.
Sete anos desde que fugiu. Sete anos criando Adam sozinha, mudando de cidade, de nome, de cabelo, de vida. E ainda assim, ele permanecia dentro dela como uma cicatriz invisível. Derick Salvatore. O homem que a fez amar... e fugir.
Seu telefone vibrou sobre o balcão. Aurora secou as mãos com pressa e desbloqueou a tela.
Mensagem de Valentina:
"Preciso te ver. Urgente. Ele sabe."
O coração dela parou por um segundo. "Ele" não precisava de nome.
Aurora
— Adam— eu chamo, tentando manter a voz firme —, pega sua mochila. Vamos sair um pouco, tá bom?
Adam
— Mas tá escuro... — ele resmungou.
Antes que ela pudesse responder, três batidas secas ecoaram pela porta da frente.
Batidas firmes. Sem pressa. Sem dúvida.
Aurora congelou.
O vento cessou. A chaleira parou de chiar. O mundo ficou em silêncio por um segundo longo demais.
Ela caminhou até a porta, o corpo inteiro em alerta. Sem abrir, encostou o ouvido na madeira.
Derick
— Aurora — disse uma voz grave e conhecida do outro lado.
— Eu sei que você está aí.
Seu corpo gelou. O nome preso na garganta.
Derick.
Ele tinha encontrado ela.
E dessa vez, não parecia disposto a deixá-la fugir.
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