Bem vindo

Tentei respirar fundo, manter a postura, o olhar firme, mas a presença dele me desestabilizava em cada detalhe. Os olhos claros, o cabelo milimetricamente penteado para trás, a barba bem aparada, o terno impecável moldando o corpo grande, forte… e aquele maldito ar de quem sempre está no controle.

Mas hoje… ele não estava. Não totalmente.

Angelina: — Senhor Castellani. — pronunciei, o tom profissional, mesmo que o peito queimasse

Angelina - Bem-vindo.

Os olhos dele se estreitaram, o sorriso de canto surgindo, carregado de malícia e ironia.

Felipe: — Senhor Castellani? — repetiu baixo, inclinando levemente a cabeça

Felipe - Depois de tudo, é assim que me chama? Fria… gostei dessa sua nova versão, Angel.

O nome escapou dos lábios dele como um veneno doce, me atravessando, me desafiando. Ele sabia exatamente o que fazia.

Angelina: — Aqui, sou só Novak. — rebati, o olhar fixo no dele

Angelina - A vida pessoal ficou no passado… onde deveria estar.

Ele riu baixo, a língua passando pelos lábios de leve, o olhar deslizando pelo meu corpo, sem disfarces, como se ainda me possuísse.

Felipe: — O passado é relativo. — disse, a voz rouca, carregada de provocação

Felipe - Às vezes ele volta… quando a gente menos espera.

O peito apertou, as lembranças latejando, mas mantive o rosto impassível. Não ia me desmontar de novo. Não ali, na frente dele, na frente da empresa, dos colegas, de ninguém.

Meu chefe interrompeu o clima tenso, chamando para o início da reunião, mas antes de virar as costas, Felipe se inclinou discretamente, a voz quente roçando meu ouvido.

Felipe: — Vamos ver quanto tempo consegue sustentar essa pose… antes de se lembrar do quanto… você sempre foi minha.

O corpo inteiro arrepiou, o orgulho gritou, e o jogo recomeçou.

E dessa vez… ou eu o destruía, ou ele me destruía de novo.

A sala de reuniões estava gelada, o ar-condicionado funcionando no máximo, mas o calor que queimava sob minha pele era insuportável.

Felipe sentou-se à cabeceira da mesa como se fosse dono de tudo, as pernas cruzadas, o relógio de luxo brilhando no pulso, a postura relaxada… e aquele olhar. O maldito olhar de quem sabia exatamente o efeito que tinha sobre mim.

Meu chefe fez as devidas apresentações, exaltou a entrada do grupo Castellani como um divisor de águas para a empresa, e eu… eu tentava respirar. Fingir que não sentia o peso dele me queimando, mesmo sem encostar.

Chefe: — Novak ficará responsável por toda a comunicação direta com o senhor Castellani. Confio nela para manter o padrão da empresa em todos os detalhes.

Felipe sorriu de canto, e por dentro, eu sabia que ele estava se divertindo.

Felipe: — Excelente escolha. — disse baixo, o olhar cravado no meu

Felipe - Ninguém melhor do que alguém… familiarizado comigo para lidar diretamente com o que importa.

O estômago revirou, mas mantive o rosto impassível, anotando algo no bloco só para não socá-lo ali mesmo.

Angelina: — Pode deixar, senhor Castellani. — respondi no mesmo tom, sem piscar

Angelina - Vou lidar com o que for necessário… profissionalmente.

Ele mordeu o lábio inferior de leve, como se o desafio o divertisse ainda mais. O olhar dele percorreu meus traços, demorando um pouco demais no meu pescoço, como se a memória dele ainda registrasse cada marca que já deixou ali.

A reunião prosseguiu, números, estratégias, projeções. Mas entre as palavras formais, as indiretas dele vinham como lâminas cortando o ambiente.

Felipe: — O segredo é saber dominar o terreno… — disse, olhando diretamente pra mim, a voz carregada de duplo sentido

Felipe - Quando você conhece as fraquezas do outro lado, fica fácil conduzir… o resultado final.

Meu chefe sorriu, sem entender o subtexto, mas meu corpo inteiro sentiu a provocação.

O pior? Parte de mim ainda reagia. Parte de mim ainda queimava sob o peso daquele homem. Mas eu não ia me desmontar de novo. Não na frente dele. Não na frente de todos.

Quando a reunião terminou, ele foi o último a levantar. Pegou a pasta, ajeitou o relógio, e antes de sair, parou ao meu lado, o corpo grande próximo demais, a voz baixa só pra mim.

Felipe: — Profissional, Angel? — rosnou no meu ouvido, a malícia escorrendo

Felipe - Vamos ver quanto tempo você aguenta manter essa mentira… Porque, no fundo, nós dois sabemos… o quanto você ainda me sente.

E então saiu, deixando o perfume amadeirado no ar, o peito acelerado, e o caos instalado.

Ele estava de volta.

E o jogo estava só começando.

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