A solidão de Emily
A claridade suave do quarto invadiu lentamente os olhos de Emília. Ela piscou, confusa, com a cabeça latejando e o corpo mole como se tivesse sido atropelada por uma tempestade.
Tentou se levantar, mas uma tontura a empurrou de volta para os lençóis.
Vicente:Finalmente acordou. — disse uma voz fria, firme, carregada de desprezo.
Ela virou o rosto. Vicente estava parado à porta, com os braços cruzados e o semblante duro como pedra.
Emilly :O que... aconteceu...? — sussurrou.
Ele riu seco. Um riso sem humor, sem alma.
Vicente:Você desmaiou. Que surpresa, não é? Fuça onde não deve, age como se essa casa fosse sua... e ainda tem a audácia de desmaiar como uma criança mimada.
Emílly arregalou os olhos. Tentou falar, mas ele já havia se aproximado.
Vicente:Você é burra, Emília. Burra e imprudente. Eu te dou um teto, comida, segurança… e o que você faz? Vai direto ao quarto mais proibido desta casa. Você tem noção do que poderia ter causado?
Emilly :Eu só queria entender… — ela murmurou, sentindo os olhos se encherem de lágrimas.
Vicente:Entender?! — ele rosnou. — Você não tem direito de entender nada! Você não faz parte dessa história. Você foi empurrada pra cá por causa das dívidas do seu pai, lembra? Você é um incômodo temporário, nada além disso.
As palavras atingiram como navalhas. Frias. Precisamente cruéis.
Emília apertou os olhos com força. Tentava conter as lágrimas, mas o peito doía.
Emilly:Por que você me odeia tanto...? — sussurrou.
Vicente virou o rosto. Por um segundo, a mandíbula dele trincou. Mas quando respondeu, a voz já estava mais baixa — só que ainda cruel:
Emilly:Porque você me lembra tudo o que eu perdi.
E tudo o que eu não posso mais ter.
Emilly não respondeu. Apenas se virou de costas para ele, sentindo o coração esmagado dentro do peito.
Vicente ficou parado ali por mais alguns segundos. Respirou fundo... e saiu, batendo a porta atrás de si.
Sozinha no quarto, Emília finalmente chorou.
Mas não como antes.
Dessa vez, ela chorou em silêncio. Com raiva. Com dor. Com um nó na garganta que dizia:
“Eu não pedi por isso. Eu não merecia isso.”
E pela primeira vez...
pensou seriamente em ir embora.
Mesmo que isso custasse sua liberdade.
Mesmo que isso custasse a sua vida.
semanas depois...
Os dias seguintes se arrastaram como um inverno sem fim.
Desde a última conversa — ou melhor, os gritos de Vicente — Emília não saía mais do quarto.
A comida era deixada na porta e voltava intocada. As janelas permaneciam fechadas. As cortinas também.
Ali, naquele quarto enorme e silencioso, ela se sentia menor do que nunca.
A mente de Emília era um redemoinho.
As palavras dele ecoavam em cada canto.
💬"Você é um incômodo temporário."
"💬Você é burra."
"💬Você não faz parte disso."
E por mais que ela tentasse convencer a si mesma de que não devia dar importância, não conseguia. Era como se tudo aquilo estivesse se impregnando na pele. Como se o peso daquela rejeição se tornasse insuportável.
E foi aí que veio o impulso.
Sozinha no banheiro, olhando para o próprio reflexo, ela sentiu algo apertar no peito.
Raiva. Tristeza. Culpa. Vazio.
Tudo misturado.
Ela abriu o armário debaixo da pia. Havia ali uma lâmina de depilar esquecida entre alguns frascos. Ela pegou com mãos trêmulas, olhando para aquilo como se fosse um escape. Uma forma de calar o grito interno.
Mas antes que encostasse na pele, alguém bateu forte na porta.
Eloise:Emília! — era Helena. A voz fina, aflita. — Por favor, abre... eu tô com medo...
O som da menina atravessou a bolha escura na qual Emília estava.
Eloise :Emília? Por favor... Pietro tá gritando com a babá, e eu não gosto quando eles gritam...
A jovem respirou com dificuldade. As lágrimas começaram a escorrer sem controle.
Ela largou a lâmina na pia. E caiu de joelhos.
Naquele momento, não foi um adulto, nem Vicente, nem nenhum gesto heroico que a salvou.
Foi a voz de uma criança, chamando por ela com medo.
Foi a lembrança de um abraço apertado enquanto coloriam o chão com desenhos tortos.
Foi o simples fato de perceber... que alguém precisava dela ali.
Emília abriu a porta com os olhos vermelhos, o rosto molhado, e viu Helena de pé no corredor com um travesseiro nos braços.
Eloise:Eu posso dormir com você hoje? — perguntou a menina baixinho.
Emília apenas assentiu. Helena entrou, deitou na cama e segurou sua mão, como se já soubesse.
E pela primeira vez em dias, Emília sentiu que talvez ainda houvesse um motivo pra continuar vivendo
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Atualizado até capítulo 36
Comments
Fatima Maria
EITA QUE É MESMO ASSIM QUE DEUS DÁ LIVRAMENTO E CHEGA NA HORA. DEUS É BOM.
2025-08-28
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kanaikocho
Perfeito 👌
2025-07-05
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