Capítulo 04

A porta da mansão se abriu de repente, revelando Nathan com um sorriso largo no rosto e o pequeno Pingo nos braços.

Nathan: Olha quem tá aqui! Fiz todos os exames, o veterinário disse que foi só um susto. Nada preso, sem ferimentos… só preciso cuidar melhor do que deixo no chão. Esse danado tem mais energia do que juízo!

Ele colocou o cachorro no chão, e Pingo saiu correndo, animado, pelas salas da casa, farejando tudo como se fosse a primeira vez.

Nathan caminhou até Camila no sofá, sentada, mexendo nos dedos como se tentasse acalmar os pensamentos.

Nathan: Camila? Tá tudo bem? Você tá com uma cara…

Camila ergueu os olhos, com um semblante triste.

Camila: A Helena… não vai mais trabalhar com a gente.

Nathan: Como assim? Ela não quis ficar?

Perguntou surpreso.

Camila: Não foi isso. Ela tava empolgada… ia ficar, sim. Mas… algumas coisas aconteceram.

Nathan já ficou desconfiado.

Nathan: Foi o meu pai, não foi?

Camila hesitou. Respirou fundo e desviou o olhar, querendo evitar o conflito.

Camila: Eu acho melhor você não—

Mas antes que pudesse completar, a voz de Ethan ecoou pelo corredor.

Ethan: O que aquele cachorro tava fazendo no meu escritório?

Ethan apareceu, com os passos firmes, ajustando a manga da camisa. O tom era seco e impaciente. Mas, ao ver Nathan parado ali, com o semblante duro, sua expressão mudou ligeiramente.

Ethan: Filho… você voltou.

Nathan deu um passo para trás, defensivo. Ethan tentou se aproximar, mas o filho recuou novamente.

Ethan: Que bom te ver em casa de novo. Tá tudo bem com você? Podemos conversar?

Ele disse com o tom de voz mais suave que tinha. Nathan foi direto.

Nathan: O que foi que você fez pra Helena desistir de trabalhar aqui?

Ethan franze a testa.

Ethan: Como é que é? Quem é Helena?

Nathan: A irmã do Ricardo. A mulher que salvou o Pingo hoje cedo. Ela ia trabalhar aqui. Agora a Camila tá me dizendo que ela desistiu. Pai, eu conheço você. O que foi que você fez?

Ethan respirou fundo e passou a mão pelos cabelos, irritado com a acusação.

Ethan: Ela é irmã do Ricardo, e eu já deixei claro que não permito parentes de funcionários trabalhando aqui. Isso evita confusão. A Camila sabia disso.

Nathan exaltou a voz.

Nathan: Você sabia que ela tava precisando! Ela salvou o meu cachorro, e você não consegue ver nada além das suas regras idiotas! Eu tava até pensando em conversar com você, em tentar alguma aproximação, mas você só pensa em você!

Ethan respondeu tentando manter o controle.

Ethan: O que é que eu fiz de tão grave dessa vez, hein? Por que eu sou sempre o egoísta da história?

Nathan: Porque você é! Porque a Helena apareceu aqui, fez o bem, e você foi um grosso! Como sempre. Nada vai voltar a ser bom nessa casa, não enquanto você estiver controlando tudo com esse punho de ferro!

Nathan se virou de costas.

Nathan: Vem, Pingo!

O cachorro correu atrás dele. Nathan subiu as escadas sem olhar para trás.

Ethan ficou parado por um momento. Camila, sentindo o peso da tensão, ergueu as mãos.

Camila: Eu não falei nada. Juro.

E saiu, indo direto pra cozinha.

Ethan passou a mão pelo rosto, respirou fundo duas vezes e andou até o escritório. Entrou e fechou a porta atrás de si com um estalo seco.

No silêncio do escritório, Ethan caminhava de um lado para o outro, irritado com tudo — principalmente consigo mesmo. Pegou o celular e discou o número de Ricardo.

Chamou. Uma vez. Duas. Três.

Nada.

Tentou de novo, apertando com força o aparelho contra a orelha. Nada.

Resmungou baixinho, guardou o celular no bolso e pegou um pequeno caderno de couro em sua gaveta. Com frieza meticulosa, folheou até encontrar o endereço de Ricardo. Em poucos minutos, seu carro estava pronto à porta, guiado por outro motorista.

Ethan: Vamos. Quero chegar rápido.

Enquanto isso, no apartamento de Ricardo…

Helena estava sentada na sala, ajeitando as almofadas. Ricardo e Vanessa se arrumavam para uma festa de aniversário.

Ricardo: Tem certeza que não quer ir com a gente, Helena? Vai ser bom, distrair a cabeça.

Helena: Tenho sim, irmão. Prefiro ficar por aqui mesmo. Tô bem.

Ela diz com um sorriso fraco.

Vanessa: Olha, não se preocupa. Se não aconteceu hoje, é porque não era pra ser. Tudo tem seu tempo. Tenho certeza que você vai conseguir um emprego fixo, e bem melhor do que aquele.

Helena sorriu, agradecendo o carinho dos dois.

Helena: Se divirtam, viu? Aproveitem a festa por mim.

Pouco depois que eles saíram, Helena se jogou no sofá, ligou a televisão e tentou distrair a cabeça. Mas sua atenção era interrompida quando o telefone fixo tocou.

Ela atendeu, surpresa.

Porteiro: Boa noite, senhora. Tem um homem aqui na portaria. Diz que se chama Ethan. Está procurando o senhor Ricardo. Já informei que ele não está, mas o homem insiste. Disse que é urgente. Se Ricardo não estiver, pode ser com outra pessoa.

Helena sentiu o estômago gelar. Seu pensamento foi imediato.

“Ethan? O patrão do meu irmão? Não é possível…”

Ficou muda por alguns segundos, sem saber o que dizer.

Porteiro: Senhora? Posso liberar ou não?

Helena: P-pode sim… Pode liberar.

Ela disse com a voz trêmula.

Ela desligou a televisão, correu até o espelho, arrumou o cabelo às pressas, respirou fundo e tentou parecer o mais tranquila possível.

A campainha tocou em segundos.

Ao abrir a porta, lá estava ele. Ethan Leblanc. O homem que ela menos esperava ver ali.

Helena não pensa duas vezes e diz:

Helena: Por favor… não demita o meu irmão.

Ethan a encarou, sério, impassível por alguns segundos.

Ethan: Você não vai me convidar pra entrar?

Helena ficou sem jeito.

Helena: Claro. Entra, por favor.

Ela deu espaço, e Ethan passou por ela, entrando com aquele porte elegante e tenso. Helena fechou a porta e o convidou a sentar no sofá.

Ela mesma sentou, bem afastada, nervosa, os olhos já marejando.

Helena: Olha, senhor Ethan, eu sei que não devia ter ficado no seu quarto. Eu juro que só tava procurando um interruptor. Eu me sei que fiz mal… Mas, por favor… Não demite meu irmão… Ele não tem culpa de nada, trabalha com o senhor faz anos…

Ela falava rápido, tentando explicar tudo de uma vez, como se tivesse medo de não ter tempo.

Ethan a interrompeu com a voz firme, mas sem rispidez.

Ethan: Eu não vim aqui pra demitir ninguém, Helena.

Ela silenciou. Olhou pra ele, confusa.

Helena: Então… por quê…?

Ethan: Vim pedir desculpas e também que você aceite o trabalho. A vaga ainda é sua. Se quiser.

Helena ficou em choque. Por um instante, pensou que tinha escutado errado.

Helena: O quê?

Ethan: É isso mesmo. Eu quero que você trabalhe lá em casa. Conversei com a Camila, soube que você salvou o cachorro do meu filho. E ele… gostou muito de você. Achei que seria justo te dar a chance que você merece.

Helena respirou fundo. Estava surpresa, confusa, aliviada.

Ficou apenas olhando pra ele, tentando entender se aquilo era real.

Ethan: Então? Você aceita?

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