No oitavo dia, uma notificação soou nos alto-falantes do apartamento:
“Relatório Semanal:
Desempenho do Casal #4.”
Luna correu até a televisão de tela fina, ainda com espuma de sabonete nos braços. Isadora, de cabelo curto bagunçado e expressão cética, apareceu na sala com uma caneca de chá.
O telão exibiu:
Casal Luna & Isadora – Semana 1
Engajamento: 🔥🔥🔥
Comentários do público:
...“Elas vão se matar antes do casamento.”...
...“O melhor casal é o que mais briga.”...
...“Lunadora é real e ninguém pode negar!”...
...“É química ou é vontade de bater uma na outra?”...
👩❤️💋👩 Fã-clube criado: Lunadora (2.3 mil seguidores)
Status atual: EM RISCO DE ELIMINAÇÃO — baixo índice de afeto nas dinâmicas.
🔔 Atenção: o casal será convidado a uma conversa off por 20 minutos sem câmeras. Aproveitem bem.
A tela se apagou.
O silêncio foi preenchido pelo som de Luna... rindo.
— “Lunadora”! Eu adorei! Tem uma vibe tipo casal pop coreano, não acha?
Isadora revirou os olhos tão forte que quase viu a nuca.
— Você tá focando no nome do fã-clube? Sério? A gente tá em risco de sair do programa!
— Ai, relaxa, Isadora. Tá tudo sob controle.
— Sob controle? — Isa cruzou os braços, já no modo advogada-pronta-para-o-julgamento. — O público acha que a gente vai se agredir, e a produção basicamente nos deu um ultimato com cara de reunião de casal tóxico.
Luna deu de ombros, sentando no sofá com o ar de quem já planejava hashtags.
— Eu não posso sair. Ainda não. Preciso ir pra final. O alcance disso aqui pode salvar minha carreira, abrir portas, conseguir contrato com marca grande... e claro, o prêmio.
Isadora a encarou, séria.
— Eu também não posso sair. Tô afundada em dívidas. Se eu sair daqui sem os 250 mil, vou passar os próximos cinco anos pagando a burrada de confiar em gente errada.
Luna olhou pra ela com algo que não era exatamente empatia, mas era o mais próximo que ela chegava disso.
— Então... a gente finge.
— Isso. Vamos tentar ser mais carinhosas — disse Isa, com a praticidade de quem está montando um plano jurídico, não uma relação amorosa.
— Carinho fake? Ok. Mas vamos com tudo então. Que tal a gente se beijar?
Isadora arqueou uma sobrancelha.
— Só perto da final.
— Ok, Isadora. — Luna sorriu. — Mas vai acontecer. E o público vai surtar.
— Se surtarem com um nome de fã-clube bobo, imagina com um beijo.
As duas se encaram.
Pela primeira vez... cúmplices.
O jogo tinha mudado.
Elas não eram amigas.
Não eram apaixonadas.
Mas agora... eram aliadas.
E isso, naquele palco enfeitado de corações e contratos, podia ser mais perigoso do que qualquer paixão real.
A noite caiu sobre o apartamento 04 como um véu de seda.
Na sala, a luz azulada da TV piscava entre almofadas empilhadas, taças de vinho e uma tigela de pipoca gourmet que nenhuma das duas havia tocado.
Era o momento da “atividade de casal”.
O filme, escolhido pela produção, era um clichê romântico: duas mulheres que se odiavam até se apaixonarem. Ironia? Talvez. Ou provocação calculada.
Luna estava vestida com um short de cetim e uma blusa larga que escorregava perigosamente de um dos ombros. Os cabelos longos estavam soltos, e a tatuagem na clavícula parecia chamar a câmera de volta para ela, como se sussurrasse algo sujo.
Isadora, de moletom escuro, cabelo curto ainda úmido do banho e expressão contida, fingia atenção no filme, mas seus olhos traíam o incômodo.
E o desejo.
A certa altura, Luna se ajeitou no sofá, aproximando o corpo do de Isadora até encostar levemente os joelhos.
Como quem não quer nada.
Como quem quer tudo.
Sem dizer uma palavra, passou os dedos pelo cabelo curto de Isa, deslizando suavemente entre os fios.
Um carinho lento. Quase íntimo.
Isadora não recuou.
Pelo contrário.
Respirou fundo, fechou os olhos... e deitou a cabeça no colo de Luna.
Deixou-se ficar ali.
Silenciosa. Rígida no começo. Mas aos poucos… entregue.
A sala estava silenciosa, exceto pelo som abafado do filme e pela respiração das duas.
Então, Luna se inclinou, colou os lábios no ouvido de Isa e sussurrou:
— É tudo parte do plano…
Isa sorriu de canto.
— Eu sei. Mas não tá tão ruim assim.
As câmeras registraram o momento como se fosse real.
Ou talvez tenha sido.
O filme acabou e elas foram dormir na mesma cama.
Não por obrigação — todas as câmeras tinham captado a intimidade do sofá.
A tensão não foi embora.
Pelo contrário: se deitou com elas.
De costas uma para a outra, corpos separados por travesseiros estratégicos e o peso de tudo que não diziam.
Mas em algum momento da madrugada, sem ninguém ver, Luna virou de lado.
E Isadora, no sono inquieto, virou também.
E por um instante... os joelhos se tocaram.
Só por um instante.
O sol mal tinha nascido quando Isadora se levantou, não dormiu bem essa noite pensando no prêmio e quis fazer algo diferente para conquistar os fãs.
Ainda de pijama, calçou as pantufas e foi até a cozinha.
— Tudo em nome do prêmio — murmurou para si mesma, enquanto untava o pão integral.
Colocou suco de laranja fresco, granola, morangos cortados em formato de coração, e duas torradas.
Esqueceu o requeijão light.
Ou talvez... não tenha esquecido.
Levou a bandeja até o quarto com um sorriso tímido e ensaiado.
— Café da manhã de diva.
Luna abriu os olhos devagar, piscando contra a luz suave da manhã.
Sentou na cama, sorriu ao ver a bandeja, pegou a torrada…
E parou.
— Cadê o requeijão?
— Geleia de frutas vermelhas. Orgânica.
— Eu não pedi geleia. Eu pedi requeijão light, Isadora.
— A produção não vai medir calorias, Luna.
— Não é a produção. É o meu corpo. Eu sou modelo. Se eu aparecer com o rosto mais cheio em um único frame, o público vai dizer que eu relaxei. A minha imagem é meu trabalho.
— E a minha paciência é meu limite. Quer o requeijão? Vai lá buscar.
— Tá tentando me sabotar? Me deixar gorda?
— Ah, claro. Porque meu plano secreto é destruir sua carreira com laticínios calóricos.
Luna jogou a torrada de volta no prato com um suspiro dramático.
— Isso não é um relacionamento. É uma tortura gourmet.
Isadora deu as costas.
— Isso é atuação. Se quiser ganhar, começa a fingir melhor.
NO AR: LUNADORA EM CHAMAS
A câmera captou o final da cena.
O prato de café na cama. A torrada largada.
O olhar atravessado de uma. O silêncio hostil da outra.
E o público?
Explodindo em comentários:
...“Elas brigam até com comida, eu AMO!”...
...“Lunadora servindo tudo e mais um pouco.”...
...“Esse casal vai do carinho ao caos em 3 segundos.”...
E talvez... fosse exatamente esse o plano.
Ou talvez... fosse o começo do caos real.
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Atualizado até capítulo 53
Comments
Maria Andrade
parece que eu estou vendo uma cena de último
2025-07-15
1
Leslie
Elas fingem tão bem kkkkk
2025-07-07
0
Maria Andrade
ultimato
2025-07-15
0