Capítulo 2 — A proposta impossível
Na manhã seguinte ao Baile dos Bartholomew, o sol mal havia despontado no céu de Londres quando os primeiros cochichos começaram a se espalhar como fumaça em palha seca.
Nas casas dos nobres, nas floriculturas, nas confeitarias e até entre as cocheiras, um único assunto dominava os sussurros: Lady Eloise Montrose foi vista sozinha nos jardins com o Duque de Thornewood. À noite. Sem acompanhante. Por tempo indefinido. E com testemunhas. Muitas testemunhas.
— Isso é uma catástrofe — murmurou Lady Beatrice Montrose pela décima vez em menos de meia hora, andando de um lado para o outro no salão de visitas como um furacão de seda bordada e indignação.
Eloise, por sua vez, permanecia sentada à janela, observando calmamente os pássaros que bicavam o jardim da família.
— Mãe — disse ela com uma serenidade que só irritava ainda mais a matriarca —, está exagerando. Foi apenas um mal-entendido.
— Um mal-entendido? Clarissa Hastings praticamente se jogou da varanda para contar a todos! E ela nunca exagera... bem, nunca quando o escândalo envolve outra pessoa.
— A culpa não foi minha — disse Eloise, tentando parecer mais inocente do que realmente se sentia. — O duque estava lá primeiro.
— Isso é ainda pior! — esbravejou a mãe. — Ele é um homem! Um duque! Você deveria ter saído correndo!
— E tropeçado em um vaso de cerâmica no caminho, dando ainda mais espetáculo?
Lady Beatrice jogou as mãos ao ar em desespero.
— Por todos os santos! Você será arruinada, Eloise! Nenhum cavalheiro digno vai querer casar com você agora. A não ser…
— Não diga. Por favor, não diga.
— ...o próprio Duque de Thornewood — completou a mãe com satisfação trágica.
Eloise recostou-se na cadeira como se o teto tivesse desabado sobre sua cabeça. Alexander Cavendish? O homem mais glacial da nobreza inglesa? Casar-se com aquele homem?
Ela preferia lutar com uma planta carnívora do que com a expressão permanentemente entediada dele.
— Isso é desumano — murmurou.
— Isso é necessário. — A mãe apontou com firmeza. — Você irá para a sala de visitas. Agora. Ele está vindo.
— Ele... o quê?
— Ele está vindo pedi-la em casamento. É o mínimo que pode fazer. Arruinou sua reputação, sua temporada e talvez a vida amorosa de suas irmãs.
— Que exagero...
— Desça. Imediatamente.
Eloise bufou, levantando-se com relutância. Ao passar por um espelho, ajeitou o cabelo com os dedos. Não por vaidade, mas por orgulho. Se era para encarar o Duque de Thornewood, o faria com a cabeça erguida, os cachos em ordem e a língua afiada.
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Alexander Cavendish detestava perder tempo. Ainda mais quando envolvia questões sociais, boatos e senhoras ansiosas para enfiar-lhe anéis matrimoniais nas mãos.
Contudo, naquela manhã, ele se encontrava parado no salão dos Montrose, segurando a bengala com força demais e sentindo uma leve dor de cabeça se formar atrás dos olhos.
"Por que eu fui ao jardim?", pensava consigo. "Por que eu não a ignorei? Por que o destino insiste em me testar com damas espirituosas de olhos penetrantes e língua ferina?"
Mas ele sabia a resposta. E isso era ainda mais irritante.
A porta se abriu.
E lá estava ela.
Eloise Montrose entrou na sala como se fosse dona do mundo. O vestido simples, em tom de verde musgo, realçava sua figura com elegância sutil, mas era o olhar que chamava atenção: direto, firme, desafiador.
Ela parou diante dele e fez uma reverência impecável.
— Vossa Graça.
— Lady Eloise.
Silêncio.
— Agradeço por vir — disse ela, com um leve sorriso. — Embora tenha certeza de que preferiria estar em qualquer outro lugar.
— Estaria enganada.
Ela arqueou uma sobrancelha.
— Prefere estar aqui sendo forçado a me propor casamento do que, digamos, cavalgando pelas colinas de Yorkshire?
— Sim. Cavalos têm menos opinião.
Eloise deu uma risada curta.
— Duro, Duque. Mas justo.
Alexander respirou fundo.
— Não vim fazer uma cena. Vim porque entendo a gravidade da situação. A senhorita foi exposta, e, mesmo que nada de impróprio tenha ocorrido — o que é verdade —, a sociedade não perdoará. E, por esse motivo... — ele hesitou, como se cada palavra custasse mais do que ouro — ofereço-lhe minha mão em casamento.
Ela o encarou.
— Apenas isso? Sem joelhos dobrados? Sem declarações inflamadas de honra e sacrifício?
— Não sou um ator de teatro.
— Que pena. Eu gosto de dramatizações. Especialmente as ruins.
Outro silêncio.
— Pode recusar, é claro — disse ele. — Mas devo avisar que, se o fizer, poderá comprometer o futuro de suas irmãs.
Eloise suspirou profundamente.
— Gosto quando é direto, Vossa Graça.
Ela deu alguns passos, parando em frente à lareira. Os dedos deslizaram sobre o mármore, pensativa.
— E se eu aceitasse?
— Teria um casamento digno. Respeito. E espaço. Eu não interfiro em suas atividades. A senhorita não interfere nas minhas.
— Teria liberdade?
— Dentro dos limites da decência e da segurança, sim.
— E não haveria... obrigações conjugais imediatas?
Alexander não corou, mas sua mandíbula se contraiu.
— Apenas com mútuo consentimento.
Eloise o olhou com curiosidade.
— Frio e sensato. O casamento dos sonhos.
— Não estou prometendo sonhos, Lady Eloise. Estou prometendo estabilidade.
Ela se aproximou mais um passo. Agora, os dois estavam tão próximos que poderiam ouvir a respiração um do outro.
— Então, me diga, Vossa Graça: por que, de verdade, está aceitando isso?
Alexander a encarou. Seus olhos cinzentos não vacilaram.
— Porque, apesar do escândalo, da língua afiada e da propensão a se esconder em jardins alheios... há algo em você que me intriga. E eu não ignoro o que me intriga.
Eloise sentiu o ar rarefeito por um instante.
— O senhor deveria trabalhar com encantamentos. Disse isso como se fosse um elogio, quando na verdade é um aviso.
— Considerarei isso um elogio, de qualquer forma.
Ela sorriu. Um sorriso de canto, carregado de ironia e... curiosidade.
— Está certo, Vossa Graça. Aceito sua proposta.
— De verdade?
— De verdade.
— Sem ameaças, chantagem ou lágrimas?
— Talvez lágrimas. Mas só no altar, para causar impacto.
Eles apertaram as mãos. O toque foi breve, mas firme. Como um pacto entre dois generais prestes a entrar em guerra.
— Isso — disse ela com uma voz melódica — será absolutamente encantador.
Alexander não respondeu. Mas, enquanto a observava sair da sala com a postura ereta e o passo elegante, teve a estranha sensação de que aquele casamento seria tudo… menos previsível.
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Atualizado até capítulo 44
Comments
Jock◯△□
Fiquei presa nessa história! Preciso saber o que acontece! 😍
2025-07-27
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