As luzes do restaurante do hotel eram mornas, douradas como vinho branco sob o pôr do sol. Um violino tocava ao fundo, tentando criar o clima romântico que a produção tanto desejava.
Mas havia uma guerra fria prestes a estourar na mesa número cinco.
Isadora chegou pontualmente, como sempre. Vestia um macacão de alfaiataria preto e discreto, o cabelo impecável. Sentou-se com a postura ereta, mãos no colo, olhos atentos.
Luna, por outro lado, apareceu dez minutos depois, com um sorriso debochado e um vestido curto com brilho nos lugares certos. O salto estalava no piso como se ela estivesse entrando numa passarela. Sentou-se de lado, cruzando as pernas devagar, deixando a câmera pegar o melhor ângulo.
— Atrasada — comentou Isadora, com a voz neutra.
— Você percebeu? Achei que estivesse entretida contando as taças de cristal — rebateu Luna, pegando o cardápio como se não se importasse. Mas importava. E como.
O garçom deixou um vinho na mesa. Desafio do dia: “Encontro romântico com conversa íntima”. A produção queria emoção. Ia conseguir discórdia.
— Vamos começar com algo simples — disse Isa, tentando seguir o roteiro da produção. — O que você gosta de fazer no tempo livre?
— Festas. Baladas. Shows. Gosto de sentir a vida pulsando, sabe? — respondeu Luna, sorrindo e servindo o vinho. — E você? Deixa eu adivinhar... chá, livros e playlist de piano?
— Leituras profundas, músicas que me fazem pensar. O contrário de barulho sem propósito — respondeu ela, com um sorriso que cortava. — Gosto de controle, de silêncio. De profundidade.
Luna ergueu uma sobrancelha, entediada.
— Parece emocionante. Deve ser ótimo dormir na primeira página.
— E deve ser incrível não conseguir manter a atenção em mais de duas frases.
O garçom apareceu no meio da tensão. Sorriu sem graça. Serviu as entradas. Saiu rapidamente.
— Eu não vim aqui pra ser diminuída — disse Luna, mais séria, agora.
— E eu não vim aqui pra lidar com alguém que vive de imagem — Isa rebateu. — Isso aqui é um reality, não um desfile.
— Pra você é só dinheiro, né?
— E pra você, é só se mostrar.
O silêncio que caiu entre elas era denso, cheio de coisas não ditas e julgamentos lançados como farpas.
Mas os olhos... os olhos contavam outra história.
Era ódio, sim. Era provocação, também. Mas havia algo naquele embate — um fogo incômodo, quente demais pra ser ignorado.
As câmeras captaram cada segundo.
O público surtou.
...(confessionário):...
🎥 Câmera fechada em Luna.
— Ela me tira do sério. Com aquele jeitinho de “eu sei de tudo”, como se ser organizada fosse algum tipo de superpoder. Eu só queria... dar um susto nela. Tipo, quebrar essa muralha.
🎥 Câmera fechada em Isadora.
— Ela é tudo o que eu desprezo. Superficial, inconsequente. Mas... é estranhamente magnética. E isso me irrita mais do que tudo.
O clique da porta soando quando elas entram no quarto soa quase como um aviso: cautela, isso pode explodir.
Isadora entra primeiro, os passos firmes, o rosto impassível.
Luna vem atrás, tirando os brincos e jogando-os no criado-mudo com descaso.
— Que ótimo encontro — Isadora diz, já abrindo o armário com força contida. — Super romântico. Um sucesso.
— Ah, sim — rebate Luna, jogando os saltos no chão. — Do jeitinho que você gosta: sem risadas, sem bebida, só críticas gratuitas. Uma delícia.
— Alguém precisava colocar limites. Você fala como se fosse o centro do mundo.
— Eu sou o centro do meu mundo. E olha... até que é um lugar divertido de viver — responde Luna, puxando o zíper do vestido com uma sensualidade involuntária.
Isadora revira os olhos. — Sabe, é engraçado. Você posa como se fosse liberdade em forma de pessoa, mas eu nunca vi alguém tão desesperada por aprovação.
Luna para. Vira devagar.
— E eu nunca vi alguém tão medrosa quanto você. Toda dura, toda controlada... deve ser horrível nunca se permitir sentir.
— Eu sinto. Só não ajo como uma adolescente bêbada.
— Uau. Que elogio maduro. Me deixa até com vontade de discutir sobre Proust.
— Você sabe quem é Proust?
— Não. Mas aposto que ele não era tão chato quanto você.
Isadora suspira alto. Vai até a cama, pega seu travesseiro e caminha até o sofá.
— Não acredito que vai dormir separada por causa de uma DR de gosto musical — diz Luna, cruzando os braços.
— Estou me protegendo do seu ego. Ele ocupa metade da cama — responde Isa, já se deitando com uma manta fina.
Luna bufa, se joga na cama com o robe ainda amarrado na cintura. Encarando o teto por alguns segundos, ela murmura, só para provocar:
— Sabe o que é pior? No fundo, você gosta quando eu mexo com você.
— No fundo, eu estou me perguntando se 500 mil reais valem a pena.
— Valem. Eu sou quase divertida quando você para de ser tão... juíza do universo.
— E você quase faz sentido quando cala a boca.
As duas se viram de costas uma para a outra. Uma no sofá. Outra na cama.
O silêncio que se instala não é pacífico — é tenso, carregado de pensamentos não ditos.
E mesmo assim, há um sorriso torto nos lábios de ambas. Porque, apesar das farpas...
... aquilo está longe de ser o fim.
Na verdade, é só o começo.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 53
Comments
Leslie
Você está adorando ela pode confessar
2025-07-07
0
Leslie
Elas se odeiam /Chuckle/
2025-07-07
0
Leslie
Isso é amor luna
2025-07-07
0