Capítulo 3 — O anúncio do noivado causa alvoroço
A notícia espalhou-se pela sociedade londrina com mais velocidade do que um incêndio em biblioteca.
Na manhã seguinte à visita oficial do Duque de Thornewood à casa dos Montrose, a cidade inteira sabia do noivado. Ou, mais precisamente, a cidade inteira achava que sabia. Versões conflitantes da história pipocavam em todos os salões, clubes e confeitarias:
— “Dizem que ela o seduziu no jardim com poesia proibida.”
— “Ouvi que ele a encontrou desmaiada entre as rosas e a salvou heroicamente.”
— “Ela estava escondida lá para escapar de um pretendente bêbado!”
— “A mãe dela armou tudo! Típico dos Montrose!”
— “Duques não se casam por obrigação. Ele deve estar apaixonado.”
A verdade, naturalmente, ninguém sabia. E Eloise não fazia questão de esclarecê-la.
Ela observava tudo do salão da residência Montrose, sentada em uma poltrona próxima à janela. Seus dedos brincavam com uma fita de cetim enquanto sua mãe caminhava de um lado para o outro, eufórica.
— Já chegaram flores de quatro famílias — anunciou Lady Beatrice, segurando cartões com entusiasmo. — E dois convites para jantares. A Condessa de Whitford quer nos receber antes do final da semana!
— Que maravilha — murmurou Eloise. — A temporada mal começou e já ganhei um noivo e uma fama duvidosa.
— Duvidosa, não! — a mãe ergueu um dedo. — É uma fama poderosa. Agora você é a futura Duquesa de Thornewood. E com esse título, minha querida, ninguém ousará questionar seu passado.
Eloise bufou. A ironia não a abandonava.
— O passado aconteceu ontem. Acho que ainda estou nele.
— Por favor, querida. Mostre-se agradecida. Você capturou o homem mais desejado — ou pelo menos o mais inacessível — da cidade. Nem Lady Agatha conseguiu isso.
— E lá vem ela — murmurou Eloise, ao ver uma carruagem luxuosa parar diante da casa. — Senti um calafrio.
A porta mal havia sido aberta quando Lady Agatha Pembroke entrou como um furacão polido, vestida em tons de lavanda e joias discretas, mas caríssimas. Era bonita no sentido clássico: cabelos loiros presos em um coque sem fio fora do lugar, olhos azuis e sorriso treinado para esconder más intenções.
— Lady Beatrice! — exclamou ela, com falsa doçura. — Que notícia maravilhosa! Vim oferecer minhas mais sinceras... surpresas. Digo, felicitações!
— Lady Agatha, que delicadeza — disse a mãe de Eloise, levantando-se depressa para recebê-la. — Fique à vontade. Eloise está logo ali.
Eloise, sem levantar-se, fez uma reverência sutil.
— Lady Agatha. Que prazer... inesperado.
Agatha se aproximou como uma gata prestes a dar o bote.
— Então é verdade. O duque... enfim, escolheu. — Ela sorriu. — Imagino que tenha sido tudo muito... espontâneo.
— Como uma explosão — respondeu Eloise com doçura. — Rápido, barulhento e inevitável.
Agatha piscou lentamente, o sorriso apenas tremendo.
— Imagino que esteja encantada com ele.
— Encantada não é a palavra. Desafiada, talvez.
— Hum. Ele não é um homem fácil.
— Ótimo. Homens fáceis nunca me interessaram.
O duelo velado entre as duas foi interrompido por Lady Beatrice, que, em sua inocência, achava que o chá amenizava rivalidades.
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Enquanto isso, Alexander Cavendish estava tendo um dia igualmente tortuoso.
Ele se encontrava no Clube Cavendish, lugar que não tinha seu nome por acaso — havia sido fundado por um ancestral com mais senso de propriedade do que humildade. No clube, cavalheiros de linhagem impecável liam jornais, bebiam conhaque e julgavam o mundo entre uma baforada de charuto e outra.
Alexander detestava o lugar. Mas naquela manhã, precisava “cumprir o protocolo”, como dissera sua irmã Helena ao arrastá-lo para lá.
— Você tem que ser visto, Alex — insistira ela. — Se sumir agora, vão dizer que está sendo forçado.
— Estou sendo forçado.
— Então pareça feliz.
Ele havia tentado. Usava um terno escuro perfeitamente ajustado, o queixo barbeado, o cabelo arrumado. Ainda assim, sua expressão mantinha a mesma frieza habitual.
Sir Cedric Armstrong foi o primeiro a se aproximar.
— Parabéns, Thornewood — disse com um sorriso malicioso. — Uma jogada surpreendente.
— Não foi um jogo.
— Claro que não. — Cedric riu. — Mas a senhorita Montrose... interessante. Corajosa. Insolente. Exatamente o tipo que você evita.
— Talvez eu esteja reformulando meus critérios.
— Ou talvez tenha caído em uma armadilha muito bem montada.
Alexander girou o anel no dedo. Um antigo hábito quando estava irritado.
— Se está insinuando que a senhorita Montrose tramou algo, recomendo que retire isso.
— Calma, duque. É apenas conversa entre amigos.
Alexander não tinha amigos.
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Naquela noite, os Montrose ofereceram um jantar discreto para “comunicar formalmente” o noivado aos mais próximos.
Discreto, no entanto, era uma palavra subjetiva.
Havia mais de cinquenta convidados, três músicos, dois bufês, vinho francês, sobremesas com nomes impronunciáveis e três arranjos florais do tamanho de carruagens.
Eloise desceu as escadas como uma verdadeira debutante — não por desejo, mas por sobrevivência.
Usava um vestido vinho com detalhes em dourado, escolhido por sua irmã mais nova, Cressida. O cabelo estava preso em um coque trançado, com algumas mechas soltas para suavizar o rosto. Seus olhos, no entanto, estavam mais vivos do que nunca.
Alexander já estava lá, conversando com o Visconde de Ashby. Assim que a viu, interrompeu a conversa e foi ao seu encontro.
— Está... — ele começou, claramente desconfortável com elogios — apresentável.
— É o vestido — disse ela. — Ele faz todo o trabalho.
— E o resto?
— O resto aguenta firme.
Eles ficaram lado a lado durante quase todo o jantar, cumprindo a obrigação social de sorrir, agradecer os parabéns, e parecer minimamente agradáveis um ao outro.
A certa altura, Alexander inclinou-se e murmurou:
— Quantas vezes já lhe perguntaram se está feliz?
— Quinze. E você?
— Dezessete. Aparentemente, estou sorrindo demais.
— Isso é sorrir?
— Para mim, sim.
Mais tarde, durante a sobremesa, Lady Agatha aproximou-se com duas outras damas da sociedade.
— Lady Eloise — disse ela, com a sutileza de uma adaga envolta em seda. — Um noivado relâmpago é sempre tão... emocionante. Imagine os bailes que virão. Tantos olhos sobre vocês.
— A sociedade precisa de entretenimento. E, pelo visto, nos tornamos protagonistas — disse Eloise.
— E você, Duque? — perguntou Agatha, dirigindo-se a Alexander. — A senhorita Montrose conquistou seu coração tão rapidamente?
Alexander não respondeu de imediato. Seu olhar pousou no de Eloise. Ela levantou uma sobrancelha, desafiando-o a continuar com a mentira — ou, quem sabe, a transformá-la em algo maior.
— Lady Eloise me surpreendeu — disse ele, enfim. — E eu sempre valorizei o que é imprevisível.
Agatha sorriu como quem engole vinagre.
— Que resposta... encantadora.
— Ele ensaia — respondeu Eloise. — Mas está melhorando.
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Quando a noite terminou, Eloise recolheu-se à biblioteca. Queria distância da música, dos sorrisos falsos e das expectativas depositadas em seus ombros.
Alexander apareceu pouco depois, sem aviso, como era de se esperar dele.
— Fugiu da própria festa? — perguntou ele, encostando-se à porta.
— Não. Apenas vim respirar.
— Sabe que agora tudo mudou.
Ela virou-se para ele, os olhos brilhando sob a luz das velas.
— Sei. Agora sou a futura esposa de um homem que não acredita em amor, e você é o futuro marido de uma mulher que desafia regras em tempo integral.
— Parece um belo caos.
— Caos é meu sobrenome.
Ele deu um passo à frente.
— Está com medo?
— Um pouco.
— Eu também.
E pela primeira vez, o silêncio entre eles não foi de resistência, mas de cumplicidade.
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Atualizado até capítulo 44
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