O Convite

O casal ficou impressionado com a inteligência e educação de Ícaro. Após várias visitas, decidiram levá-lo para morar com eles como um "projeto de ajuda social". Ícaro viu ali sua chance. Não queria só um lar. Queria ser um Valmont.

As visitas da família Valmont ao orfanato se tornaram frequentes. Oficialmente, diziam que era parte de uma campanha de adoção assistida, onde famílias influentes acompanhavam o desenvolvimento de crianças sem lar. Mas, na prática, ficava evidente que os Valmont tinham criado uma conexão real com Ícaro — ou, pelo menos, era o que parecia.

Ícaro, por sua vez, não deixava escapar nenhuma oportunidade de se destacar. A cada nova visita, ele mostrava mais: lia em voz alta trechos de livros, fazia perguntas inteligentes sobre negócios, e até chegou a recitar de memória um poema de Machado de Assis. Ele não estava apenas tentando agradar. Ele estava se vendendo como o produto perfeito. E estava funcionando.

Num domingo ensolarado, a Sra. Helena Valmont pediu para conversar a sós com o diretor do orfanato. A conversa durou quase uma hora. Quando ela saiu da sala, os olhos estavam marejados, e o Sr. Gael, visivelmente desconcertado. Pouco tempo depois, Ícaro foi chamado. Quando entrou na sala, a mulher se ajoelhou na frente dele e disse:

— Ícaro, gostaríamos que você passasse um tempo com a gente. Em casa. Pra ver como se adapta. Sem compromisso, tá bem? Mas acreditamos que você merece uma chance diferente.

Ele não respondeu de imediato. Sua mente fervilhava. Era isso. O começo. Seu plano ganhava forma. Mas por fora, ele apenas assentiu com a cabeça e disse:

— Eu vou fazer valer essa chance.

No dia seguinte, Ícaro arrumou suas poucas roupas numa mochila emprestada. Enquanto os outros meninos observavam com uma mistura de inveja e admiração, ele subiu no carro preto dos Valmont, agora não como um espectador escondido atrás de uma pilastra, mas como passageiro. O motorista sorriu educadamente. Helena e Arthur trocavam olhares esperançosos. E Elisa, no banco de trás, abriu espaço ao lado dela.

— Bem-vindo ao time — disse, com um sorriso. Ícaro não respondeu. Apenas olhou pela janela e viu o orfanato encolher no retrovisor.

Chegar na mansão dos Valmont foi como pousar em outro planeta. O portão automático se abriu lentamente, revelando jardins simétricos, uma fonte com estátuas de mármore e uma fachada de pedra branca que parecia saída de um filme. Ícaro tentava disfarçar o espanto, mas por dentro, era como se seus olhos estivessem devorando cada detalhe: os quadros nas paredes, o piso que brilhava, o cheiro de madeira polida e flores frescas.

— Esse será seu quarto — disse Helena, mostrando uma suíte que parecia maior que todo o dormitório do orfanato.

Ele entrou devagar, tocando o lençol branco, os livros novos sobre a escrivaninha, o armário cheio de roupas sob medida. Não era apenas conforto. Era poder. E agora ele fazia parte disso.

Naquela primeira noite, os Valmont organizaram um jantar em família para celebrar a chegada de Ícaro. Ele foi servido por garçons, provou comidas que não sabia nem pronunciar e ouviu histórias de negócios, viagens e investimentos. Prestava atenção em tudo. Sabia que cada conversa era uma aula. Cada palavra, uma pista.

Arthur Valmont, mais reservado, observava o menino com cautela. Helena, sempre sorridente, tentava quebrar o gelo. E Elisa... bem, Elisa parecia genuinamente feliz com a presença dele. Brincava, fazia perguntas e ria das respostas secas de Ícaro, que ainda mantinha uma certa distância.

Mais tarde, enquanto caminhavam pelo jardim da mansão, Elisa perguntou:

— O que você quer ser quando crescer?

Ícaro respondeu sem hesitar:

— Dono de tudo isso aqui.

Ela achou que era uma piada e riu. Mas Ícaro não riu. Nem piscou.

A menina então olhou de lado, meio desconcertada, e mudou de assunto. Mas aquela frase ficou na cabeça dela.

Na semana seguinte, Ícaro começou a frequentar a escola particular dos Valmont. Tudo era novo: os colegas mimados, os professores exigentes, os horários rigorosos. Mas ele não reclamava. Observava. Absorvia. Anotava. Estava ali por um motivo. E não ia perder o foco.

Para a sociedade, ele era o menino pobre que teve sorte. Para os Valmont, era um experimento social promissor. Para Ícaro, era só o primeiro degrau de uma escada que ele pretendia escalar até o topo.

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