Hanry
Springday tinha aquele ar de cidade interiorana onde todo mundo sabia da vida de todo mundo — menos, claro, quando se tratava da vida dupla dos Harper. Henry acordou naquela manhã de quarta-feira com o despertador tocando uma música irritante, que ele ainda não tinha conseguido trocar porque o aplicativo travava toda vez que tentava.
— Ah, vai se foder, celular — murmurou, virando-se de cara no travesseiro, antes de finalmente criar vergonha e se levantar.
Enquanto colocava a camisa social por cima do corpo ainda molhado da ducha rápida, ouviu a voz da mãe vindo do andar de baixo.
— Henry! Tem pão de queijo e suco de laranja! E o motorista vai te deixar na faculdade hoje, não se atrase!
— Já falei que não quero motorista, mãe! Eu tenho carro!
— Um carro com o retrovisor pendurado? Henry Harper, você não vai sair com aquela aberração — retrucou a mãe, com a voz doce demais pra ser levada a sério.
Henry bufou, pegou a mochila e desceu as escadas. Seus pais, sentados à mesa como se fossem a porra de um casal presidencial, tomavam café como se nada na vida os preocupasse.
— Bom dia, filho. Dormiu bem? — perguntou o pai, levantando os olhos do tablet.
— Dormi pensando em como vou pagar um retrovisor novo com o salário de estagiário.
A mãe revirou os olhos. — A gente pode mandar arrumar, amor. Sem drama.
— Sem drama? A senhora acha que um alfa brutamontes que joga a porra da moto no carro dos outros é "sem drama"?
Os dois pais se entreolharam por um segundo a mais do que deveriam. Henry estreitou os olhos, mas deixou passar. Eles sempre agiam assim quando ele falava de "problemas externos", como chamavam qualquer coisa que envolvesse confusão.
— Eu vou resolver, tá? Do meu jeito — disse ele, pegando um pão de queijo da cesta e enfiando na boca antes de sair pela porta.
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Na faculdade de Direito, Henry era conhecido por duas coisas: suas respostas afiadas e sua capacidade de fazer sarcasmo soar como arte. E, naquele dia, ele estava especialmente ácido.
— Se mais um professor disser que estágio é oportunidade de aprendizado e não exploração, eu juro que rasgo meu próprio diploma — resmungou, jogando a mochila na cadeira ao lado de Katty.
— Bom dia pra você também, alma amarga — respondeu Katty, loira, cheia de tatuagens e com um pirulito na boca, como sempre. — Você ainda tá com a história do retrovisor?
— O brutamontes me deve trezentos conto e um pedido de desculpa. E, de preferência, ajoelhado.
— Eu adoraria ver isso — disse Benício, rindo, com a cara colada no notebook.
— Ele é o ômega mais perigoso que essa cidade já viu — comentou Alice, com aquele tom teatral. — Um Harper rejeitado pelo próprio carro.
— Vão todos se ferrar — murmurou Henry, mas estava rindo.
Jhone chegou por último, com dois copos de café e uma expressão de quem tinha passado a noite toda estudando ou transando — no caso dele, sempre era difícil saber qual dos dois.
— Olha, Henry, eu li sobre esse tal de “instinto de alfa” aí. Vai que o cara te seguiu por causa do cheiro? — disse ele, como se fosse um fato científico indiscutível.
Henry quase cuspiu o café que acabara de roubar da mão de Katty.
— Primeiro: ninguém “segue meu cheiro”. Segundo: ele nem sabe que eu sou ômega, e se soubesse, continuaria sendo um idiota.
— Você realmente acha que ninguém percebe? — provocou Alice. — Mesmo escondendo, você tem esse ar... selvagem.
— Selvagem? — Henry ergueu uma sobrancelha. — Eu uso hidratante com cheiro de lavanda, Alice. A única coisa selvagem aqui é minha paciência se esgotando.
Todos riram. A manhã passou com discussões acaloradas sobre teoria penal, piadas sobre o professor que esquecia os próprios slides e o plano mirabolante de Katty de abrir um escritório clandestino de divórcios na garagem da avó.
Na hora do almoço, o grupo foi ao restaurante universitário, onde tudo era seco demais ou molhado demais. Henry estava prestes a reclamar do feijão quando recebeu uma mensagem da mãe.
> "Seu pai quer que você venha jantar em casa hoje. Assunto de família."
Ele franziu a testa. Assunto de família? Isso soava mais como "vamos te contar que somos reis do tráfico" do que "seu cachorro vai ser castrado".
— Problemas? — perguntou Jhone, observando a cara tensa de Henry.
— Nada demais. Só um daqueles jantares em que meus pais me tratam como se eu fosse o novo herdeiro de alguma dinastia secreta.
— Vai ver você é — disse Katty. — E a gente só tá aqui porque você ainda não despertou o seu poder.
— Sim, Katty, isso é um anime agora. Vou despertar minha herança mafiosa no episódio 12.
Eles riram, mas Henry guardou o celular no bolso com um aperto no peito. Às vezes ele sentia que tinha algo errado. Como se não soubesse nem a metade da própria história. Como se a cidade inteira estivesse esperando algo dele — e ele nem sabia o quê.
O dia terminou entre mais anotações rabiscadas, planos para o fim de semana e a promessa de que Katty o obrigaria a sair para dançar no sábado.
Mas no fundo, enquanto fingia se concentrar nos livros de Direito Penal, a imagem de um alfa grosseiro e de olhar perigoso ainda surgia em sua mente. E isso o irritava profundamente.
Não porque ele queria distância.
Mas porque, mesmo sem saber, o tal alfa ainda estava grudado na memória dele como se tivesse deixado uma marca invisível.
E Henry odiava isso.
Odiava mais ainda o fato de parte dele... estar curiosa.
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Atualizado até capítulo 35
Comments
Ana Carolina Ferreira
tô gostando da história mais acho que faltou as fotos
2025-08-01
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