O dia seguinte amanheceu nublado em Paris, com uma brisa suave que varria as folhas pelas calçadas de pedra. Camila acordou cedo no pequeno hotel boutique onde estava hospedada, com os pensamentos ainda embaralhados pelas emoções do dia anterior. Sentia como se estivesse vivendo dentro de um sonho, daqueles que não queremos acordar. A cidade era mesmo linda, mas Gabriel... Gabriel fazia tudo parecer ainda mais vivo, mais intenso, mais real.
Enquanto preparava um café na pequena cafeteira do quarto, olhou pela janela e sorriu. Pensava no passeio, nas conversas, nos silêncios que falavam mais que palavras. Aquela conexão não era uma ilusão passageira, ela sentia isso no corpo todo. E ainda assim, havia perguntas que a rodeavam: estaria se deixando levar rápido demais? Seria ele alguém que realmente deseja recomeçar, ou apenas alguém ainda preso ao passado?
Do outro lado da cidade, Gabriel também despertava cedo. O céu nublado combinava com o clima introspectivo que ele carregava naquele dia. Depois do passeio com Camila, sentiu algo que não sentia havia muito tempo: vontade de começar de novo. Mas junto com isso, vieram as lembranças de Sofia, sua esposa, falecida num acidente de carro três anos antes. Era estranho como, mesmo após tanto tempo, a dor ainda morava ali, silenciosa, à espreita. Mas Camila tinha mexido com algo profundo nele. Tinha reacendido uma esperança que ele já havia enterrado sob quilômetros de voo e solidão.
Pegou o celular e digitou, sem pensar muito:
“Bom dia, Camila. O céu está nublado hoje, mas Paris continua convidativa. Topa um passeio pela margem do Sena?”
Camila respondeu quase de imediato:
“Com você, até se chover vale a pena.”
Duas horas depois, estavam caminhando lado a lado pelo calçadão que margeava o rio Sena. A cidade parecia envolta em uma névoa romântica. As águas calmas refletiam as pontes antigas e os barcos turísticos que deslizavam lentamente. Passaram por músicos de rua, vendedores de flores, artistas desenhando retratos.
Gabriel observava Camila com atenção. Ela tinha um jeito leve de existir, como se dançasse por dentro mesmo quando caminhava. E ele começava a se dar conta de que estar ao lado dela não o fazia esquecer Sofia — mas o fazia lembrar que ainda era capaz de sentir, de sorrir, de viver.
— Você parece distante hoje — comentou ela, parando por um instante ao lado de uma ponte.
— Estou tentando organizar algumas memórias — respondeu, sincero. — Estar com você me faz pensar em tudo o que vivi... e no que ainda posso viver.
Camila o olhou nos olhos, sentindo o peso e a verdade por trás das palavras. Era a primeira vez que ele falava com tanta clareza sobre seus sentimentos. E ela sabia que não podia apressar nada.
— Não quero substituir ninguém, Gabriel. Nem apagar nada. Só quero que, se você estiver pronto, me permita caminhar ao seu lado daqui pra frente. Sem pressa. Sem medo.
Gabriel sorriu. Um sorriso cheio de gratidão.
— Acho que é exatamente disso que eu preciso, Camila. Alguém que caminhe comigo... e me ajude a voltar a enxergar a vida com os olhos abertos.
Continuaram andando, agora em silêncio, mas de mãos dadas. Não precisavam de muitas palavras naquele momento. Os passos lado a lado diziam tudo. Paris, com suas margens tranquilas e sua beleza clássica, era o palco perfeito para aquele começo inesperado.
A ponte que cruzavam naquele instante chamava-se Pont des Arts — conhecida por ser a ponte dos apaixonados. Casais do mundo todo prendiam ali cadeados com seus nomes, jogando a chave no rio como promessa de amor eterno. Camila parou, encantada.
— Você já veio aqui com ela? — perguntou com cuidado.
Gabriel assentiu, mas completou:
— Nunca coloquei um cadeado. Mas hoje... acho que poderia ser diferente.
Ela sorriu, emocionada. E ali, sem cerimônia, sem grandes palavras, ele tirou do bolso um pequeno cadeado que havia comprado no caminho. Escreveu as iniciais dos dois com uma caneta. “C & G”.
— A gente não sabe até onde isso vai, Camila... Mas se depender de mim, eu quero descobrir.
Ela o abraçou. Forte. Sentida. Verdadeira.
E naquele momento, mesmo sem beijos ou promessas ousadas, algo se selava entre eles. Um laço. Um recomeço. Um amor que, embora ainda em voo, começava a se aproximar do seu destino.
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Atualizado até capítulo 40
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