LUNA
Se eu achava que sobreviver a um encontro embaraçoso com o CEO era difícil, trabalhar diariamente sob sua supervisão direta estava se mostrando uma verdadeira tortura emocional com toques ocasionais de flerte passivo-agressivo.
Silas Bennett era feito de arrogância, mistério e ternos sob medida.
E eu, aparentemente, era feita de impulsos ruins e zero resistência a covinhas perigosas.
Na manhã de terça-feira, fui convocada para uma apresentação no 22º andar — o andar do “Olimpo”, onde apenas os deuses corporativos tinham acesso.
Claro que eu estava com a blusa errada, o sapato apertado e uma pasta cheia de gráficos que eu mal entendia.
— Luna, você está nervosa? — perguntou Amelie, enquanto caminhávamos juntas até o elevador.
— Não, eu só pareço uma vítima prestes a desmaiar porque... é meu hobby.
Ela riu, apertando o botão do elevador.
— Dizem que ele nunca sorri em reuniões. Que é frio, direto e extremamente controlador.
— Ah, isso eu já vi de perto. — murmurei.
Ela arqueou uma sobrancelha, mas não teve tempo de perguntar mais nada, porque as portas se abriram — e lá estava ele.
Silas.
Em pé no fundo do elevador, sozinho, como um aviso do universo: você ainda não sofreu o bastante.
— Senhor Bennett. — cumprimentou Amelie, educadamente.
Ele apenas assentiu.
Tentei manter a coluna ereta e fingir que o coração não estava batendo até nas costelas.
Assim que ela desceu no andar 17, ele finalmente quebrou o silêncio:
— Gosto quando usa azul.
Meus olhos se arregalaram e minha voz decidiu tirar férias.
Silêncio.
Ele virou-se lentamente para mim, com um pequeno sorriso — quase imperceptível.
— Mas ainda não gosto da forma como você tenta me evitar.
— Talvez eu só esteja tentando manter as coisas... profissionais. — rebati.
— Você pagou para dormir comigo, Harper. Estamos um pouco além do “profissional”.
Corei até a alma.
As portas se abriram no 22º e saí como se minha vida dependesse disso.
Na sala de reuniões, tentei me concentrar nas planilhas, gráficos e orçamentos.
Mas meus olhos teimavam em voltar para ele.
Silas comandava o ambiente com facilidade, mas seu olhar encontrava o meu com frequência desconcertante.
Até que ele decidiu abrir a boca.
— Harper, pode nos explicar esse gráfico aqui? — apontou para uma projeção de lucros futuros.
Me engasguei com minha própria respiração.
— Claro, senhor. — me levantei, pegando o controle. — Este gráfico representa... hum... a nossa... relação.
Silêncio absoluto.
— Relação... com o mercado. — completei rapidamente, tentando salvar minha dignidade.
Ele ergueu uma sobrancelha, claramente se divertindo.
Alguém no fundo da sala tossiu para disfarçar uma risada.
Terminei a apresentação me sentindo uma idiota.
Quando a reunião acabou, fui a primeira a correr para o elevador. Mas ele foi mais rápido.
— Está com medo de mim agora? — ele perguntou, encostado na parede do elevador ao meu lado.
— Não tenho medo de você. Só prefiro manter distância de homens que sabem o valor exato que valho para eles: duzentos dólares.
Ele sorriu.
Maldito.
— Sabe, Harper... estou começando a achar que você vale muito mais do que isso.
Olhei para ele, desconfiada.
— Só estou dizendo... talvez eu tenha feito um péssimo negócio.
— E você quer um reembolso? — rebati, cruzando os braços.
Ele riu — e foi aí que eu vi. O sorriso verdadeiro.
Era perigoso. Quente. Como uma promessa não dita.
— Não, Harper. — ele respondeu. — Acho que quero repetir a compra. Mas dessa vez... com juros.
As portas se abriram e ele saiu como se não tivesse acabado de destruir meu sistema nervoso.
Voltei para minha baia como quem retorna da guerra.
Me joguei na cadeira, sentindo as bochechas ainda queimando e o coração descompassado.
“Repetir a compra. Mas dessa vez com juros.”
Quem fala isso? Que tipo de CEO mistura negócios com piadas indecentes e ainda consegue parecer irresistível?
— Você está bem? — Amelie apareceu de repente com duas canecas de café. — Parece que viu um fantasma.
— Não foi um fantasma. Foi o próprio inferno corporificado num homem de terno cinza.
Ela riu.
— Silas de novo?
— Ele me provoca só pra ver quantas vezes por dia eu consigo considerar cometer assassinato.
— Mas tem uma coisa que você não está considerando — ela sorriu de lado.
— O quê?
— Talvez ele esteja flertando.
— Flertando? Ele basicamente me chamou de produto. De aquisição. De item de luxo em promoção.
— Uau. Se eu ganhasse um dólar por cada vez que um homem me tratasse como um produto, eu já teria comprado minha liberdade, amiga.
— Tô falando sério, Amelie.
Ela se aproximou e sussurrou:
— E eu também. Cuidado com esses olhares. CEO gostoso com histórico misterioso? É o tipo de homem que bagunça a vida da gente e vai embora sem nem fechar a porta.
Eu sabia disso.
E ainda assim... uma parte de mim queria que ele ficasse.
Mais tarde, quando já estava me preparando para ir embora, meu celular vibrou. Uma notificação de e-mail da diretoria:
“Funcionária Luna Harper, favor comparecer à sala do CEO para esclarecimentos sobre o relatório financeiro entregue hoje.”
Claramente uma desculpa.
Claramente ele queria me provocar mais uma vez.
Mas como boa funcionária (e covarde emocional), eu fui.
Subi o elevador tentando me convencer a agir fria, profissional, imune.
Bati na porta. Ele disse “entre” com aquela voz baixa que parecia criada para deixar qualquer mulher em dúvida sobre seus valores morais.
— Senhor Bennett. O senhor me chamou?
Ele estava à mesa, lendo algum relatório. Nem levantou os olhos de imediato.
— Queria te agradecer por não ter desmaiado durante a apresentação de hoje. Eu teria que carregar você, e isso causaria burburinhos desnecessários na empresa.
— Que cavalheiro — murmurei.
Ele finalmente levantou o olhar.
— Está se acostumando com o ambiente?
— O ambiente é ótimo. Algumas figuras dentro dele... nem tanto.
Silêncio. Um daqueles que pesa.
Ele então empurrou um envelope branco na minha direção.
— Isso é para você.
— O quê?
— Pagamento retroativo.
— Do quê?
— Daquele café da manhã que você não teve coragem de pedir depois do nosso... encontro.
Minha garganta secou.
Peguei o envelope, desconfiada. Abri devagar. Dentro, duas notas de cem dólares.
— Tá de brincadeira?
— Considere como um bônus de sobrevivência. Você acordou no meu quarto, nua, viva... e ainda com disposição pra me xingar no elevador. Acho admirável.
Eu respirei fundo.
— Está me testando?
— Talvez.
— E se eu pedir demissão?
Ele sorriu, e foi aí que entendi que ele queria mesmo me desestabilizar.
— Você não vai.
— E por que tem tanta certeza?
— Porque eu ainda não terminei com você.
Meu estômago deu um giro completo.
Eu queria dizer que ele era arrogante, insuportável, imprudente.
Mas as palavras não saíram.
No fim, só consegui lançar um olhar mortal e dizer:
— Da próxima vez que quiser me provocar... escolha outra forma. Essa aqui está começando a me deixar confusa.
— Confusão também é uma forma de interesse, Harper.
E com isso, ele voltou para seus papéis como se não tivesse acabado de jogar mais gasolina na fogueira dos meus sentimentos.
Saí da sala com o envelope nas mãos e a cabeça girando.
Talvez eu devesse mesmo pedir demissão.
Ou arrumar um novo emprego.
Ou... sei lá... um exorcismo.
Mas no fundo, eu sabia que não ia fazer nada disso.
Porque a parte mais perigosa da atração é quando ela começa a parecer inevitável.
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Atualizado até capítulo 65
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