O Silêncio de um Adeus

O som do relógio da recepção soava quase como um lembrete da passagem do tempo naquela manhã de outono em Manhattan. Era uma terça-feira cinzenta, o céu nublado — típico da cidade — e, embora o clima fosse melancólico, o hotel fervilhava com os preparativos para um congresso internacional.

Alice, agora com 26 anos, movia-se com a precisão de quem conhecia cada canto daquele lugar como uma extensão de si mesma. Desde que entrara no hotel como recepcionista, havia crescido ali. Hoje, era braço direito da administração e responsável por manter tudo em perfeita ordem. Seu olhar afiado observava cada detalhe: o uniforme dos recepcionistas, o sorriso dos atendentes, os ajustes da cozinha.

Mas naquela manhã, havia algo diferente no ar.

O senhor William Jones Adams, com seus cabelos grisalhos e postura sempre elegante, apareceu mais cedo que o habitual. Alice o viu se aproximar da recepção com passos lentos e semblante cansado, embora o sorriso ainda carregasse a doçura paternal que ela tanto conhecia.

— Bom dia, meu anjo — disse ele, com a voz mais baixa do que o habitual.

— Bom dia, senhor William. Está tudo bem?

— Só um pouco cansado... Mas nada que o seu café não resolva.

Subiram juntos para a cobertura, como faziam todas as terças. Era o ritual deles: café forte, sem açúcar, e conversas longas na varanda com vista para o o lago

. Naquele espaço silencioso, ele costumava lhe contar histórias da juventude, dos primeiros hotéis, da esposa falecida... e de David, o filho distante.

Alice preparou o café, atenta. Quando se virou com a xícara nas mãos, viu William levando a mão ao peito, o rosto pálido, a respiração curta.

— Senhor William?

O copo caiu de sua mão e se espatifou no chão.

— Senhor William! — gritou, correndo até ele.

Ele tombou em seus braços, os olhos arregalados e o corpo vacilante.

— Chama... chama a ambulância! AGORA! — berrou para o comunicador no cós da calça, as mãos tremendo.

Mas era tarde.

William segurou sua mão com força, os olhos marejados.

— Alice... minha menina... — sussurrou, com dificuldade.

— Não faz isso comigo... por favor, fica comigo! — ela chorava, tentando mantê-lo acordado, o coração em pânico.

— Você foi a filha que eu nunca tive... cuide do que construímos... como se fosse seu... você é meu orgulho... Diga para David que eu o amor que eu vou sempre amar

E então... o silêncio.

Seus olhos se fecharam suavemente, a mão escorregando da dela como um adeus.

Alice o abraçou com força, em choque. As lágrimas caíam em silêncio, seu corpo tremia. Os paramédicos chegaram minutos depois, mas já não havia mais o que fazer.

O hotel inteiro parou.

---

Na Itália...

David Miller estava em uma reunião importante com investidores no hotel da família em Milão. A mesa de vidro refletia o rosto sério e concentrado do CEO, mas o celular sobre ela vibrava sem parar. Ele ignorou uma, duas, três vezes.

Na quarta, suspirou irritado e atendeu.

— O que foi, Emily?

Silêncio do outro lado.

— Emily? — repetiu, já com a voz mais séria.

A voz da amiga e secretária pessoal tremia, quase inaudível.

— David... sinto muito. Seu pai... ele teve um infarto. Não resistiu.

O mundo parou.

— O quê? — disse ele, a voz falhando.

— Ele morreu hoje de manhã... nos braços da Alice.

Ao lado dele, Victor se levantou na mesma hora, entendendo pelo tom que algo grave havia acontecido. Emily entrou na sala, o rosto pálido, lágrimas nos olhos. Sem esperar por perguntas, ela se aproximou e segurou o braço de David.

— Estamos com você — disse, firme, mesmo com a dor transbordando. — Vamos organizar tudo. Eu e Victor vamos com você a Nova York.

David fechou os olhos com força. O coração pesava, os punhos cerrados. O silêncio dentro da sala de reuniões se tornou ensurdecedor.

— A reunião acabou — declarou, levantando-se de uma vez.

Victor o segurou pelo ombro.

— Estamos juntos, irmão. Você não precisa passar por isso sozinho.

David assentiu em silêncio, sem conseguir pronunciar mais uma palavra. O peso de uma ausência que nunca pôde ser consertada o esmagava por dentro.

---

De volta a Manhattan...

O velório de William Jones Adams foi realizado no salão nobre do próprio hotel, como ele teria desejado: simples, elegante, discreto. O ambiente estava repleto de flores brancas e fotos antigas do fundador da rede Millers, desde sua juventude até os dias atuais.

Alice estava lá, vestida de preto, a postura firme, mas os olhos fundos, marcados pela dor. Ao seu lado, como pilares silenciosos, estavam Benjamin e Isabela, seus amigos mais fiéis.

— Você foi tudo para ele, amiga — disse Isabela, segurando sua mão com carinho. — Ele sempre dizia que se sentia em paz porque você estava aqui.

Benjamin assentiu, com os olhos marejados.

— Ele sabia que estava deixando tudo em boas mãos.

Alice não conseguia responder. Segurava nas mãos uma carta — a última escrita por William — e o envelope lacrado do testamento, reservado para David.

Enquanto amigos, funcionários e clientes antigos passavam para se despedir, Alice se manteve forte. Mas ela sabia que o momento mais difícil ainda estava por vir:

A chegada de David.

Eles nunca haviam se encontrado pessoalmente. Trocaram apenas e-mails formais ao longo dos anos, quando assuntos administrativos exigiam. Ele morava na Itália e evitava tudo que o ligasse ao pai. Ela era o coração pulsante daquele hotel — a memória viva de William.

E agora, o destino, com sua ironia amarga, preparava o primeiro encontro entre duas almas marcadas por perdas diferentes, mas igualmente profundas.

A dor.

O luto.

O vazio.

Talvez... também o recomeço.

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Comments

Tânia Principe Dos Santos

Tânia Principe Dos Santos

que dor mas que Willian descanse em paz e Alice e David superem a perda

2025-08-02

1

Marcia Rodrigues

Marcia Rodrigues

Iniciando hoje:1/08/2025. Embarcando em mais um lindo romance 💞 assim espero 😍📕

2025-08-01

1

Iara Maria Moura

Iara Maria Moura

Essa história parece ser boa !! /Gift/

2025-08-02

1

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Atualizado até capítulo 53

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