O aroma do café recém-passado se misturava ao som de passos apressados e risos abafados no pequeno café da Rue Saint-Honoré, um cantinho parisiense charmoso onde Camila decidira começar sua manhã. Tinha chegado no dia anterior e, depois de uma noite mal dormida por conta da ansiedade, finalmente estava pronta para explorar a cidade — e, quem sabe, entender o que se passava em seu próprio coração.
Sentada à mesa da janela, com o laptop aberto e o caderno de anotações ao lado, Camila tentava se concentrar no roteiro da matéria que precisava escrever para a revista. Más, a cada cinco linhas, sua mente voava de volta ao cartão que repousava em sua bolsa. Gabriel Santana. Um nome que surgira como um raio em céu limpo, alterando sua bússola emocional.
Ela pegou o cartão mais uma vez, passando os dedos sobre o nome como se aquele gesto pudesse decifrar o homem por trás da farda. O encontro no aeroporto parecia ter saído de um filme romântico — mas era real. E mais do que real: tinha deixado uma marca. Será que ele havia falado aquilo por educação? Ou sentira o mesmo arrepio que ela?
Camila hesitou por longos minutos, olhando para a tela do celular. Respirou fundo, reuniu a coragem e escreveu:
“Bonjour, comandante. Camila por aqui. Paris está linda, mas admito que fiquei com a impressão de que algumas paisagens só ficam completas com boa companhia. Ainda disposto a mostrar o que há de melhor por aqui?”
Olhou a mensagem por mais alguns segundos antes de apertar "enviar". Quando o fez, sentiu como se tivesse pulado de paraquedas sem saber ao certo onde aterrissaria. Era ousado, talvez impulsivo, mas era sincero.
Não demorou muito para que a resposta viesse. Curta. Direta. E suficiente para fazer seu coração disparar:
“Bonjour, mademoiselle. Estou a cinco quadras de onde você está. Café ou passeio?”
Camila sorriu. Não o sorriso educado que costumava dar em situações formais, mas um sorriso inteiro, daqueles que nascem de dentro. Ela respondeu:
“Passeio. Surpreenda-me.”
Quarenta minutos depois, Gabriel a encontrou na porta do café. Sem o uniforme, vestia uma camisa de linho clara, calça jeans escura e um relógio discreto. Era quase outro homem, mas os olhos... os olhos mantinham o mesmo brilho calmo que tanto a intrigava.
— Está pronta para ver Paris com olhos novos? — perguntou ele, estendendo a mão em um gesto cortês.
Ela a segurou, sentindo uma conexão imediata.
— Com você como guia, acho que sim.
Caminharam pelas ruas antigas, passando por livrarias, pequenas galerias de arte e jardins escondidos entre construções seculares. Gabriel mostrava lugares que os turistas raramente conheciam. Sabia histórias de cada ruela, de cada prédio que resistira ao tempo. Camila, encantada, não sabia o que mais a impressionava — a cidade ou o homem ao seu lado.
— Como você conhece tanto de Paris? — perguntou ela, quando pararam à sombra de uma árvore no Jardim de Luxemburgo.
— Vivi aqui por um tempo, logo no início da minha carreira. Minha esposa era apaixonada por essa cidade... — ele disse com a voz um pouco mais baixa, os olhos perdidos no horizonte por um instante.
Camila percebeu a mudança de tom e respeitou o silêncio. Era como se, naquele instante, Gabriel tivesse deixado uma porta entreaberta para que ela visse um pedaço de sua dor. E ela, em vez de recuar, sentiu vontade de entrar com cuidado.
— Imagino que Paris tenha muitas memórias para você — disse, sem julgamento, apenas com empatia.
— Tem. E agora, com você aqui... talvez novas memórias possam nascer — respondeu ele, virando-se para encará-la.
Os olhos dele buscavam algo nos dela — talvez permissão, talvez cumplicidade. Camila sentiu o ar mudar ao redor. O som dos pássaros, o murmúrio da fonte próxima, o calor do sol filtrado pelas folhas. Tudo se tornou pano de fundo para aquele instante.
Não se beijaram. Ainda não. Mas havia algo mais forte que um beijo ali — havia a promessa. A promessa de que a história deles estava apenas começando.
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Atualizado até capítulo 40
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