Não desta vez

A semana estava passando devagar, as horas arrastadas entre reuniões, relatórios e aquela típica correria de final de trimestre. Eu já estava com a cabeça nos meus próprios problemas quando o chamado do meu chefe veio pelo interfone.

Chefe: — Angelina, na minha sala. Agora.

Suspirei, ajeitando o blazer, o estômago apertando. O tom seco dele sempre me fazia lembrar que, por mais tranquila que minha vida parecesse… nada é tão estável quanto parece.

Bati na porta, entrei, e o vi debruçado sobre a mesa, os óculos na ponta do nariz, analisando documentos. Quando levantou o olhar, o semblante dele era sério, mas havia algo diferente. Ansiedade? Expectativa? Não consegui decifrar de imediato.

Chefe: — Senta. Preciso que esteja focada hoje.

Assenti, me sentando, o corpo já tenso, o coração disparando sem motivo aparente.

Angelina: — Aconteceu algo?

Ele respirou fundo, cruzando os braços sobre a mesa.

Chefe: — Temos uma reunião importante em menos de uma hora. Um possível sócio estratégico. Alguém grande, muito acima do padrão dessa empresa. E quero você coordenando o atendimento, organizando tudo, passando a imagem certa. — ele apontou pra mim, firme — Quero que impressione. Esse contrato pode mudar nossa realidade.

Franzi o cenho, confusa.

Angelina: — Um sócio… de fora? A gente não costuma lidar com grandes investidores, não no nosso setor.

Ele assentiu, os olhos sérios.

Chefe: — Por isso mesmo é uma oportunidade. E você, Novak… é quem vai segurar a linha de frente. Quero que prepare a sala, organize a equipe e cuide dos detalhes. Esse investidor não é qualquer um… e pelo que sei, gosta de discrição e eficiência.

Assenti devagar, tentando engolir o nervosismo, mas o peito já apertando. Algo estava errado. Ou certo demais para ser só coincidência.

Saí da sala, o coração acelerado, a mente girando.

Discrição. Poder. Um grande investidor, vindo do nada.

Engoli em seco.

Por dentro, uma parte de mim já sabia.

O passado estava batendo à porta. E, dessa vez… não tinha pra onde fugir.

A sala de reuniões estava impecável.

Organizei os papéis, alinhei as cadeiras, verifiquei o projetor e repassei mentalmente cada detalhe que o meu chefe pediu. Meus colegas circulavam ao redor, apressados, ansiosos, mas a única coisa que eu sentia… era o aperto no peito.

Algo estava fora do eixo e, mesmo sem ver o rosto dele, meu corpo já reconhecia o sinal de alerta.

O relógio marcava poucos minutos para o horário da reunião. Respirei fundo, ajeitei o cabelo agora mais escuro, em contraste com a mulher que eu fui e me forcei a manter a postura profissional. Era só um sócio. Era só um contrato. Era só…

Mentira.

Meu corpo inteiro sabia. Antes mesmo da porta se abrir, antes mesmo de qualquer confirmação, eu já sentia a presença dele invadindo o ambiente, mesmo que, racionalmente, ainda não soubesse o nome do “investidor misterioso”.

O interfone tocou e meu chefe avisou:

Chefe: — Ele chegou. Recepcione-o, Novak. Quero você ao lado dele do começo ao fim da reunião.

O ar saiu dos meus pulmões de forma falha. O elevador privativo do andar soou no fim do corredor. Meu salto ecoava no piso, cada passo parecendo uma eternidade.

Calma. Pode ser qualquer um.

Me aproximei da porta de vidro, o reflexo do meu rosto visível, os olhos firmes, mas o coração disparado como se estivesse prestes a sair pela boca.

A porta se abriu.

Os primeiros passos soaram pelo piso de mármore. Sapatos caros, o cheiro familiar de perfume amadeirado misturado ao couro do casaco. A voz grave do recepcionista anunciando:

Recepcionista: — Senhor Castellani, é um prazer recebê-lo.

O mundo parou.

Meu corpo congelou. A garganta secou. E antes mesmo de virar o rosto, eu sabia.

Felipe Castellani.

Um ano inteiro fugindo. Um ano me reconstruindo. E ele estava ali. Milão, meu recomeço, minha bolha… invadida por ele.

Ainda não virei o rosto. Ainda não deixei ele me ver. Mas o impacto já estava feito.E, dessa vez, eu não sabia se teria força para fingir que era forte o suficiente para encará-lo.

A sala pareceu encolher. O ar sumiu dos meus pulmões, e o coração, que tentei disciplinar por meses, desobedeceu como sempre fazia ao sentir o nome dele.

Felipe Castellani.

Ouvi a voz dele cumprimentando meu chefe, grave, segura, carregada daquela maldita confiança que sempre o acompanhava. Não precisei olhar para sentir a presença dele preencher o ambiente como uma sombra que me seguia há um ano.

Mas meu chefe já estava chamando:

Chefe: — Novak, venha cá. Quero que conheça nosso novo sócio.

Me virei devagar, o estômago revirando, as mãos frias, e o peito… o peito completamente fora de controle.

Quando os olhos dele encontraram os meus, tudo ao redor desapareceu. As pessoas, o escritório, as vozes… só existia ele. E o passado esmagando meu peito como um soco.

O olhar dele percorreu meu corpo inteiro. Primeiro surpreso, depois, lento… carregado de algo sombrio e perigoso, como se estivesse absorvendo cada detalhe da mulher que eu era agora.

Mas o problema? Eu também lembrava. Cada pedaço, cada toque, cada maldito momento.

Flashbacks:

Eu, sobre a cama dele, sem nada cobrindo meu corpo, as mãos dele me segurando firme, o rosto afundado no meu pescoço, os gemidos abafados, o prazer explodindo.

A bancada da cozinha, minha pele arrepiada, o frio do mármore contrastando com o calor das estocadas dele, os olhos dele me queimando enquanto me tomava por completo.

O sofá, o corpo dele sobre o meu, o membro dele me preenchendo, o som dos nossos corpos se chocando, o desejo sufocante, e a promessa sussurrada de que eu era dele. Só dele.

Fim do flashback.

Engoli em seco, o corpo traindo minha mente, as pernas querendo falhar, mas o orgulho… o orgulho me manteve firme.

Ele deu um passo em minha direção, o olhar preso no meu como se ninguém mais existisse naquela sala.

Felipe: — Novak. — pronunciou meu sobrenome com um tom carregado, quase como se saboreasse a ironia

Felipe-Quanto tempo… e mesmo assim… parece que foi ontem.

Minha boca se abriu para responder, mas a garganta falhou. O jogo estava armado, as peças no tabuleiro… e, dessa vez, eu sabia:

Ou eu o enfrentava de verdade… ou ele ia me engolir viva de novo.E eu jurei que não voltaria a ser a mulher ajoelhada aos pés dele.

Não dessa vez.

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Comments

Eliana Rantin

Eliana Rantin

Já estou com crise de ansiedade 🤣🤣🤣

2025-07-26

0

Adriane Alvarenga

Adriane Alvarenga

Eita.....🤔🤔🤔🤔🤔🤔

2025-07-28

0

Liliane Ramiro

Liliane Ramiro

uauauau

2025-07-25

1

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