A corda era um nó de humilhação e dor. As fibras ásperas se cravaram em seus pulsos, e o aperto parecia sugar não apenas a circulação de suas mãos, mas também a sua última gota de liberdade. Rafaely sentiu-se como um animal encurralado, amarrado para o abate, e a indignação em seu peito borbulhou como um vulcão prestes a explodir. Ela olhou para as mãos fortes de Marcel, que finalizavam o nó com uma precisão cirúrgica, sem qualquer pressa. Para ele, aquilo não era um ato de violência, mas uma conclusão necessária. Um trabalho bem feito. A frieza com que ele agia a aterrorizava mais do que qualquer ameaça verbal. A sua calma era a prova de seu poder absoluto.
Ele se levantou, mas em vez de se afastar, se inclinou sobre ela, a centímetros de seu rosto. Rafaely sentiu o hálito frio de seu desprezo e fechou os olhos por um segundo, desejando que aquela visão de beleza cruel desaparecesse. Quando os abriu, encontrou um par de olhos de gelo, que a analisavam de cima a baixo, como se ela fosse um objeto recém-adquirido em uma galeria de arte.
"Não perca seu fôlego lutando", disse ele, com a voz baixa e controlada. "Aqui, você não é a garota livre que corria pelo campo. Aquela Rafaely, a artista selvagem, morreu. Agora, você é minha. Uma prisioneira... e meu projeto mais ambicioso."
"Eu prefiro a morte a ser sua!", ela cuspiu, e o som de suas palavras foi o único ato de resistência que restou a ela. A raiva era o seu único escudo, a sua única defesa contra o desespero que ameaçava engoli-la.
Marcel soltou uma risada sem humor, um som seco e assustador. Ele se afastou da cadeira e, com as mãos nos bolsos da calça social perfeitamente alinhada, começou a andar pela cabana, como se estivesse em um escritório, avaliando seus ativos. Seus sapatos caros faziam um som seco no piso de madeira polida.
"A morte é um luxo que eu não vou te dar. Você vai viver, e vai aprender a me obedecer. Afinal, uma artista como você deve ser capaz de apreciar a perfeição do trabalho de um mestre, não é?", ele parou em frente a uma estante cheia de livros de arte e pegou um deles. "Giotto, Botticelli, Van Gogh... artistas que transformaram o caos em beleza. Eu, no meu próprio mundo, sou um deles. Sua obra-prima. E eu não permito imperfeições nas minhas criações."
Rafaely sentiu um calafrio percorrer a espinha. Ele não a queria como amante, nem como refém para um resgate. Ele a queria como uma tela em branco. A realização foi mais assustadora do que qualquer ameaça. A mente dela, tão acostumada a pensar em cores e formas, agora só via escuridão e a silhueta ameaçadora daquele homem.
"O que você quer de mim? O que eu fiz?", ela perguntou, sua voz baixa e cheia de desconfiança, ainda lutando para entender o motivo de tanto ódio e obsessão.
Marcel a encarou, e seus olhos pareciam perfurar a sua alma. Ele abriu o livro de Van Gogh, folheando as páginas distraidamente, como se estivesse decidindo o futuro dela em cada virada. "Você não fez nada. Você apenas foi... perfeita. O cabelo ruivo, o espírito livre, a teimosia nos olhos... a sua insolência. A maneira como você não tem medo de nada. Eu precisava de tudo isso. Precisava da sua pureza para transformá-la. Eu sou um 'CEO', Rafaely. Mas meu negócio não é só financeiro. Eu lido com vidas, e a sua, a partir de hoje, pertence a mim. Não como um contrato, mas como uma aquisição. Completa e irrefutável."
Ele se aproximou novamente, mas desta vez, não a tocou. Ele apenas parou na frente dela, a observando. Rafaely sentiu o poder que emanava dele, um poder frio e absoluto, o mesmo que ela via nos filmes de máfia. Ele não precisava de gritos ou de ameaças. A sua presença por si só já era a maior das ameaças.
"Você me tirou tudo!", ela sussurrou, sentindo as lágrimas quentes escorrerem pelo seu rosto. Não era apenas tristeza, era a morte de sua identidade.
"Eu te dei um propósito", ele a corrigiu, e a frieza em sua voz a fez tremer. "A sua antiga vida era um desperdício. Agora, você será a minha maior criação. A minha prisioneira, a minha obra-prima. E eu vou te proteger de tudo. Mas, principalmente, de você mesma."
Com isso, ele se virou e caminhou em direção a uma porta nos fundos da cabana, que Rafaely não tinha notado. O som de seus passos era um eco do seu poder. Antes de sair, ele parou por um instante, com a mão na maçaneta, e virou a cabeça, lançando-lhe um último olhar. Um sorriso sombrio se formou em seus lábios.
"Não se preocupe, 'Amor torturada'. A sua nova vida vai começar agora. E você vai aprender a apreciá-la. Aliás, a cabana é sua para explorar... a não ser a porta por onde saí."
O som da porta se fechando foi o som mais pesado que Rafaely já tinha ouvido. Ele a deixou sozinha, amarrada e impotente, em uma cela de ouro. A fúria, o medo e o desespero se misturaram, e ela soube que a luta não seria com força física, mas com a sua própria mente. Ela precisava ser mais astuta que o predador, ou estaria perdida para sempre. O ar da cabana, antes perfumado, agora parecia ter o sabor amargo da derrota. Mas no fundo de sua alma, um pequeno fogo de resistência ainda queimava, a promessa de que ela não seria a obra de ninguém.
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Atualizado até capítulo 34
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