CAPÍTULO 2

📖 CAPÍTULO 2 – A CASA SEM CORAÇÃO ❤️

O silêncio da cobertura era cortante.

Não havia música, não havia vozes, não havia sequer o som de passos. A casa era um espaço de mármore, vidro e vazio — grande demais para o que existia ali dentro: um casamento sem alma e uma mulher que vivia pela metade.

Valentina Monroe havia se casado aos vinte e cinco anos hoje, aos vinte e oito, ela não sabia mais o que era dormir com paz, acordar com carinho ou ouvir uma única frase sincera do homem com quem dividia uma cama — ou pelo menos, o mesmo teto.

A relação com Gavin era o retrato perfeito de uma mentira elegante.

Eles jantavam com políticos e empresários, trocavam sorrisos em frente às câmeras, faziam questão de parecer o casal ideal. Mas quando chegavam em casa, viravam dois estranhos.

Ela dormia de um lado.

Ele dormia do outro.

Às vezes, em quartos separados.

Às vezes, na mesma cama — mas sem se tocarem, como dois corpos em luto.

Valentina já havia tentado consertar.

No início, insistiu em jantares, viagens, conversas.

Tentou terapia de casal.

Tentou lingerie.

Tentou amor.

Mas Gavin sempre mantinha o mesmo tom entediante, frio, prático.

— “Você dramatiza demais.”

— “Tem mulher implorando pra ter o que você tem.”

— “Você quer amor, Valentina? Compra um cachorro.”

Ela parou de tentar.

---

Na empresa, era diferente.

Ali, Valentina era temida.

Vestia preto, falava com firmeza, comandava salas de executivos com um simples olhar.

Era CEO da Monroe Sustainable Developments, a incorporadora verde mais promissora de Nova York.

Mas toda a força que exibia nos corredores era uma armadura.

Quando as luzes se apagavam, ela era só uma menina órfã tentando ser mulher demais para um mundo que só queria usá-la.

No fundo, ainda carregava os traumas que nunca tratou.

A morte dos pais.

A pressão de administrar uma empresa aos 22 anos.

O medo de fracassar.

E o erro de ter confiado no homem errado.

Gavin surgiu quando ela estava no auge da solidão.

---

Ela o conheceu em um congresso de sustentabilidade, pouco depois de ter assumido o controle total da empresa. Estava cansada, sobrecarregada, emocionalmente exausta — e ele surgiu como quem oferece abrigo em meio a uma tempestade.

Era bonito, articulado, educado.

Falava tudo que ela precisava ouvir:

— “Você não tem que carregar tudo sozinha.”

— “Eu admiro o que você faz, Valentina.”

— “Seu pai estaria orgulhoso.”

Ele falava como um homem que entendia.

Como alguém que via mais do que a executiva.

E por um tempo… ela acreditou.

Três meses depois, Gavin a pediu em casamento.

A joia era linda.

O jantar exclusivo no Empire State foi digno de cinema.

Ela disse sim.

Porque não tinha mais ninguém.

Porque estava cansada de ser forte.

Porque queria acreditar que merecia ser amada.

---

Mas o tempo se encarregou de mostrar quem ele era de verdade.

As palavras doces sumiram.

Os toques se tornaram raros.

Os olhares... inexistentes.

Ele não a desejava.

Quando fazia sexo com ela — nas raras vezes — era mecânico.

Levantava sua saia, colocava-a de costas, e a penetrava como quem resolve uma tarefa.

Não dizia “eu te amo”.

Não dizia nada.

Uma vez, ela teve coragem de questionar:

— “Por que você não me toca de verdade?”

Gavin respondeu, sem emoção:

— “Porque você é boa demais pra mim? Ou porque engordou cinco quilos?”

Ela engoliu seco.

Deitou no banheiro.

Chorou sozinha até dormir.

---

Certa noite, depois de uma reunião tensa na empresa, ela tentou conversar.

— “Gavin, a gente não se olha mais.”

— “Isso é casamento, Valentina. Não estamos num filme romântico.”

— “Você não me deseja.”

— “Desejo. Só não preciso ficar babando por você o tempo todo.”

— “Você já me olhou nua e sorriu?”

— “Você quer mesmo que eu responda isso?”

Ela fechou a porta do quarto.

E ele nem foi atrás.

---

A única presença verdadeira em sua vida era Aria.

Aria Thompson. Arquiteta, amiga desde a faculdade.

Linda, ousada, livre.

A única que ousava falar com Valentina como gente — não como símbolo.

— “Você vive como uma boneca de porcelana, amiga.”

— “Não fala isso.”

— “Tô falando porque te amo. Você tá presa num casamento que te apaga. E não faz nada.”

Valentina sempre dava de ombros.

Mas Aria via além. Sempre via.

— “Você precisa fazer algo por você. Qualquer coisa. Quebre uma regra, pinte o cabelo, beije um estranho. Vai pra uma boate. Sei lá.”

— “Eu não sou esse tipo de mulher.”

— “É. Mas deveria ser. Porque essa mulher que você é hoje… vai morrer por dentro se continuar aí.”

Valentina não respondeu.

Mas aquela frase ficou.

---

Naquela noite, deitada sozinha em sua cama enorme, ela olhou para o teto e se perguntou:

*“E se eu continuar assim por mais cinco anos?”*

*“E se essa versão vazia de mim for tudo que me resta?”*

*“E se ninguém nunca me amar de verdade?”*

Ela sentiu os olhos encherem de lágrimas.

E pela primeira vez em muito tempo… deixou que elas caíssem.

Chorou em silêncio.

Sem alarde.

Sem drama.

Apenas como uma mulher que se deu conta de que foi enganada.

E que, pior que ser traída por alguém…

É ser traída por si mesma.

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Comments

Bia 💙🐈‍⬛

Bia 💙🐈‍⬛

tô amando ❤️

2025-07-19

0

Mavia Dantas

Mavia Dantas

tadinha/Cry/

2025-07-19

1

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