Capítulo 2

LUNA

O café da recepção estava morno, e o sabor era tão amargo quanto a lembrança daquela manhã. Fazia três dias desde... aquilo. Desde que acordei no apartamento de um estranho, sem roupas, sem memória e com vergonha enfiada até os ossos.

Ou melhor, não tão estranho assim.

Silas.

Aquele nome ainda ecoava na minha mente como uma provocação. Eu tinha me enganado sobre ele. Acusei. Fugi. Deixei um rastro de constrangimento no ar e desapareci sem olhar para trás.

Agora, aqui estava eu. Sentada na minha estação de trabalho, respondendo e-mails com um nó na garganta, tentando parecer uma adulta funcional.

— Luna, você viu o aviso no grupo? — sussurrou Amelie, minha colega de mesa, inclinando-se em minha direção.

— Que aviso?

— Novo CEO. Chega hoje. Reunião geral no auditório em quinze minutos. Disseram que o presidente do conselho trouxe ele de fora. Totalmente inesperado. Um recomeço pra empresa.

Suspirei, apoiando o queixo na mão.

Novo CEO. Grande coisa. O último ficou seis meses e desapareceu após um escândalo envolvendo viagens superfaturadas.

A empresa precisava mesmo de um recomeço.

Terminei meu café, fechei o notebook e segui com os outros funcionários para o auditório. Estava lotado. Murmúrios enchiam o ar como nuvens de fumaça — todos curiosos, empolgados, e como sempre, julgadores.

Sentei na ponta de uma das fileiras, cruzando as pernas e tentando parecer minimamente interessada.

O presidente da empresa, Sr. Hamilton, subiu ao palco com aquele seu sorriso institucional e voz embargada de falsa empolgação.

— Bom dia a todos! — disse, batendo palmas. — Obrigado por virem. Hoje damos início a um novo capítulo. Alguém com ideias ousadas, visão de longo prazo e um histórico impecável foi escolhido para liderar a HudsonTech nesta nova era. Sem mais delongas, gostaria que dessem as boas-vindas ao novo CEO...

O mundo desacelerou.

Minha pele arrepiou antes mesmo de ouvir o nome.

— ...Silas Bennett.

Minha espinha congelou.

Não. Não, não, não.

Meus olhos se arregalaram e, como em câmera lenta, vi Silas subindo os degraus do palco com aquele andar confiante e tranquilo.

Terno escuro, cabelo bem penteado, olhar focado.

O mesmo rosto que vi sobre mim naquela noite.

A mesma voz que me disse, com firmeza, que não tinha me tocado.

O mesmo homem que eu acusei de ser... um prostituto.

Ele pegou o microfone, olhou para a plateia e sorriu com serenidade. Os aplausos ecoaram, mas eu só conseguia ouvir a batida frenética do meu coração.

Ele não me viu.

Não ainda.

— É uma honra estar aqui. Sei que mudanças podem gerar resistência, mas quero que saibam que estou aqui para construir, não destruir. Respeito o que essa empresa representa. — Sua voz era firme, clara. — Meu objetivo é elevar o que temos de melhor, e consertar o que precisa de coragem para ser corrigido.

Algumas pessoas bateram palmas, impressionadas com o discurso breve e objetivo.

Eu, por outro lado, tentava enfiar meu corpo dentro da poltrona.

Ele olhou novamente para o público. Percorreu a sala com o olhar.

E então... ele me viu.

Nossos olhos se encontraram.

Meu estômago revirou.

Não houve hesitação no rosto dele. Nenhuma surpresa. Apenas uma sobrancelha ligeiramente arqueada. E um sorrisinho quase imperceptível. Quase sarcástico.

— Espero que todos estejam dispostos a escrever esse novo capítulo comigo. Inclusive... velhos conhecidos. — Ele disse, sem desviar os olhos de mim.

Quase engasguei.

O desgraçado estava se divertindo com aquilo.

Quando a reunião terminou, tentei escapar discretamente, mas, claro, fui convocada à sala de reunião do 16º andar com mais alguns funcionários. O tipo de "bate-papo estratégico" para os departamentos-chave.

E lá estava ele de novo, agora mais próximo. Mais real.

Quando todos se sentaram, ele começou a falar sobre metas, equipes, reestruturação. Seu tom era profissional, direto. Mas sempre que nossos olhos se cruzavam — e isso aconteceu mais do que eu gostaria — havia algo ali.

Alguma coisa entre sarcasmo e provocação.

Quando tudo acabou, ele se aproximou da porta... e a trancou.

Fiquei sozinha com ele.

Me virei devagar, sentindo o sangue fugir do rosto.

— Você não pediu demissão ainda. — Ele disse, sem rodeios.

— Não vejo por que deveria.

Ele sorriu. Um sorriso perigoso.

— Porque trabalhar para alguém que você acusou de cobrar por sexo deve ser desconfortável.

Engoli em seco.

— Eu já pedi desculpas.

— Ah, pediu? Engraçado... não lembro de ouvir isso.

— Silas...

— Sr. Bennett. — Ele me corrigiu, o olhar frio.

Fechei os olhos, frustrada.

— Me desculpe. Eu estava confusa, vulnerável. Achei que tinha... acontecido algo. Você me salvou. E eu te acusei. Foi horrível. Mas, por favor, não me mande embora.

Silas me observou em silêncio. Seu olhar parecia atravessar minhas defesas.

— Eu não vou te demitir, Luna. — Disse, por fim.

Meus ombros relaxaram.

— Mas... — ele se aproximou, ficando perigosamente perto — eu adoraria saber como pretende me compensar por isso.

— Compensar?

— Claro. Você me chamou de prostituto, ignorou que eu te salvei, fugiu como se eu fosse um criminoso e agora está aqui... me chamando de chefe. Acho que estou em posição de exigir, no mínimo... um pedido de desculpas digno.

— Já pedi.

— Quero um que pareça verdadeiro.

— Como seria isso, exatamente?

— Isso... — ele sorriu — vou te mostrar depois.

Ele destrancou a porta e saiu, deixando no ar um cheiro suave de colônia e a certeza de que aquele emprego... nunca mais seria o mesmo.

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Comments

Danielle Pereira

Danielle Pereira

q vergonha 🤣🤣😂😂😂🙄🙄🙄essa mulher passar mico e vergonha alheia 🤭🤭🤭🤭🤭🤪

2025-07-17

0

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