Luiza
Já se passaram algumas semanas desde a minha primeira consulta. Estou seguindo o protocolo certinho. Tomando os medicamentos todos os dias, nos horários certos, sem esquecer uma única dose. Os comprimidos de ácido fólico, os hormônios, as vitaminas... Tudo conforme o médico explicou. Também fiz os exames que ele pediu — ultrassons para acompanhar o crescimento dos folículos, exames hormonais para ver como meu corpo está respondendo.
E a verdade é que já sinto mudanças. Meus seios estão mais sensíveis, sinto uma leve cólica em alguns dias, um inchaço no abdômen... Coisas sutis, mas perceptíveis. É estranho como o corpo reage a tudo. O doutor disse que era normal, que era um sinal de que meu organismo estava se preparando.
Hoje é o grande dia. O dia da inseminação.
Saí de casa cedo, com o coração na boca. A nona queria vir comigo, mas uma encomenda grande de doces chegou de última hora e ela precisou cuidar da entrega. Me abraçou forte antes de sair, como se transferisse a força dela pra mim.
— Vai lá, minha bambina. Hoje é o dia que tua vida começa a mudar.
Peguei o ônibus com a coragem nas mãos. Cheguei na clínica com o coração acelerado, fui até a recepção e dei meu nome. Mas a moça mal levantou os olhos do celular. Estava rindo de algo que via na tela e, com descaso, pegou minha ficha e pediu que eu preenchesse os papéis. Respirei fundo, tentando não deixar a irritação estragar o momento. Entreguei os documentos e segui para a sala de espera.
Assim que entrei, meus olhos se encontraram com os dele.
Os mesmos olhos cor de mel que eu vi da outra vez. O mesmo homem lindo, alto, com aquele ar elegante e tranquilo. Ele me olhou também, por um instante, mas logo desviamos os olhares, quase como se fosse um reflexo. Me sentei rápido, tentando parecer desinteressada. “Para de olhar, Luiza! Vai que a mulher dele percebe”, pensei.
Logo em seguida, ele foi chamado junto com aquela mulher que sempre o acompanha — provavelmente a esposa, ou talvez a mãe do bebê que eles vão gerar juntos. Sei lá. Quando vi que saíram, tentei me acalmar. Poucos minutos depois, chamaram meu nome também.
Era agora. Não tinha mais volta.
Enzo
Hoje é o dia. Estou uma pilha de ansiedade. Mal dormi à noite, e nem o café me ajudou a acordar direito. Estou me dividindo entre os plantões no hospital, as visitas ao orfanato, os relatórios das vinícolas e, claro, os exames e consultas da Betina.
Ela já fez tudo: exames hormonais, ultrassons, avaliação uterina, testes genéticos. Está tudo pronto. Hoje faremos a inseminação.
Chegamos cedo à clínica. Enquanto aguardávamos na sala de espera, meus olhos vagaram automaticamente pela entrada. E lá estava ela. Aquela mulher de olhos firmes e beleza tranquila. A mesma de antes.
Ela parecia um pouco mais nervosa, com os ombros tensos e passos hesitantes. Quando nossos olhos se cruzaram por um instante, senti de novo aquela coisa estranha no peito. Ela desviou o olhar logo em seguida e foi se sentar sozinha. Mas ficou ali, na minha cabeça.
Logo fomos chamados. Betina me cutucou no braço e riu:
— Tá no mundo da lua, doutor?
— Nada — menti. — Vamos.
Seguimos para o consultório.
Consultório da Betina
Dr. Pietro nos recebeu com um sorriso. Betina se sentou na cadeira ao lado e eu fiquei em pé, observando todo o processo.
— Prontos? — perguntou o médico, animado.
— Mais que prontos! — respondeu Betina, com o entusiasmo de sempre.
O doutor explicou como tudo aconteceria. A inseminação era intrauterina, o que significava que ele introduziria o sêmen diretamente no útero dela com a ajuda de um cateter, no momento ideal do ciclo.
A enfermeira entrou com a amostra em uma pequena cápsula identificada. Havia todo um protocolo de segurança — etiquetas, confirmação de nomes, códigos. Betina confirmou os dados, assinou os papéis, e o procedimento começou.
Durou apenas alguns minutos. Betina ficou deitada, em repouso, com um sorriso no rosto.
— Agora é torcer — disse o doutor.
— A esperança já está aqui — respondi.
Saímos da sala em silêncio, com o coração leve.
Consultório da Luiza
Do outro lado do corredor, outra enfermeira recebia uma nova ficha.
Luiza foi levada para uma sala semelhante. O médico do plantão a recebeu com gentileza, confirmou seus dados, revisou o prontuário.
— Tudo pronto para a inseminação, Luiza?
Ela assentiu, nervosa. Assinou os formulários.
Outra cápsula foi trazida, com identificação semelhante. Só que, por um erro quase imperceptível, a amostra estava trocada. Aquela era a destinada à Betina. Mas a atendente, distraída no celular, não viu que houve confusão na ordem dos códigos. Os tubos foram trocados na bandeja de transporte.
O médico seguiu o protocolo normalmente, sem desconfiar. Luiza recebeu a inseminação acreditando estar gerando seu filho com material genético anônimo, como havia solicitado.
Terminou o procedimento com lágrimas nos olhos.
— Obrigada, doutor.
— A vida começa com coragem. E você tem de sobra — respondeu ele.
Luiza permaneceu em repouso, o coração batendo acelerado, sem imaginar o que acabara de acontecer.
Sala de Arquivo Médico — Minutos Depois
A enfermeira responsável voltou para o setor e notou algo estranho nas fichas. As etiquetas dos tubos pareciam ter sido trocadas na sequência, mas não havia mais como comprovar sem testes laboratoriais. Os tubos haviam sido utilizados. A supervisora foi avisada, mas decidiu não alarmar ninguém por ora.
— Pode ter sido só uma inversão de papéis. Se houver algo errado, descobriremos depois. Por enquanto, mantenha sigilo.
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Atualizado até capítulo 52
Comments
Kelly Val
essa frase foi inspiradora (mas me senti como um Mike Tyson forte para lutar e morder uma orelha 👂, melhor imaginar outra coisa 🫣)
2025-07-26
0
Naninha Oliveira da Rocha
Eitaaa, ñ fez o serviço direito, mais sua distração vai gerar um bb no qual futuramente os pais tbm provavelmente se tornaram a família 👪 feliz.
2025-07-10
1