Springday acordou abafada naquela terça-feira, como se o céu também tivesse decidido carregar as frustrações de Henry. E ele tinha muitas.
O carro seguia com o retrovisor pendurado por um fio, balançando feito uma acusação silenciosa contra o alfa idiota que o destruíra. A cena do dia anterior ainda se repetia na mente de Henry: o rugido das motos, o empurrão seco e a expressão zombeteira daquele maldito. Um pedaço de vidro no chão e outro da paciência de Henry despedaçado junto.
— Você ainda tá funcionando, então agradeça — murmurou para o carro, dando dois tapinhas no volante, como se isso pudesse aliviar seu ódio.
Apesar do estrago no carro e do humor deteriorado, ele seguiu sua rotina. Faculdade de manhã, estágio à tarde. A vida de alguém que insistia em viver com dignidade — mesmo que a cidade inteira parecesse querer testá-lo diariamente.
No estacionamento da faculdade, ele tentou ignorar os olhares curiosos para o retrovisor destruído. Hoje sua aula seria pela manhã. Não queria contar a ninguém que fora vítima de um crime rodoviário patrocinado por um desfile de testosterona e couro os únicos que sabiam eram seus amigos e isso bastava.
Horas depois, no escritório de advocacia Mendonça, Arrais e Dantas, Henry se concentrava nos arquivos com a intensidade de quem precisava urgentemente esquecer o mundo. Trajava uma camisa social impecável, mangas dobradas, caneta presa ao bolso. O cabelo levemente rebelde insistia em cair sobre a testa, e ele o afastava com impaciência.
Ele revisava um parecer jurídico quando um dos advogados mais antigos apareceu na porta da sala de estagiários.
— Harper? Tem um cliente novo esperando na sala de reunião 3. Vai lá pegar os dados e preparar o formulário de pré-atendimento, sim?
— Claro. Nome? — perguntou, já se levantando.
— Moss. Elaijh Moss.
Henry congelou por um segundo. O sangue lhe subiu à cabeça e desceu num segundo. Não podia ser coincidência. Elaijh. Moss. Aqueles olhos cinzentos e provocativos voltaram como uma avalanche em sua mente. Esse nome era famoso na cidade, afinal quem não sabia o nome de quem liderava aquela gangue de motoqueiros, até a polícia sabia quem era, mas fingia não saber de nada.
Engoliu seco.
— Certo — respondeu, forçando neutralidade.
Sala de reunião 3.
Ele bateu na porta. E entrou.
Henry empurrou a porta. E lá estava ele.
Encostado na cadeira de couro como se fosse o dono do lugar, pernas abertas, braços tatuados apoiados nos braços da cadeira, um anel pesado num dos dedos. E, claro, o sorriso de quem lembrava perfeitamente da destruição do retrovisor de um ômega mal-humorado num carro preto.
Elaijh Moss ergueu uma sobrancelha ao vê-lo, divertido.
— Olha só. O destino é realmente irônico.
— Senhor Moss — Henry disse, seco, tentando parecer profissional. — Estou aqui para registrar seus dados e entender o motivo da consulta.
— Está mesmo? Pensei que viria cobrar o espelho retrovisor — disse o alfa, com um meio sorriso que tinha gosto de gasolina e sarcasmo.
Henry o ignorou. Puxou a cadeira e sentou-se de frente, abrindo a pasta de formulários.
— Nome completo?
— Elaijh Matteo Moss.
— Profissão?
— Empresário.
Ele queria rir. Empresário. Provavelmente o tipo de “empresário” que escondia armas no porta-malas e lavava dinheiro com postos de gasolina e casas de apostas ilegais.
— Endereço?
Elaijh recitou um endereço que Henry não reconheceu de imediato, mas sabia que era uma das propriedades mais discretas nos arredores de Springday — luxuosa o suficiente para abrigar um homem com poder e segredos.
— E o motivo da consulta?
Elaijh o encarou por alguns segundos longos, intensos demais para o ambiente frio de uma sala jurídica.
— Digamos que preciso de alguém que saiba manter a boca fechada... e os olhos abertos.
Henry manteve a expressão impassível.
— Esse é um escritório sério. Sigilo é garantido por lei.
Elaijh deu uma risada baixa.
— Gosto disso em você. Tão certinho. Tão... arrumado. Aposto que tem camisas iguais organizadas por cor.
Henry cerrou os dentes.
— Isso será tudo por agora. Um dos sócios entrará para continuar o atendimento.
Ele se levantou antes que a temperatura naquela sala passasse do suportável para o intolerável. Mas antes de sair, ouviu a voz de Elaijh mais uma vez, como um arranhão na espinha:
— Nos vemos por aí, docinho.
Henry saiu e fechou a porta com calma. Mas por dentro, ele queria quebrar alguma coisa.
E, secretamente, também queria entender por que aquele alfa o fazia se sentir... em chamas.
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Beijooooos.
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Atualizado até capítulo 35
Comments
Monica De Carvalho Carvalho
Nat, obrigada pela história esplêndida!
2025-07-25
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