05

“Não faço ideia.”

“O que ele faz para viver?”

“Trabalhava com finanças. Aí ele perdeu o emprego e nós gastamos todas as nossas economias, inclusive o seguro de vida da minha mãe. Aí ele começou a fazer uns telefonemas. Ficava me dizendo que tudo ia dar certo em breve. Que ele tinha um plano.”

“Não lhe contaria qual era o plano?”

Balanço a cabeça. "Só que tudo ia acontecer em um mês. Disse que estaríamos ricos ou mortos até lá. Pelos meus cálculos, seja lá o que for, vai acontecer daqui a umas duas semanas."

"Me faz pensar se foi algo ilegal. Assaltar um banco, talvez?"

“Ele não tem uma arma e por que haveria um prazo para esse tipo de coisa?”

"Não sei, estou só dando palpites." Ela aponta em direção à porta. "O Nigel veio se juntar a nós."

O Sr. Harris acaba de entrar, com passos instáveis ao nos ver e se dirige direto para a nossa mesa. Fico tensa instintivamente, apertando o copo com mais força.

"Ora, ora, se não são minhas camareiras favoritas", ele diz arrastado, a voz alta o suficiente para atrair olhares curiosos das mesas próximas. "Pensei em encontrar vocês duas aqui. Estamos ocupadas, não é? Só que ainda tenho aquelas regras para repassar com você, Bella. Tem certeza de que não quer jantar comigo?"

Lily me lança um olhar compreensivo, sua postura sutilmente se transformando em uma postura protetora. "Sua esposa vem com a gente, Nigel?"

O Sr. Harris afunda na cadeira vazia à nossa frente, seu olhar oscilando entre Lily e eu com uma intensidade inquietante. "Ela está em casa com as crianças", responde ele suavemente, com um sorriso irônico nos lábios. "Me dá bastante tempo para conversar com vocês duas, adoráveis senhoras, sobre suas chances de promoção."

Resisto à vontade de revirar os olhos, minha paciência se esgotando. Penso no emprego, em como ele poderia me demitir rapidamente se quisesse.

"Chega de papo furado", retruca Lily, com a voz carregada de frustração mal disfarçada. "O que você quer? Você quer nós duas, é isso?" Ela mantém uma expressão de flerte. "Acha que consegue lidar com nós duas ao mesmo tempo?"

Sua expressão muda. "Claro que posso." Ele se inclina para a frente, conspiratório, com o hálito cheirando a álcool. "Eu poderia ajudar vocês dois a irem longe neste negócio", acrescenta em voz baixa, as palavras transbordando insinuações. "Conheço todos os caras importantes."

Meu maxilar se contrai, meus dedos se fecham em punhos sobre a mesa. "Aposto que sim", responde Lily com a voz rouca. "Vou te dizer uma coisa. Volte para o seu escritório e tire a roupa. Vamos ver o que podemos encontrar para limpar depois que terminarmos nossas bebidas, certo?"

"Seriamente?"

"Vai lá, grandão." Ela manda um beijo para ele, piscando ostensivamente.

"Nossa, que merda, ótimo. Certo." Ele parece não acreditar na sua sorte, correndo em direção à porta sem olhar para trás.

Lily sorri para mim. "Quanto tempo vai demorar para ele perceber que não vamos?"

Balanço a cabeça. "Ele pode demitir nós dois por isso."

"Ele não conta a ninguém. Está com vergonha de saber que pegamos uma. É assim que se lida com os homens, Bella. Você os manipula antes que eles façam isso com você."

“Ótimos conselhos de vida.”

“Caramba, está uma briga de cão por aí.”

"Lily", murmuro, minha voz revelando minha ansiedade. "E se ele me demitir?"

Lily estende a mão sobre a mesa e aperta a minha, tranquilizando-a. "Ele não vai", insiste ela com firmeza, seus olhos encontrando os meus com uma determinação inabalável. "Confie em mim."

Antes que ela possa dizer mais alguma coisa, um movimento me chama a atenção — uma figura sombria no canto se inclina para a frente, me observando atentamente. É ele — o hóspede misterioso, sua presença pairando como uma sentinela silenciosa no bar mal iluminado.

"Ele está aqui", digo a Lily, com a voz carregada de desconforto enquanto encontro seu olhar através da sala lotada.

Lily olha, a curiosidade brilhando em seus olhos. "Ele?", ela sussurra, aproximando-se. "É o cara que eu vi no saguão. Um filho da puta gostoso, não é?"

“Esse é o cara da sala. 1207.”

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