Angela. Não vejo coleira. Para meu espanto, o gato salta aos meus braços; os pelos são tão macios que parecem
seda. — Posso cuidar de você hoje à noite? — sussurrei, mais para mim do que para ele.
Longe dali, em outro lugar, os irmãos conversavam em voz baixa, como quem fala de presas e riscos.
**Peter** — O nosso tigre encontrou uma humana.
**Apolo** — Como assim "encontrou uma humana", para dizer o mínimo?
**Hades** — Acho que foi a humana que o encontrou, não o contrário.
**Peter** — Como esse peludo vai sair dessa?
**Apolo** — Não sei.
**Hades** — Nosso irmão devia investigar a casa, não ficar na casa
de uma humana.
**Apolo** — Ele é como você, meu caro; não resiste a um rabo de saia.
**Hades** — Pelo
menos eu não sou um virgem como você. **Peter** — Parem. Não somos humanos. Talvez por isso gostemos
tanto deles.
**Apolo** — Mas por que ele escolheu ficar pequeno, como um tigre doméstico? Poderia ter sido um
gato qualquer.
**Hades** — Ele é exibido como você, só por isso.
Na casa de Ângela, a rotina era estranhamente doce: preparei uma tigela improvisada, embora não tivesse ração
— faz muito tempo que não tenho um animal de estimação — e coloquei o gato sobre o sofá. Quando fui ao
banho, senti aquela sensação incômoda de estar sendo vigiada. "É coisa da minha cabeça", pensei. Mas não
era: o gato me observava da porta do banheiro, os olhos atentos, quase humanos. — Você está observando? —
perguntei, já de toalha. O felino apenas inclinou a cabeça, curioso, como se me entendesse. Decidi ir dormir.
Nos pensamentos do gato, uma voz rouca e antiga:
**Luiz**. _Luiz_ — É a primeira vez que estou em uma cidade só de humanos. Deveria ter voltado para a grande casa no fim da rua, mas aquele cachorro me atacou.
Poderia ter revelado minha forma verdadeira, mas seria perigoso. Fugindo do cão, entrei no jardim desta humana. Ela é bonita. Gentil. Preciso observar a casa. Vou esperar que durma para sair._
Ele a observa tomar banho; sente na pele o chamado dela, algo que não entende totalmente. A doença matou
muitas fêmeas da nossa espécie — agora somos poucos, e o desespero por fêmeas levou-nos a sequestrar de
outras espécies. Muitos morrem não só pela praga, mas por serem disputadas por vários machos. Os filhotes
nascem em sua maioria machos. Não podemos continuar assim. Para os que não têm fêmea — como eu e meus
irmãos — resta a sombra: somos tigres por horas e homens por breves momentos. As orelhas e a cauda
denunciam-nos.
_Vejo-a tomando banho. Sei que ela sente quando é observada. Ela olha, mas eu vou para o quarto dela. Assim
que pegar no sono, saio._
De volta aos irmãos, a conversa retomou no escuro daquela antiga casa de refúgio. **Peter** — Luiz, como você
está?
**Apolo** — Conseguiu sair da casa da humana?
**Luiz** — Sim. Estou aqui fora.
**Hades** — Conte-nos:
como ela é?
**Luiz** — Quer dizer... a casa ou a humana? **Hades** — As duas.
**Luiz** — Aqui de fora, a casa
é grande e carrega uma energia estranha. Ninguém que morou lá ficou em paz. Já imaginava isso?
**Peter** —Já.
**Luiz** — Por que vamos morar aqui? **Peter** — Só por um tempo. Vamos ver se há mais humanas novas
na região.
**Luiz** — Iremos sequestrar humanas agora?
**Peter** — Não muitas. Mas precisamos garantir a espécie, ou ficaremos tigres para sempre.
**Luiz** — Não podemos mais ficar na forma humana
permanentemente?
**Apolo** — Apenas o ato, o sexo, nos permite transitar entre forma humana e animal.
**Hades** — Ele é o equilíbrio. Sem uma fêmea, nossa fera fica perigosa demais. **Luiz** — E teremos cada um
a sua? Ou teremos que dividir?
**Peter** — Luiz, você sabe como escolhemos: pelos odores da fêmea.
**Hades** — Podemos escolher a mesma ou outras; depende delas.
**Luiz** — Podemos esconder a cauda,
mas as orelhas... não tanto.
**Peter** — Apenas nossas fêmeas — e outros da nossa espécie — conseguem
perceber essas marcas.
_Luiz_ hesitou. — Vou entrar na casa agora. **Hades** — Boa sorte.
_Luiz_ — Por que "boa sorte"?
**Peter** —Sabe por que esta cidade se chama Mistério?
_Luiz_ — Não. Por quê?
**Apolo** — Pessoas desapareceram ou
morreram nessa casa.
_Luiz_ — Como vocês sabem disso? **Apolo** — Nosso pai falou da cidade anos atrás.
A noite avançava e, em Mistério, o silêncio parecia guardar segredos prontos a romper. Luiz, pequeno tigre sem
coleira, escorreu pela rua; Ângela, alheia ao perigo que pulsava tão perto, fechou a porta de casa, sem imaginar que a sombra que a observava não era apenas de um gato.
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Atualizado até capítulo 67
Comments
Gigliolla Maria
tigres gatos que história facinanye
2025-08-30
6