O crepúsculo tingia o céu de tons alaranjados enquanto a mansão Albuquerque se preparava para o jantar com os Martins. O salão de jantar, agora impecável graças ao trabalho incansável de Violeta e Dona Rosa, exibia uma mesa decorada com toalha de linho branco, taças de cristal e arranjos de orquídeas que pareciam gritar riqueza. Violeta, vestida com o uniforme impecável de empregada — avental preto sobre uma blusa branca —, movia-se como uma sombra, garantindo que cada detalhe estivesse perfeito. Mas sua mente estava longe, ainda presa à conversa inesperada com Erick no jardim naquela manhã.
Aquele momento, tão breve, havia plantado uma semente de esperança que ela lutava para arrancar. “Ele só foi educado”, pensava, tentando se convencer. Mas o jeito como ele a olhou, com uma curiosidade que parecia genuína, fazia seu coração teimar em sonhar.
Na cozinha, Dona Rosa notou a filha mais distraída que o usual. — Violeta, cuidado com essas taças, menina! Se quebrar uma, Dona Karen vai ter um ataque — alertou, enquanto temperava o molho para o prato principal.
— Desculpa, mãe — respondeu Violeta, voltando ao presente. Ela segurou a taça com mais firmeza, mas seus olhos traíam a inquietação. Rosa franziu o cenho, mas não disse nada. Conhecia a filha o suficiente para saber que algo a estava consumindo.
No andar de cima, Erick ajustava a gravata diante do espelho de seu quarto. O terno azul-escuro, feito sob medida, caía perfeitamente em seus ombros largos. Ele não estava animado para o jantar. Os Martins eram aliados comerciais importantes, mas a filha deles, Clara, era um teste de paciência. Dona Karen, no entanto, via no jantar uma oportunidade de “consolidar laços”, o que Erick sabia que significava “arranjar um casamento vantajoso”. Ele suspirou, passando a mão pelo cabelo. Por algum motivo, sua mente voltou à imagem de Violeta no jardim, ao jeito como ela respondeu sua pergunta com uma mistura de timidez e ousadia. Havia algo nela que o fazia querer saber mais.
No salão, os Martins chegaram pontualmente, trazendo consigo o ar de quem sabe o poder que carrega. Clara, com um vestido vermelho que gritava por atenção, sorriu para Erick assim que o viu descer as escadas. — Erick, que prazer te ver! — disse ela, com uma doçura ensaiada que o fez disfarçar uma careta com um sorriso educado.
— O prazer é meu, Clara — respondeu ele, apertando a mão dela com cortesia fria. Karen, ao lado, observava com aprovação, alheia ao desconforto do filho.
Enquanto o jantar começava, Violeta servia os pratos com uma discrição treinada, movendo-se entre os convidados como se fosse invisível. Mas, para Erick, ela não era. Ele a observava de relance, notando como suas mãos tremiam levemente ao colocar o prato de sopa à sua frente. Seus olhos se encontraram por um instante, e Violeta corou, desviando o olhar rapidamente. Erick sentiu um calor estranho subir pelo peito, algo que ele não conseguia nomear.
— Erick, querido, conte aos Martins sobre o novo projeto no litoral — sugeriu Karen, puxando a atenção dele de volta à mesa.
Ele pigarreou, forçando-se a focar. — Claro. Estamos desenvolvendo um complexo residencial de alto padrão. Os investidores estão animados — começou, entrando no modo automático de negócios. Mas, enquanto falava, sua mente vagava. Por que Violeta parecia tão nervosa? E por que ele estava tão atento a ela?
Clara, percebendo a distração de Erick, inclinou-se para ele, o sorriso provocador. — Você deve estar tão ocupado, Erick. Mas espero que sobre tempo pra... diversão, não é? — disse, com um tom que insinuava mais do que deveria.
Violeta, que estava recolhendo pratos vazios, ouviu o comentário e sentiu uma pontada de ciúmes que a pegou desprevenida. Ela se repreendeu mentalmente. “Você não tem direito de sentir isso”, pensou, mas o aperto no peito não obedecia.
Mais tarde, quando os convidados já haviam passado para a sobremesa, Violeta voltou à cozinha para buscar o café. Erick, pretextando uma ligação, saiu do salão e, por impulso, seguiu pelo corredor até a área de serviço. Ele a encontrou ali, sozinha, enchendo a cafeteira com mãos que ainda tremiam.
— Tudo bem? — perguntou ele, a voz baixa, quase hesitante.
Violeta virou-se, surpresa, quase derrubando a cafeteira. — Senhor Erick! Eu... sim, tudo bem — gaguejou, o rosto quente. — Só estou terminando aqui.
Ele deu um passo à frente, encostando-se na bancada. — Você parece nervosa. Alguma coisa errada?
A pergunta era tão direta que Violeta não soube o que responder. Seus olhos encontraram os dele, e por um momento, o mundo pareceu parar. Havia uma intensidade naquele olhar que a fazia querer contar tudo — seus sonhos, seus medos, o que sentia por ele. Mas ela se conteve. — Não, senhor. Só o trabalho — mentiu, baixando os olhos.
Erick franziu o cenho, sentindo que havia mais ali. — Você não precisa me chamar de “senhor”. Só Erick tá bom — disse, com um meio sorriso que a desarmou.
Antes que Violeta pudesse responder, a voz de Karen cortou o ar. — Erick? O que você está fazendo aqui? — Ela estava na porta da cozinha, o olhar afiado passando de Erick para Violeta. — Os Martins estão esperando o café.
— Já estou indo, mãe — respondeu Erick, com um tom que escondia uma leve irritação. Ele olhou para Violeta mais uma vez antes de sair, deixando-a com o coração disparado e uma sensação de que algo estava mudando.
Karen, no entanto, ficou parada por um segundo, os olhos fixos em Violeta. Não disse nada, mas seu silêncio era pesado, como uma promessa de que aquela cena não passaria despercebida.
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Atualizado até capítulo 26
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