Capítulo 3 – A Centelha
Harry acordou no sofá da sala com o sol da manhã batendo em seu rosto. A cabeça latejava, e por um momento, ele achou que tudo tivesse sido apenas um sonho. Mas então viu o medalhão repousando em cima da mesa de centro, reluzindo com um brilho fraco.
O que ele ainda não sabia era que, durante a madrugada, seu tio tinha acordado com um barulho vindo do quarto. Assustado, levantou-se com dificuldade, calçando as sandálias com pressa, e foi até lá para verificar.
Ao abrir a porta, encontrou Harry caído no chão, desacordado, com o rosto suado e expressão tensa.
– Harry?! – exclamou o velho, com a voz embargada.
Rapidamente, o tio se agachou, checou a respiração e, aliviado por ele estar vivo, o carregou com esforço até o sofá da sala. Cobriu-o com um lençol leve e colocou o medalhão, que havia caído ao lado, em cima da mesinha de centro. Ficou um tempo observando o sobrinho, confuso e preocupado, sem entender o que havia acontecido.
Depois de alguns minutos, suspirou fundo e voltou para o quarto, inquieto.
– Que Deus me ajude... esse menino tá estranho desde que chegou – murmurou antes de se deitar de novo, o sono vindo aos poucos, vencido pela exaustão da idade e da preocupação.
Harry se levantou devagar, caminhando até a pia da cozinha. Jogou água no rosto, olhou-se no espelho rachado e sussurrou:
– Isso... aconteceu mesmo? Cultivo... técnicas de Qi... um imortal...
Sentou-se na cadeira enferrujada da cozinha e começou a rir. Primeiro de nervoso, depois de empolgação.
– Hahahaha... finalmente! Nunca pensei que isso poderia acontecer comigo. Sempre li essas histórias achando que eram só fantasia... e agora... eu posso cultivar!
Ele se levantou num salto, girou o anel no dedo, e encarou o medalhão. Seu sorriso ia de orelha a orelha. A mente disparava com pensamentos sobre técnicas, níveis de cultivo, habilidades... Mas então, a realidade o atingiu como um balde de água fria.
– Espera... se o Long Hai veio pra cá... aquele demônio também veio.
Seu sorriso sumiu. Um calafrio percorreu sua espinha.
Imediatamente, pegou o celular e começou a pesquisar tudo que podia sobre fenômenos sobrenaturais, notícias estranhas, aparições incomuns. Mergulhou em fóruns obscuros, blogs esotéricos, vídeos duvidosos.
Até que, em um site de notícias locais, uma manchete chamou sua atenção:
"Número de desaparecimentos misteriosos aumenta em Nova Brisa e região. Autoridades seguem sem pistas. População teme serial killer ou seita misteriosa."
Harry engoliu seco.
– Não pode ser coincidência...
O medo voltou com força. Mas também uma certeza: ele precisava aprender a usar aquela técnica. Precisava cultivar. Precisava se preparar.
Suspirando, ele se acalmou e decidiu preparar o café da manhã. Algo simples: pão com margarina e café preto fraco. Sentou-se na cama com o prato ao lado e respirou fundo.
– Vamos tentar...
Harry cruzou as pernas... ou tentou. Seus joelhos começaram a doer e ele caiu de lado, reclamando.
Pouco depois, ouviu passos vindo do corredor. Seu tio apareceu na porta da cozinha, coçando os olhos e vestindo uma camisa velha de flanela.
– Tá tudo bem, Harry? Ontem à noite eu ouvi uns barulhos estranhos. Acordei e te encontrei desmaiado no chão... – disse ele, com a voz rouca e carregada de preocupação.
Harry forçou um sorriso.
– Foi só... cansaço, tio. Nada demais. Me esforcei demais tentando me alongar... sabe como é, falta de preparo físico.
O velho suspirou, sem parecer muito convencido, mas não insistiu.
– Hm. Tá bom... vou preparar o café.
Sentou-se à mesa e começou a comer em silêncio, ainda observando Harry de canto de olho.
– Ai... como é que os caras das novels fazem isso parecer tão fácil?
Depois de alguns minutos tentando encontrar uma posição confortável, sentou-se com as pernas cruzadas do jeito que dava, costas apoiadas na parede. Fechou os olhos e começou a se concentrar.
Relembrou o que havia visto na visão do Long Hai. O primeiro capítulo da técnica básica de cultivo de Qi parecia simples: acalmar a mente, sentir a energia ao redor e guiá-la para dentro do corpo.
Mas nada aconteceu.
Ele tentou de novo. E de novo.
O máximo que conseguiu foi um pouco de tontura e um formigamento esquisito nos pés.
– Tá, talvez não seja de um dia pro outro... – murmurou, frustrado.
Porém, ao lembrar das histórias que leu por tanto tempo, percebeu que esse era apenas o começo. A maioria dos protagonistas levou dias, semanas, até meses para dar o primeiro passo.
E ele tinha um mês inteiro de férias.
Um mês para tentar. Um mês para mudar.
A guerra ainda não tinha acabado. Ela só estava começando.
E ele era agora uma peça no tabuleiro.
Os dias se passaram, e Harry mergulhou de cabeça em seu novo objetivo: cultivar.
No início, tudo era desconforto. Sentar em posição de lótus parecia uma tortura. As pernas formigavam, doíam, e ele precisava se mexer a cada cinco minutos. Mas com o tempo, foi se adaptando. Alternava entre a cama, o quintal do sítio e até debaixo de uma árvore isolada. Tentava de manhã cedo, ao meio-dia, e principalmente à noite, quando o silêncio parecia ajudar sua concentração.
No quinto dia, enquanto meditava embaixo do céu estrelado, sentiu algo diferente. Uma leveza no ar. Um fluxo sutil que parecia dançar ao seu redor. Um arrepio percorreu sua pele.
– Isso é Qi? Eu... tô sentindo?
Com o coração disparado, continuou a meditação. Porém, nada mais aconteceu.
Somente no décimo dia, depois de várias tentativas frustradas, finalmente conseguiu. Um fio minúsculo de energia — quase invisível — se moveu em sua direção. Tocou sua pele como uma brisa, e lentamente entrou em seu corpo.
– Consegui... – sussurrou, emocionado.
Mas sua empolgação atrapalhou. Ao abrir os olhos e se mover, o fio de Qi se dispersou imediatamente, como se nunca tivesse estado ali.
Frustrado, mas feliz, ele se deitou na grama e encarou as estrelas.
– É real... está mesmo funcionando.
A partir daquele momento, sua rotina mudou. Além da meditação, Harry começou a fazer exercícios físicos leves para fortalecer o corpo. Flexões, corridas em volta do sítio, agachamentos — mas como um bom nerd sedentário, mal conseguia completar uma série sem ficar ofegante.
Mesmo assim, insistia. Mesmo cansado, mesmo dolorido. Ele sabia que o corpo também era parte do cultivo.
No vigésimo dia, sentado no velho tapete da sala, sentiu novamente o fluxo de Qi. Dessa vez, estava preparado. Manteve a mente calma, o foco absoluto.
A energia fluiu por sua pele, entrou pelos poros, percorreu seu corpo como um fio quente. Lentamente, sentiu o calor se instalar em seu abdômen, onde deveria estar seu dantian.
Naquela noite, Harry deu o primeiro passo real.
Ele havia iniciado seu cultivo.
Na manhã seguinte, enquanto Harry tomava café, seu tio apareceu na cozinha com o semblante preocupado.
– Harry... fica em casa hoje, tá? Ouvi o pessoal da vizinhança comentando. Parece que gente tá desaparecendo por aqui. Melhor não arriscar.
Harry assentiu com um gesto calmo, mas por dentro seu coração apertou.
– Tudo bem, tio. Vou ficar por aqui mesmo.
O velho suspirou e voltou lentamente para o quarto, apoiando-se no batente da porta. Harry ficou observando por um instante antes de pegar o celular.
Antes de dormir, com o coração ainda acelerado pela conquista, Harry pegou o celular e ligou para Vinícius.
– Alô? Vinícius? Cara... preciso de um favor. Você consegue dar uma olhada nas notícias da região? Sei lá, coisas estranhas, desaparecimentos... qualquer coisa.
– Claro, ué. Aconteceu alguma coisa?
– Tô... meio preocupado. Acho que pode ter algo por aqui. Depois te explico. Me avisa se achar algo, tá?
– Beleza, vou dar uma vasculhada. Te mando mensagem.
Harry desligou, guardou o celular e deitou-se na cama. Agora que havia iniciado o cultivo, o mundo parecia ainda maior... e mais perigoso.
Ele precisava estar preparado. A qualquer momento, o verdadeiro inimigo poderia aparecer.
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Atualizado até capítulo 35
Comments
Taki
Mal posso esperar pelo próximo!
2025-07-23
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